CAM em Movimento. Ciclo «Ecos Latentes»: corpo corpo corpo

Programa «CAM em Movimento» / Ciclo «Ecos Latentes» / Projeto «Gulbenkian 15-25 Imagina»

Integrada na iniciativa «CAM em Movimento», esta é a terceira apresentação do ciclo «Ecos Latentes», um ciclo de vídeos da coleção do CAM com a curadoria de um grupo de jovens do projeto Gulbenkian 15-25 Imagina. Aqui, dois vídeos de diferentes artistas expõem tensões entre dois corpos: um feminino, fantasmagórico, e um masculino, etéreo.

O ciclo «Ecos Latentes» foi uma das iniciativas levadas a cabo pelo Centro de Arte Moderna (CAM) no âmbito de uma programação fora de portas que se vem concretizando desde 2021 sob a designação «CAM em Movimento». Através deste programa, o CAM tem procurado, durante o período de encerramento para obras de renovação e ampliação do seu edifício, ocupar equipamentos e espaços públicos com obras da coleção ou com criações diversas de artistas convidados. Poder-se-iam nomear alguns exemplos, como o da exposição «Coleção de Arte Britânica do CAM», com curadoria de Catarina Alfaro e Patrícia Rosas, apresentada na Casa das Histórias, em Cascais, entre 2021 e 2022; as intervenções, em 2021, de Fernanda Fragateiro e de Didier Fiúza Faustino nos comboios da CP, intituladas Não Ligar (Movimento) e um mapa do céu, respetivamente, ambas com curadoria de Rita Fabiana; as ilustrações de António Jorge Gonçalves para os tapumes que cercam as obras de construção do CAM, O Lugar do Voo (2021), com curadoria de Ana Vasconcelos; ou as instalações concebidas em 2022 para contentores marítimos dispostos em diferentes zonas da cidade, da autoria de Carlos Bunga, Home, de Rui Toscano, Music Is the Healing Force of the Universe #4, e de António Pedro e um grupo de moradores dos bairros de Chelas, 4 Olhos / 4 Odju, ou ainda, mais tarde, em 2023, de Gabriela Albergaria, Podemos seguir numa outra direção?, entre outros.

No caso de «Ecos Latentes», estas configurações expandiram-se à programação participativa, abrindo possibilidades de novas leituras, que se pretendiam curatoriais, de núcleos da coleção do CAM. Procurava-se desenvolver um trabalho colaborativo entre um grupo de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos e os profissionais do CAM e da FCG, na forma de momentos expositivos diversos. Nesse sentido, formou-se um grupo de seis jovens com percursos e formações de diferentes áreas da cultura, denominado Gulbenkian 15-25 Imagina, constituído por Ana Marta Estrada, Joana Gomes, Margarida Bezerra Bastos, Maria dos Passos Carreira, Pedro Costa e Sandra Varela.

Assim, «Ecos Latentes» foi um ciclo dividido em quatro atos, que se debruçava sobre uma seleção de seis vídeos da coleção do CAM, realizada pelo grupo Gulbenkian 15-25 Imagina, propondo um fio condutor narrativo que se desenvolve em torno de ideias hoje muito presentes no léxico social e artístico e que dizem respeito a uma certa ideia de fim, de abismo, de transformação e de renovação. Citando o grupo que assina esta curadoria, «Ecos Latentes» propõe uma «narrativa que se desenrola em torno do progressivo desaparecimento da presença humana e da coexistência dos seus vestígios com outras formas de vida, terminando na desmaterialização e na abstração espacial. Um inevitável desaparecer que é, à vez, morte e transformação – como o ouroboros, símbolo da serpente-dragão que morde a própria cauda e que representa o eterno ciclo de renovação do vivo» (Centro de Arte Moderna \ CAM em Movimento. Ecos Latentes, 2022).

O título «Ecos Latentes» aponta, desde logo, para uma ideia de repetição, sugerindo uma súplica, deixada em suspenso, a uma audiência sem nome. Essa ideia terá constituído a base da divisão curatorial em quatro secções distintas de apresentação do ciclo – todas realizadas num contentor marítimo disposto nos jardins da FCG –, também anunciada nos próprios nomes atribuídos a essas mesmas secções: «corpo corpo corpo», que teve lugar entre 4 e 30 de maio de 2022, «presença presença presença», entre 1 de junho e 4 de julho de 2022, «suspensão suspensão suspensão», entre 6 de julho e 1 de agosto de 2022, e, por último, «pulsação pulsação pulsação», entre 3 de agosto e 5 de setembro de 2022.

