Filme de Yto Barrada na Coleção do CAM
A viver entre Tanger e Nova Iorque – onde tem atualmente um projeto em apresentação no MoMA –, Yto Barrada (Paris, 1971) expõe regularmente desde 2001. Cofundadora da Cinémathèque de Tanger em 2006, a artista participou na Bienal de Veneza em 2007, tendo sido nomeada, em 2016, para o Prix Marcel Duchamp. Artista multidisciplinar, Yto Barrada explora diferentes meios, como a fotografia, o filme, a pintura, a escultura, a instalação e o livro, num trabalho que se tem centrado numa aproximação à História (ou aos seus vazios), nas relações sociais coloniais e na descolonialidade, na memória individual, nas narrativas familiares e na linguagem não verbal.
Em 2019, a artista desenvolveu, para o Espaço Projeto no edifício do Centro de Arte Moderna, uma exposição intitulada Moi je suis la langue et vous êtes les dents [Eu sou a língua, vós os dentes], título retirado de uma anotação encontrada num dos cadernos da etnóloga Thérèse Rivière, que em 1934 partiu para a Argélia para estudar a etnia Chaouias nas montanhas do Aurès. A exposição construi-se a partir da pesquisa e do interesse da artista pela figura histórica de Thérèse Rivière – vida (trágica) e obra (esquecida) –, entrelaçando na história as narrativas da sua própria família, dando voz a outras mulheres, à sua avó e à sua mãe.
Originalmente encomendada pela Performa 17 – Afroglossia, a obra Tree Identification for Beginners foi apresentada pela primeira vez em Nova Iorque, em novembro de 2017. Numa introdução para principiantes à árvore genealógica da artista, o filme é um relato biográfico da mãe nos seus anos de estudante socialista, durante uma viagem pelos Estados Unidos da América em 1966, a convite de um programa de propaganda dirigido a estudantes africanos, patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA. Esta viagem de descoberta pessoal acontece num momento em que emergem os movimentos pela descolonização, pelos direitos civis, do Pan-Africanismo ou do black power.
A obra associa animação stop-motion de jogos pedagógicos Montessori e símbolos gramaticais com descrições de viagem da mãe e narrações dos organizadores do programa sobre as suas expectativas relativamente às atitudes e aos comportamentos dos africanos. As imagens não documentam, mas dão a ver, em movimento constante, o fazer e o desfazer de jogos de encaixe, de tabuleiros e de grelhas para formas e cores. São jogos para crianças onde se vêm encaixar os jogos de poder e as estratégias de resistência.