CAM em Movimento. Maria Lusitano, «Modern Woman», 2005

Programa «CAM em Movimento» / 2.º Ciclo Vídeos

No âmbito do programa «CAM em Movimento», e apresentada num contentor instalado no Jardim Gulbenkian, a obra de Ana Vidigal integra-se na segunda mostra de vídeos da coleção do CAM dedicado à condição feminina. Nela, a artista conta a história de uma mulher portuguesa “moderna” que procura escapar à monotonia do quotidiano.

Em 2021, entre confinamentos e o definitivo encerramento do edifício do Centro de Arte Moderna (CAM) – para obras que visam reconfigurar a área expositiva e criar um novo jardim aberto ao público, num projeto do arquiteto Kengo Kuma (Japão, 1954) – o CAM iniciou um «programa fora de portas» intitulado «CAM em Movimento».  

Gerado num momento de transição e guiado pelo desejo de uma arte mais democrática e feita para as pessoas, este novo ciclo sustenta o seu modelo na espontaneidade, reunindo uma programação capaz de suscitar a curiosidade do público através da invasão da paisagem comum e da tentativa de disrupção do quotidiano na cidade. A partir de um exercício de experimentação e reflexão, pretende-se questionar criticamente a instituição, explorando o leque de possibilidades, papéis e funções a adotar no presente e no futuro, em contexto local, nacional e internacional.  

Para Benjamin Weil, novo diretor do CAM desde dezembro de 2020, estes são os elementos fundadores do programa. Nesse sentido, a instituição conseguiria cumprir os seus objetivos se durante o período do fecho conseguisse alargar a sua área de influência para lá do perímetro da Fundação Calouste Gulbenkian, procurando relacionar-se com outros públicos que, por uma ou outra razão, habitualmente se escusam a interagir com a arte (Conversa on-line: Alargar e diversificar geografias, nov. 2021).

Afinal, para o novo diretor do CAM, a obra do edifício oferece à instituição «uma oportunidade (…) [de] se reinventar e construir um futuro dinâmico, criar e estreitar laços de colaboração com outras áreas da Fundação, e explorar novos modos de se dar a conhecer e de atrair novos públicos» aproximando-os da arte contemporânea (Cruz, Expresso, 20 dez. 2020). Como admitiu numa entrevista dada aos jornalistas da RTP (15 out 2021), a instituição quis aproveitar a situação de exceção para «estender a mão aos visitantes», permitindo que a experiência da arte faça parte da vida quotidiana de todos».

Em outubro de 2021, o programa inaugural do «CAM em Movimento» incluiu várias iniciativas. A escultura de Miguel Palma (1694) Cemiterra-Geraterra (1991) viajou até Loures para ser instalada no Parque Quinta dos Remédios, na Bobadela. Os artistas Didier Fiúza Faustino (1968) e Fernanda Fragateiro (1962) intervieram no exterior das carruagens dos comboios da CP das linhas de Sintra e de Cascais, respetivamente. Vinte e quatro obras da Coleção do Centro de Arte Moderna viajaram até à Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, para a exposição «Coleção de Arte Britânica do CAM». O ilustrador António Jorge Gonçalves iniciou o projeto de desenho para os tapumes que circundavam o perímetro das obras do edifício do CAM, que viria a inaugurar em novembro. Um contentor de carga e transporte de mercadorias foi instalado no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, para servir de sala de projeção de vídeos da Coleção do CAM, ao qual, mais tarde, e até final de 2022, se juntariam outros contentores espalhados pela cidade para acolher novos projetos artísticos site-specific, como o de Rui Toscano na praça do Centro Comercial Fonte Nova, Carlos Bunga na Praça do Comércio e António Pedro no Parque da Bela Vista em Chelas, um projeto desenvolvido em colaboração com os moradores desse bairro.

Para Benjamim Weil, a criação de uma sala de projeção dentro de um contentor marítimo colocado no meio de um jardim, era um acontecimento inusitado. No entanto, seguia a linha do programa «CAM em Movimento», favorecendo o encontro com a arte em locais onde este seria, à partida, inesperado.