O primeiro momento a ser mostrado, «corpo corpo corpo», apresentava dois vídeos da coleção do CAM: Ouve-me, de 1979, de Helena Almeida, e Left (L)overs, de 2004, de Rui Calçada Bastos. A apresentação dos vídeos num contentor marítimo instalado nos jardins da FCG estabelecia desde logo uma relação concreta com as iniciativas anteriores do «CAM em Movimento», propiciada pela utilização do mesmo vocabulário museográfico. A utilização de um contentor marítimo poderá representar, em si mesma, um eco do programa fora de portas do CAM.

Os dois vídeos eram mostrados continuamente num ecrã que ocupava por inteiro uma das faces interiores do contentor, apresentando como foco temático o corpo em tensão, aqui mostrado num diálogo que se inseria na linha de preocupações que procuram remeter para a resistência, a renovação, a transformação e a tensão. No primeiro vídeo, o emblemático Ouve-me de Helena Almeida, adivinhamos um corpo feminino, o da própria artista, que produz movimentos variados por trás e contra uma tela semiopaca, naquilo que parece ser uma espécie de luta contra a invisibilidade e a insonoridade que prevalecem continuamente, manifestações que ganham outra camada de sentido se atendermos ao título em tom imperativo num vídeo criado deliberadamente sem som. No segundo vídeo, somos confrontados com a face oposta de uma equação similar: uma figura masculina, de costas, numa rigorosa inacessibilidade, autoinfligindo investidas de pó sobre si mesma, que se espalham pelo ar formando uma mancha de fumo, associadas a um som que se repete a cada movimento. A ideia de morte, de fim, de confronto entre o tempo e a matéria viva é trazida também através do título Left (L)overs, que invoca um duplo sentido, quer na tradução literal para português, «restos», inegável parte do vocabulário da morte, como na possível referência ao conhecido romance distópico de Dave Wallis, de 1964, Only Lovers Left Alive, uma alusão curiosa, dada a natureza de «Ecos Latentes».

Citando o grupo que assina esta curadoria: «Neste diálogo, os corpos lutam: em Ouve-me, a luta é a de um corpo que pretende ultrapassar os limites da membrana-barreira que o circunscreve e a de uma voz que reclama ser ouvida; em Left (L)overs, a tensão do corpo remete para o que é abandonado e para a materialidade destinada a transformar-se num conjunto de partículas no ar.» (Centro de Arte Moderna \ CAM em Movimento: corpo corpo corpo, 2022)

«corpo corpo corpo» inaugurou o ciclo que se viria a estender no tempo por cerca de quatro meses, pelo que se organizou uma inauguração no Jardim da Fundação, com a presença do grupo Imagina, vários membros da equipa do CAM, incluindo o seu diretor, Benjamin Weil, contando ainda com a presença de Rui Calçada Bastos e outros convidados.

O ciclo «Ecos Latentes» ocorreu integrado na programação do «CAM em Movimento», que foi, como um todo, amplamente difundida nos media. Contudo, não houve registos críticos na imprensa que destacassem esta iniciativa em particular, nem houve possibilidade, dada a própria natureza do espaço de apresentação dos vídeos, de se realizar uma contagem do número de visitantes.

Vera Barreto, 2023

Vera Barreto, 2023


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Ouve-me

Helena Almeida (1934-2018)

Ouve-me, Inv. IM13

Left (L)overs

Rui Calçada Bastos (1972-)

Left (L)overs, 2004 / Inv. IM22


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Frame do vídeo de Helena Almeida, «Ouve-me», 1979 (Col. CAM, Inv. IM13)
Frame do vídeo de Helena Almeida, «Ouve-me», 1979 (Col. CAM, Inv. IM13)
Frame do vídeo de Helena Almeida, «Ouve-me», 1979 (Col. CAM, Inv. IM13)
Frame do vídeo de Rui Calçada Bastos, «Left (L)overs», 2004 (Col. CAM, Inv. IM22)
Frame do vídeo de Rui Calçada Bastos, «Left (L)overs», 2004 (Col. CAM, Inv. IM22)
Frame do vídeo de Rui Calçada Bastos, «Left (L)overs», 2004 (Col. CAM, Inv. IM22)
Frame do vídeo de Rui Calçada Bastos, «Left (L)overs», 2004 (Col. CAM, Inv. IM22)

Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos relativos à presente edição. Contém materiais gráficos. 2022

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos relativos à presente edição. Contém materiais gráficos. 2022

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 412493

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2022

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 412493

Coleção fotográfica, cor: aspetos e inauguração (FCG, Lisboa) 2022


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.