CAM em Movimento. Fernanda Fragateiro, «Não Ligar (Movimento)», 2021

Programa «CAM em Movimento»

A partir do fecho do CAM para obras de remodelação, «CAM em Movimento» inaugura o programa de atividades na cidade com duas intervenções no espaço público: «Mapa do Céu» de Didier Fiúza Faustino e «Não Ligar (Movimento)» de Fernanda Fragateiro.

Entre 2015 e 2020, o CAM — Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian foi alvo de um processo de reestruturação que pretendia reformular o funcionamento da instituição. Através de um exercício de experimentação e reflexão, procurava-se questionar o CAM a partir de uma base crítica, explorando o leque de possibilidades, papéis e funções a adotar pela instituição no presente e no futuro, em contexto local, nacional e internacional.

Encabeçada por Penelope Curtis, então diretora do Museu, a proposta era que este exercício se materializasse na união de ambas as coleções e edifícios — CAM e Museu Calouste Gulbenkian — num só. No entanto, além de amplamente contestada, a experiência revelava-se de difícil execução. Assim, ao fim de cinco anos, decidia-se voltar ao modelo original, dando início à ampliação e renovação do CAM.

Marcado pela pandemia de Covid-19, o ano de 2020 trouxe várias mudanças ao Museu, com o anúncio da nova equipa de direção. Para chefiar o Museu Calouste Gulbenkian entrava António Filipe Pimentel, ex-diretor do Museu Nacional de Arte Antiga e do Museu Grão Vasco, e para o CAM — Centro de Arte Moderna, Benjamin Weil, então diretor artístico do Centro Botín.

Para Benjamin Weil, a obra do CAM oferecia à instituição «uma oportunidade (…) [de] se reinventar e construir um futuro dinâmico, criar e estreitar laços de colaboração com outras áreas da Fundação, e explorar novos modos de se dar a conhecer e de atrair novos públicos» (Cruz, Expresso, 20 dez. 2020).  

Em 2021, entre confinamentos e o definitivo encerramento do edifício para obras, o CAM iniciou um «programa fora de portas». Segundo Weil, a estrutura do programa foi concebida com base em dois eventos ocorridos no mundo da arte: o conceito de «pintura em movimento» criado por Alexander Calder (1898-1976) em 1973, e a exposição «Projects 34: Félix González-Torres», apresentada por González-Torres (1957-1996) para o MoMA, em 1991. Se a apresentação da «pintura em movimento», de Calder, com a obra «Flying Colors» realizada num avião da Braniff International Airways, trouxera, através da pintura que ganha tridimensionalidade, a materialização de um estado de constante performance no espaço, a proposta expositiva de González-Torres ao convite do MoMA, que consistira na intervenção do artista em letreiros e painéis publicitários da cidade de Nova Iorque, recusando qualquer tipo de marketing ou branding, enfatizou a ideia de uma arte mais democrática e feita para as pessoas; de uma arte que sai do pedestal, sai do museu e invade a cidade de forma inesperada (Conversa on-line: CAM em Movimento I. Alargar e diversificar geografias, 2021).

A disrupção do quotidiano, a invasão da paisagem comum e a capacidade de suscitar a curiosidade através de um ato de espontaneidade foram algumas das ideias que informaram a construção deste programa. Para Benjamin Weil, estes foram os eixos centrais que encaminharam e estruturaram o «CAM em Movimento», levando a instituição a alargar a sua área de influência e a relacionar-se com outros públicos que, por uma ou outra razão, habitualmente se escusam a dialogar com a arte (Ibid.).

A proposta inaugural do «CAM em Movimento» pautou-se pela intervenção artística de dois artistas nas linhas de comboio da CP de Sintra (Rossio-Sintra) e de Cascais (Cais do Sodré-Cascais): na primeira, Didier Fiúza Faustino (1968); na segunda, Fernanda Fragateiro (1962).

Descendente da ideia de «pintura em movimento», o convite feito aos artistas pressupunha o comboio como «desenhador» e «construtor» de um território que, embora partindo de Lisboa, une vários pontos dentro da área metropolitana. Para Rita Fabiana, que assumiu a curadoria do projeto, a ligação entre os vários pontos — Lisboa, Sintra e Cascais — colocava em contato, e sem hierarquias, lugares e pessoas, num «território que se desenha extenso e diverso, nas suas dimensões geográfica, social, cultural e linguística», afirmando-se como um território «de vida e de vidas» (Ibid.).

Compreendendo o modo como os territórios conservam e produzem as histórias associadas à sua origem, crescimento, representação social e vivências contemporâneas, o projeto propunha-se sair do CAM para habitar diferentes lugares. Ao percorrer um território atravessado pelas dificuldades de vivência e mobilidade, o projeto arriscava, desta forma, encontrar diferentes maneiras de falar de Lisboa (Ibid.).

Para a curadora, este é, enfim, um projeto da «arquitetura dos encontros e do quotidiano», que vê o centro não como a baixa da cidade, mas como «o lugar de cada um» (Ibid.).

Didier Fiúza Faustino e Fernanda Fragateiro foram convidados tendo em conta a obra de cada um e a sua relação com o espaço público. De forma independente, cada qual transformou o conceito que lhe fora apresentado pelo CAM.

Fernanda Fragateiro escolheu a Linha de Cascais para a sua intervenção site-specific. Interessada em trabalhar no espaço público, o facto desta linha ferroviária se fazer acompanhar de uma paisagem menos densa e mais natural, marcada pela presença de um rio que se transforma em mar, interessou-lhe, levando-a a pensar o comboio como um objeto dinâmico, constantemente inserido na paisagem em movimento.

Revisitando trabalhos anteriores, Fernanda Fragateiro optou por usar uma fotografia de parte de uma escultura da série «Não Ligar» (2007), com 10 metros de comprimento, feita com centenas de fios de seda da marca de linhas de costura Gütermann. Segundo a artista, estas linhas eram muito usadas para fazer as casas para os botões (As Horas Extraordinárias).

Para Fernanda Fragateiro, a ideia era de que o comboio estaria associado à agilidade mesmo quando estivesse parado. Fugindo à construção narrativa, o intuito era surpreender o público através da abstração, da cor e da beleza concedidas pela imagem de centenas de fios de seda a atravessar um território a alta velocidade. 

Como parte da programação paralela, foi organizada uma conversa on-line com Rita Fabiana, Benjamin Weil e Susana Gomes da Silva, intitulada «CAM em Movimento I: Alargar e diversificar geografias». A conversa deteve-se sobretudo sobre o ciclo «CAM em Movimento» e a origem e processo de construção do projeto dos comboios.

A exposição teve uma repercussão favorável nos meios de comunicação social. Destaque para a crítica de Luísa Santos na Contemporânea (Santos, Contemporânea, ed. 1, 2, 3, 2022), para os vários artigos nas revistas Time Out (Moreira, Time Out, 19 jun. 2021) e Umbigo (Duarte, Umbigo, 3 nov. 2021), e para as peças nos programas de rádio e de televisão Jornal da Noite (SIC, 15 out. 2021), As horas Extraordinárias (RTP3, 29 out. 2021), Portugal em Direto (RTP1, 3 nov. 2021).

Madalena Dornellas Galvão, 2023


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

CAM em Movimento. Alargar e Diversificar Geografias [conversa online]

10 nov 2021
Online
Mesa-redonda / Debate / Conversa

CAM em Movimento. Alargar e Diversificar Geografias [conversa online]

14 dez 2021
Online

Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos referentes à exposição. Contém materiais gráficos, caderno de exposição, pressbook, entre outros. 2021


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