Rui Toscano. «Music Is the Healing Force of the Universe #4», 2021 – 2022

Programa «CAM em Movimento»

No âmbito do programa «CAM em Movimento», Rui Toscano foi um dos primeiros artistas a serem convidados para realizar uma instalação a partir de um contentor instalado na cidade. A sua proposta resultou numa escultura com som, inaugurada na praça do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica.

Em 2021, entre confinamentos e o definitivo encerramento do edifício do Centro de Arte Moderna (CAM) – para obras que visam reconfigurar a área expositiva e criar um novo jardim aberto ao público, num projeto do arquiteto Kengo Kuma (Japão, 1954) – o CAM iniciou um «programa fora de portas» intitulado «CAM em Movimento».  

Gerado num momento de transição e guiado pelo desejo de uma arte mais democrática e feita para as pessoas, este novo ciclo sustenta o seu modelo na espontaneidade, reunindo uma programação capaz de suscitar a curiosidade do público através da invasão da paisagem comum e da tentativa de disrupção do quotidiano na cidade. A partir de um exercício de experimentação e reflexão, pretende-se questionar criticamente a instituição, explorando o leque de possibilidades, papéis e funções a adotar no presente e no futuro, em contexto local, nacional e internacional.  

Para Benjamin Weil, novo diretor do CAM desde dezembro de 2020, estes são os elementos fundadores do programa. Nesse sentido, a instituição conseguiria cumprir os seus objetivos se durante o período do fecho conseguisse alargar a sua área de influência para lá do perímetro da Fundação Calouste Gulbenkian, procurando relacionar-se com outros públicos que, por uma ou outra razão, habitualmente se escusam a interagir com a arte (Conversa on-line: Alargar e diversificar geografias, nov. 2021).

Afinal, para o novo diretor do CAM, a obra do edifício oferece à instituição «uma oportunidade (…) [de] se reinventar e construir um futuro dinâmico, criar e estreitar laços de colaboração com outras áreas da Fundação, e explorar novos modos de se dar a conhecer e de atrair novos públicos» aproximando-os da arte contemporânea (Cruz, Expresso, 20 dez. 2020). Como admitiu numa entrevista dada aos jornalistas da RTP (15 out 2021), a instituição quis aproveitar a situação de exceção para «estender a mão aos visitantes», permitindo que a experiência da arte faça parte da vida quotidiana de todos».

Em outubro de 2021, o programa inaugural do «CAM em Movimento» incluiu várias iniciativas. A escultura de Miguel Palma (1694) Cemiterra-Geraterra (1991) viajou até Loures para ser instalada no Parque Quinta dos Remédios, na Bobadela. Os artistas Didier Fiúza Faustino (1968) e Fernanda Fragateiro (1962) intervieram no exterior das carruagens dos comboios da CP das linhas de Sintra e de Cascais, respetivamente. Vinte e quatro obras da Coleção do Centro de Arte Moderna viajaram até à Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, para a exposição «Coleção de Arte Britânica do CAM». O ilustrador António Jorge Gonçalves iniciou o projeto de desenho para os tapumes que circundavam o perímetro das obras do edifício do CAM, que viria a inaugurar em novembro. Um contentor de carga e transporte de mercadorias foi instalado no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, para servir de sala de projeção de vídeos da Coleção do CAM, ao qual, mais tarde, e até final de 2022, se juntariam outros contentores espalhados pela cidade para acolher novos projetos artísticos site-specific.

Carlos Bunga (1976, Porto) e Rui Toscano (1970, Lisboa) foram os primeiros artistas a ser convidados pelo CAM e a 3 de fevereiro inauguravam duas instalações site-specific em Lisboa: «Home» (2002), de Carlos Bunga, junto à estação fluvial do Terreiro do Paço, e «Music Is the Healing Force of the Universe #4 (2021-2022) de Rui Toscano, um contentor instalado na praça do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica.

Sobre esta última obra, a curadora e investigadora Luísa Santos, escreve num artigo publicado na edição online da revista Contemporânea (jan-mar 2022), intitulado «Os museus do futuro, o futuro dos museus – o mais extenso e expressivo artigo de reflexão crítica publicado até à data sobre esta iniciativa do CAM em Movimento:

«O contentor marítimo na praça do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica, tem um efeito quase hipnótico, pela luz emitida por Music Is the Healing Force of the Universe #4, um projeto inédito de Rui Toscano. A escultura junta-se a outras obras de Rui Toscano, na continuação de uma investigação e de um corpo de trabalhado iniciados há mais de uma década, sobre os significados dos modos como conhecemos e compreendemos o espaço cósmico (The Great Curve, no Espaço Chiado 8, em 2009; Out of a Singularity, em 2010, La Grande Aventura dello Spazio, em 2013, e Eu Sou o Cosmos, em 2018, na Galeria Cristina Guerra; Journey Beyond the Stars, em 2015, na Travessa da Ermida; Civilizações de Tipo I, II e III no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e no Centro Internacional das Artes José de Guimarães, em 2016). O fascínio pela imensidão do cosmos e pela ambição humana de explorá-lo e entendê-lo é central no corpo de trabalho que Rui Toscano tem vindo a desenhar. Music Is the Healing Force of the Universe #4 tem como inspiração uma pintura de uma peça de cerâmica da Grécia Antiga, na qual podemos ver o deus Dionísio a tocar uma lira rodeado por dois sátiros que dançam e agitam castanholas. Dionísio, um dos filhos de Zeus, reúne em si o cosmos e o caos, a eternidade e o tempo, a razão e a loucura. A música a que se refere a escultura — a que tem a força reparadora do Universo — não é suave e harmoniosa, mas tão forte quanto caótica.»

Para uma contextualização do «CAM em Movimento» nos meios de comunicação social, consultar, por exemplo, a crítica de Luísa Santos na Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 01-02-03, 2022), as menções em artigos nas revistas Time Out (Moreira, Time Out, 19 out. 2021) e Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 nov. 2021). Para as peças nos programas de rádio e de televisão ver Jornal da Noite (SIC, 15 out. 2021), As Horas Extraordinárias (RTP3, 29 out. 2021) e Portugal em Direto (RTP1, 3 nov. 2021).

Dada a natureza e condições do espaço de apresentação dos vídeos — um contentor marítimo de livre circulação — não se realizou relatório de exposição, questionário ao público — no que diz respeito ao grau de satisfação pela visita —, ou contagem do número de visitantes. 

[A versão final do texto científico, assinada por Madalena Galvão Telles, será disponibilizada em fevereiro de 2024].


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Benjamin Weil e Rui Toscano (primeiro plano, da esq. para a dir.) e Ana Vasconcelos, Helena de Freitas e Leonor Nazaré (atrás, da esq. para a dir.)
Benjamin Weil (ao centro) e Rui Toscano (à dir.)
Rui Toscano e Benjamin Weil (da esq. para a dir.)
Leonor Nazaré (à esq.), Rui Toscano (ao centro) e Benjamin Weil (à dir.)
Rui Toscano
Rui Toscano
Benjamin Weil
Carlos Bunga (ao centro)

Multimédia


Documentação


Periódicos


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