CAM em Movimento. Carlos Bunga, «Home», 2022

Programa «CAM em Movimento»

No âmbito do programa «CAM em Movimento», Carlos Bunga foi um dos primeiros artistas a serem convidados para realizar uma instalação a partir de um contentor instalado na cidade. Home foi a sua proposta: uma casa junto ao rio, mais especificamente, junto à estação fluvial do Terreiro do Paço.

Em 2021, entre confinamentos e o definitivo encerramento do edifício do Centro de Arte Moderna (CAM) – para obras que visam reconfigurar a área expositiva e criar um novo jardim aberto ao público, num projeto do arquiteto Kengo Kuma (Japão, 1954) – o CAM iniciou um «programa fora de portas» intitulado «CAM em Movimento».  

Gerado num momento de transição e guiado pelo desejo de uma arte mais democrática e feita para as pessoas, este novo ciclo sustenta o seu modelo na espontaneidade, reunindo uma programação capaz de suscitar a curiosidade do público através da invasão da paisagem comum e da tentativa de disrupção do quotidiano na cidade. A partir de um exercício de experimentação e reflexão, pretende-se questionar criticamente a instituição, explorando o leque de possibilidades, papéis e funções a adotar no presente e no futuro, em contexto local, nacional e internacional.  

Para Benjamin Weil, novo diretor do CAM desde dezembro de 2020, estes são os elementos fundadores do programa. Nesse sentido, a instituição conseguiria cumprir os seus objetivos se durante o período do fecho conseguisse alargar a sua área de influência para lá do perímetro da Fundação Calouste Gulbenkian, procurando relacionar-se com outros públicos que, por uma ou outra razão, habitualmente se escusam a interagir com a arte (Conversa on-line: Alargar e diversificar geografias, nov. 2021).

Afinal, para o novo diretor do CAM, a obra do edifício oferece à instituição «uma oportunidade (…) [de] se reinventar e construir um futuro dinâmico, criar e estreitar laços de colaboração com outras áreas da Fundação, e explorar novos modos de se dar a conhecer e de atrair novos públicos» aproximando-os da arte contemporânea (Cruz, Expresso, 20 dez. 2020). Como admitiu numa entrevista dada aos jornalistas da RTP (15 out 2021), a instituição quis aproveitar a situação de exceção para «estender a mão aos visitantes», permitindo que a experiência da arte faça parte da vida quotidiana de todos».

Em outubro de 2021, o programa inaugural do «CAM em Movimento» incluiu várias iniciativas. A escultura de Miguel Palma (1694) Cemiterra-Geraterra (1991) viajou até Loures para ser instalada no Parque Quinta dos Remédios, na Bobadela. Os artistas Didier Fiúza Faustino (1968) e Fernanda Fragateiro (1962) intervieram no exterior das carruagens dos comboios da CP das linhas de Sintra e de Cascais, respetivamente. Vinte e quatro obras da Coleção do Centro de Arte Moderna viajaram até à Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, para a exposição «Coleção de Arte Britânica do CAM». O ilustrador António Jorge Gonçalves iniciou o projeto de desenho para os tapumes que circundavam o perímetro das obras do edifício do CAM, que viria a inaugurar em novembro. Um contentor de carga e transporte de mercadorias foi instalado no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, para servir de sala de projeção de vídeos da Coleção do CAM, ao qual, mais tarde, e até final de 2022, se juntariam outros contentores espalhados pela cidade para acolher novos projetos artísticos site-specific.

Rui Toscano (1970, Lisboa) e Carlos Bunga (1976, Porto) foram os primeiros artistas a ser convidados pelo CAM e a 3 de fevereiro inauguravam duas instalações site-specific em Lisboa: «Music Is the Healing Force of the Universe #4 (2021-2022) de Rui Toscano, na praça do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica e «Home» (2002), de Carlos Bunga, um contentor instalado junto à estação fluvial do Terreiro do Paço, na nova praça da estação Sul e Sueste.