Entre outubro de 2021 e o final de 2022, o contentor recebeu quatro ciclos de vídeos. Sem exceção, as obras exibidas no contentor marítimo do Jardim Gulbenkian pertenciam à coleção do CAM. O primeiro entre eles, que ocorreu entre 15 de outubro de 2021 e 10 janeiro de 2022, foi dedicado a questões políticas e sociais como a solidão e a guerra, tendo a paisagem e a natureza como cenários de fundo. Contou com obras de João Onofre (1976), Lida Abdul (1973), Pedro Barateiro (1979) e Fernando José Pereira (1961) e curadoria de Patrícia Rosas e Rita Albergaria.

O segundo ciclo ocorreu entre 11 de janeiro e 3 de maio de 2022, e permitia refletir acerca da condição feminina, da angústia e da solidão, do prazer ou mesmo das questões de género, através das obras de Vasco Araújo (1975), Ana Vidigal (1960), Maria Lusitano (1971) e Gabriel Abrantes (1984).

Se Mulheres d´Apolo (2010), de Vasco Araújo, conta o trágico destino das mulheres de Tróia, Domingo à Tarde (2000), de Ana Vidigal, e Modern Woman (2015), de Maria Lusitano, inventam soluções para escapar à monotonia do quotidiano da mulher. The Brief History of Princess X (2016), o último vídeo do ciclo, narra com humor a história de como foi criada a famosa escultura fálica Princess X, de Constantin Brancusi, um dos artistas mais reconhecidos do século XX.

O terceiro vídeo apresentado no contentor instalado no Jardim da Fundação Gulbenkian, no âmbito do segundo ciclo de vídeos, foi Modern Woman, 2016, de Maria Lusitano (Col. Cam, Inv. 16IM76), um vídeo-colagem realizada a partir de uma seleção de imagens de revistas de atualidade e de moda das décadas de 1950 e 160: ElleVogueMarie ClaireLife. Este vídeo de 17 minutos, com cor, som, foi adquirido pela Fundação Calouste Gulbenkian a 16 de dezembro de 2016.

Maria Lusitano conta a história de uma mulher portuguesa “moderna” em meados do século XX, «que procura escapar à monotonia do quotidiano, refugiando-se nas imagens e nas histórias publicadas nestas revistas, que ilustram o seu dia-a-dia e alimentam a sua imaginação, influenciando a sua vida diária. O filme entrelaça momentos da sua biografia com notícias do mundo, como a devastação da Europa após a Segunda Guerra Mundial, examinando de que forma a imprensa impulsionou a disseminação dos valores de uma sociedade moderna que levaram ao início do feminismo em Portugal.» (Maria Lusitano. Modern Woman, 2020)

Embora integrada na programação do «CAM em Movimento», amplamente divulgada pelos meios de comunicação social, a divulgação do segundo ciclo de vídeos e da iniciativa em causa, não teve registos críticos na imprensa que a destacassem em particular. Para uma contextualização do «CAM em Movimento» nos meios de comunicação social, consultar, por exemplo, a crítica de Luísa Santos na Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 01-02-03, 2022), as menções em artigos nas revistas Time Out (Moreira, Time Out, 19 out. 2021) e Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 nov. 2021). Para as peças nos programas de rádio e de televisão ver Jornal da Noite (SIC, 15 out. 2021), As Horas Extraordinárias (RTP3, 29 out. 2021) e Portugal em Direto (RTP1, 3 nov. 2021).

Dada a natureza e condições do espaço de apresentação dos vídeos — um contentor marítimo de livre circulação — não se realizou relatório de exposição, questionário ao público — no que diz respeito ao grau de satisfação pela visita —, ou contagem do número de visitantes. 

[A versão final do texto científico, assinada por Madalena Galvão Telles, será disponibilizada no final de janeiro de 2024].


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Modern Woman

Maria Lusitano (1971-)

Modern Woman, 2005 / Inv. 16IM76


Material Gráfico


Fotografias

Frame do vídeo de Maria Lusitano, «Modern Woman», 2005 (Col. CAM, Inv. 16IM76)
Frame do vídeo de Maria Lusitano, «Modern Woman», 2005 (Col. CAM, Inv. 16IM76)
Frame do vídeo de Maria Lusitano, «Modern Woman», 2005 (Col. CAM, Inv. 16IM76)
Frame do vídeo de Maria Lusitano, «Modern Woman», 2005 (Col. CAM, Inv. 16IM76)

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