CAM em Movimento. João Onofre, «Untitled (N'en Finit Plus)», 2010 – 2011

Programa «CAM em Movimento / Ciclo de Vídeos»

A apresentação da obra de João Onofre constituiu a primeira mostra do ciclo de vídeos dedicado à solidão e à guerra. Integrando a programação inaugural do «CAM em Movimento», a obra foi exibida no contentor marítimo instalado no Jardim Gulbenkian, o primeiro de vários que seriam distribuídos pela cidade.
This screening of a piece by João Onofre was the first instalment in a series of videos on the theme of solitude and war. The exhibition was part of the opening programme of “CAM in Motion” and was presented in a shipping container in the Gulbenkian Garden, the first of several located throughout the city.

Em 2021, entre confinamentos e o definitivo encerramento para obras do seu edifício, o Centro de Arte Moderna (CAM) iniciou um «programa fora de portas» intitulado «CAM em Movimento». Guiado pelo desejo de apresentar uma arte mais democrática, especialmente feita para as pessoas, este novo ciclo sustentava o seu modelo na espontaneidade, com uma programação pensada para suscitar a curiosidade do público através da disrupção do quotidiano e da invasão da paisagem comum da cidade. Para Benjamin Weil, estes eram os elementos fundacionais do programa «CAM em Movimento», e a instituição conseguiria cumprir os seus objetivos se, durante o período de encerramento, conseguisse alargar a sua área de influência para lá do perímetro da Fundação Calouste Gulbenkian, procurando relacionar-se com outros públicos que, por uma ou outra razão, tendem a escusar-se de interagir com a arte (Conversa online: Alargar e diversificar geografias, nov. 2021).

Na opinião do novo diretor do CAM, a obra do edifício oferecia ao Museu Calouste Gulbenkian «uma oportunidade […] [de] se reinventar e construir um futuro dinâmico, criar e estreitar laços de colaboração com outras áreas da Fundação, e explorar novos modos de se dar a conhecer e de atrair novos públicos» («António Filipe Pimentel é o novo diretor do Museu Calouste Gulbenkian», Expresso, 20 dez. 2020).

A par das intervenções artísticas de Didier Fiúza Faustino (1968) e de Fernanda Fragateiro (1962) nas linhas de comboio da CP de Sintra (Rossio-Sintra) e de Cascais (Cais do Sodré-Cascais), respetivamente, a proposta inaugural do «CAM em Movimento» incluía a instalação de um contentor marítimo no Jardim Gulbenkian, ao qual, mais tarde, se juntariam outros, que se multiplicariam pela cidade com novos projetos artísticos e obras da coleção do CAM.

A criação de uma sala de projeção de vídeos dentro de um contentor de carga e transporte de mercadorias, sobretudo quando colocado no meio de um jardim, era inusitada, mas seguia a linha do programa, favorecendo o encontro com a arte em locais onde esta seria, à partida, inesperada (CAM em Movimento, 2021).

O primeiro contentor a ser instalado no jardim Gulbenkian apresentou um ciclo de quatro vídeos da coleção do CAM especialmente dedicado a questões políticas e sociais, como a solidão e a guerra, tendo a paisagem e o mundo natural como panos de fundo (Centro de Arte Moderna \ CAM em Movimento. João Onofre). A curadoria ficou a cargo de Patrícia Rosas e Rita Albergaria.

Entre outubro e novembro de 2021, foi exibido o primeiro dos vídeos: Untitled (N’en finit plus), de 2010-2011 (Inv. IM45), de João Onofre (1976), obra na qual a jovem adolescente Beatriz Mateus interpreta a famosa canção yé-yé francesa La Nuit n’en finit plus, de Petula Clark (1932).

No curto tempo de duração da obra (3’33’’), o olhar é conduzido pela cena através de uma composição cinematográfica rigorosa. Passa da terra escura à jovem, que, abandonada à sua tarefa, surge de pé, de braços estendidos ao longo do corpo, numa vala cavada na superfície da relva. Ao som da letra confessional que Clark emprestou à melodia Needles and Pins (1963), de Jackie DeShannon (1941), a câmara movimenta-se numa panorâmica vertiginosa, e salta da vala de «isolamento tumular e universal» para o verde das ervas que brilham em contraste com o céu noturno. Apresentada em loop, Untitled (N’en finit plus) revela um cenário de inevitável sofrimento e solidão – o da existência do indivíduo no mundo –, através da ingenuidade de uma adolescente que canta sobre a noite que não tem fim.

Como parte da programação paralela, foi organizada uma conversa online entre as curadoras Patrícia Rosas e Patrícia Albergaria e o artista Fernando José Pereira, intitulada «CAM em Movimento II: Alargar e diversificar geografias». A conversa deteve-se sobretudo sobre o ciclo «CAM em Movimento» e o processo de produção e instalação do contentor marítimo no Jardim Gulbenkian, tendo ainda contado com uma apresentação de Fernando José Pereira acerca da obra The man who wanted to collect Time, de 2012 (Inv. 13IM61), o último vídeo do ciclo (Fundação Calouste Gulbenkian \ CAM em Movimento II: alargar e diversificar geografias, 2021).

