«O Rosto Mudo»
Em 2017, entre 31 de maio e 27 de outubro, realizou-se a exposição Graça Morais. La violence et la grâce na Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França. Dedicada à obra de Graça Morais, esta exposição explorou a relação dos seus trabalhos com a literatura, em particular com poetas e escritores que a inspiraram e se inspiraram na sua obra, como Agustina Bessa-Luís, Miguel Torga e Sophia de Mello Breyner. Esta relação com a poesia surgiu de um conjunto de desenhos da artista, trabalhos que refletem a sua própria história de vida.
No conjunto de obras expostas, maioritariamente desenhos, Graça Morais aborda um tema comum na sua obra: a relação entre a natureza e o indivíduo, que se revela em figuras antropomórficas, muitas vezes ainda em processo de metamorfose. A figura feminina é, no entanto, um elemento constante na obra da artista, que evoca com frequência as mulheres da aldeia onde cresceu e os seus labores no campo.
Numa outra dimensão destes rostos que habitam a obra de Graça Morais, reconhece-se também uma outra realidade, a do medo, da fome, da fuga e da guerra. São rostos de mulheres e de homens que a artista encontra nas notícias e cujo sofrimento transporta para a sua obra, imagens que nos assombram diariamente – especialmente nos tempos que correm. Em O Rosto Mudo, desenho de 2016, deixa de haver um tema ou um corpo reconhecível, o rosto que nos aparece já não tem identidade ou género, pode ser qualquer um de nós.
Este desenho de grandes dimensões encontrava-se na última sala da exposição, em grande destaque, tendo sido ainda capa do catálogo dedicado à mostra. Entra agora para a Coleção do CAM, por doação da artista, juntando-se a um conjunto de obras relevantes do percurso artístico de Graça Morais.