Sobre esta última obra, a curadora e investigadora Luísa Santos, escreve num artigo publicado na edição online da revista Contemporânea (jan-mar 2022), intitulado «Os museus do futuro, o futuro dos museus – o mais extenso e expressivo artigo de reflexão crítica publicado até à data sobre esta iniciativa do CAM em Movimento:

«A Home, de Carlos Bunga, é um projeto que surge no seguimento do corpo de trabalho do artista, mais especificamente da exposição com o mesmo título mostrada em 2021 na Galeria Vera Cortês. Junto à estação fluvial do Terreiro do Paço, a Home de Carlos Bunga assume o contentor como o anfitrião perfeito. Afinal, casa (home) é uma estrutura arquitectónica, um conjunto de paredes que tem uma função de receptáculo — como um contentor — para muito daquilo que fazemos e que somos, para muitas das nossas histórias e da nossa identidade ao longo da vida. Em última instância, a casa é o corpo das nossas memórias. Enquanto na exposição na Galeria Vera Cortês, a exposição-instalação alternou imagens que se referiam à intimidade individual com imagens que lembram que a casa é, mais do que uma extensão do corpo de cada um de nós, um corpo político, no contentor marítimo, todo o espaço expositivo se tornou, em si, casa. Uma casa vazia, com pilares, aparentemente sólida (a parte exterior é um contentor marítimo) é, afinal, feita de cartão, não muito diferente das que podemos ver todos os dias em Lisboa como em quase todas as grandes cidades da Europa ocidental, ditas evoluídas e democráticas mas que são, simultaneamente, lugares de desigualdade, injustiça e exclusão. Assim, a casa de Carlos Bunga situa-se num limbo entre o domínio do privado e do público, do interior e do exterior, do lugar e do não-lugar, do(a responsabilidade) individual e do(a responsabilidade) coletivo(a) O ponto que une estas aparentes dicotomias é o seu estado transitório, com uma vida e uma morte, visualmente traduzido pelos materiais frágeis.» (Luísa Santos, CAM em Movimento. Os museus do futuro, o futuro dos museus, 2022)

Durante o mês de fevereiro de 2022, a iniciativa do CAM em Movimento foi divulgada em diversos jornais e revistas na suas edições online, nomeadamente na Agenda Cultural de Lisboa (21 fev 2021), «Lisboa para as Pessoas» (18 fev 2022), Gerador (5 fev 2022), Time Out (7 fev 2022). A construtora HCI, empresa responsável pela instalação dos contentores deste programa, também publicou uma pequena notícia no seu website (8 fev 2022). O único artigo publicado em suporte de papel foi o do Público de 19 de julho, um artigo por Júlia M. Tavares.

Para uma contextualização do «CAM em Movimento» nos meios de comunicação social, consultar, por exemplo, a crítica de Luísa Santos na Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 01-02-03, 2022), as menções em artigos nas revistas Time Out (Moreira, Time Out, 19 out. 2021) e Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 nov. 2021). Para as peças nos programas de rádio e de televisão ver Jornal da Noite (SIC, 15 out. 2021), As Horas Extraordinárias (RTP3, 29 out. 2021) e Portugal em Direto (RTP1, 3 nov. 2021).

Dada a natureza e condições do espaço de apresentação dos vídeos — um contentor marítimo de livre circulação — não se realizou relatório de exposição, questionário ao público — no que diz respeito ao grau de satisfação pela visita —, ou contagem do número de visitantes. 

[A versão final do texto científico, assinada por Madalena Galvão Telles, será disponibilizada no final de janeiro de 2024].


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Carlos Bunga
Carlos Bunga
Carlos Bunga
Carlos Bunga
Rui Toscano, Carlos Bunga e Benjamin Weil (da dir. para a esq.)
Benjamin Weil (centro, dir. )
Benjamin Weil (esq.)
Rita Fabiana e Benjamin Weil (ao centro)
Carlos Bunga
Carlos Bunga
Carlos Bunga
Benjamin Weil, Carlos Bunga e Rui Toscano (ao centro, da esq. para a dir.)
Benjamin Weil (ao centro)
Benjamin Weil, Carlos Bunga e Rui Toscano (ao centro, da esq. para a dir.)
Benjamin Weil (ao centro, à dir.)

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