A exposição teve uma repercussão tímida nos meios de comunicação social. Destaque para a crítica de Luísa Santos na Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 1, 2, 3, 2022), para as menções em artigos nas revistas Time Out (Moreira, Time Out, 19 out. 2021) e Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 nov. 2021), e para as peças nos programas de rádio e de televisão Jornal da Noite (SIC, 15 out. 2021), As Horas Extraordinárias (RTP3, 29 out. 2021) e Portugal em Direto (RTP1, 3 nov. 2021).

Madalena Dornellas Galvão, 2023

In 2021, between lockdowns and the long-term closure of the building for renovation work, the Modern Art Centre (CAM) launched an “off-site” programme entitled “CAM in Motion”. Driven by a desire to make art more democratic, explicitly reaching out to the people, this new cycle was based on spontaneity, with a programme of events designed to spark the curiosity of the general public by disrupting their everyday lives and invading the streets of the city. According to Benjamin Weil, this was the primary aim of the “CAM in Motion” programme and the institution would have achieved its goal if, during the closure, it managed to expand its sphere of influence beyond the Calouste Gulbenkian Foundation, connecting with new audiences who, for whatever reason, tend not to engage with art (Online conversation: Alargar e diversificar geografias, Nov 2021).

According to the new director of the CAM, building work on the Calouste Gulbenkian Museum presented “an opportunity […] [to] reinvent ourselves and build a dynamic future, create and strengthen collaborative bonds with other areas of the Foundation, and explore new ways of spreading the word and attracting new audiences” (Cruz, Expresso, 20 Dec 2020).

In addition to artistic interventions by Didier Fiúza Faustino (1968) and Fernanda Fragateiro (1962) on the train lines to Sintra (Rossio-Sintra) and Cascais (Cais do Sodré-Cascais), respectively, the “CAM in Motion” programme opened with the installation of a shipping container in the Gulbenkian Garden. This was later joined by others, scattered around the city, showcasing new art projects and pieces from the CAM collection

The idea of projecting videos inside a shipping container was an unusual one, particularly given its garden setting, but it aligned perfectly with the spirit of the programme, promoting encounters with art in places where you would not usually expect to find it (CAM in Motion, 2021).

The first container to be installed in the Gulbenkian Garden screened a series of four videos from the CAM collection that tackle political and social issues, such as solitude and war, with landscape and nature as a backdrop (Modern Art Centre / CAM in Motion. João Onofre). The project was curated by Patrícia Rosas and Rita Albergaria.

The first video, Untitled (N’en finit plus) by João Onofre (1976), from 2010-2011 (Inv. IM45), was screened in October and November 2021. In this piece, a young teenage girl named Beatriz Mateus performs the famous French yé-yé song La Nuit n’en finit plus, by Petula Clark (1932).

In film’s short duration (3’33’’), the gaze is steered around the scene using careful framing. The shot moves from the dark ground to the youth who, engrossed in her task, stands with her arms by her sides, in a pit dug into the surface of the grass. To the sound of the confessional lyrics Clark set to the tune of Needles and Pins (1963), by Jackie DeShannon (1941), the camera moves in a dizzying panorama, jumping from the ditch of “sepulchral and universal isolation” to the green grass that glistens in contrast with the night sky. Shown on a loop, Untitled (N’en finit plus) paints a picture of the inevitable suffering and solitude of existing as an individual in the world through the naivety of an adolescent singing about endless night.

The parallel events included an online discussion between curators Patrícia Rosas and Patrícia Albergaria and the artist Fernando José Pereira, entitled “CAM em Movimento II: Alargar e diversificar geografias”. The conversation mainly focused on the “CAM in Motion” cycle and the process of preparing and installing the shipping container in the Gulbenkian Garden, and also featured a presentation by Fernando José Pereira on the 2012 piece The man who wanted to collect Time, (Inv. 13IM61), the last video in the cycle (Calouste Gulbenkian Foundation / CAM em Movimento II: alargar e diversificar geografias, 2021).

The exhibition received limited coverage in the media. It was reviewed by Luísa Santos for Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 1, 2, 3, 2022), and mentioned in the magazines Time Out (Moreira, Time Out, 19 Oct 2021) and Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 Nov 2021), as well as segments on radio and television shows Jornal da Noite (SIC, 15 Oct 2021), As Horas Extraordinárias (RTP3, 29 Oct 2021) and Portugal em Direto (RTP1, 3 Nov 2021).


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Untitled (N'en finit plus)

João Onofre (1976-)

Untitled (N'en finit plus), 2010/11 / Inv. IM45


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

CAM em Movimento. Alargar e Diversificar Geografias [conversa online]

14 dez 2021
Online

Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 31780

Coleção fotográfica, cor: stills do vídeo «Untitled (N'en Finit Plus)», 2010 – 2011 2017


Exposições Relacionadas

SlowMotion

SlowMotion

2002 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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