Arte acessível: quebrar barreiras e dançar com a diferença 

O dia da Arte Acessível, a 28 de março, abre as portas a famílias com crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais, num programa onde há lugar para todos e todos têm lugar.
03 mar 2020

Não é a primeira vez que a Fundação Calouste Gulbenkian organiza um dia como este, a mostrar o poder da arte como ferramenta de inclusão; mas esta edição do dia da Arte Acessível é especial também por colocar artistas com Necessidades Educativas Especiais (NEE) em cima do palco. Ao longo do dia 28 de março haverá visitas, oficinas e espetáculos para explorar os sentidos e as emoções, ao mesmo tempo que a Fundação mostra as suas coleções, o Jardim e os seus recantos com algum ritmo e música à mistura.

As visitas e oficinas com audiodescrição, Língua Gestual Portuguesa e sessões acessíveis repartem-se entre a manhã e a tarde. Histórias para ouvir, percursos para conhecer e obras para explorar na Coleção do Fundador (O Jardim de Babaï, 10:30; Pintar a manta, 14:30; Mãos que falam de pintura, 14:30), momentos para desenhar, conversar e dançar na Coleção Moderna (Imagem, desenho, ação, 10:30; Visita dançada com o corpo pensada, 10:30; Com cabeça, tronco e membros, 14:30) e ainda passeios criativos no exterior, para descobrir O mundo no jardim (14:30) ou O ciclo da lã (10:30) são algumas das propostas que o Descobrir preparou para animar este dia primaveril que quer dar acesso à cultura aos que nem sempre o têm.

Ana Manta, mediadora no Serviço Educativo do Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian desde 2014, explica que “o objetivo destas atividades consiste em, através de um ambiente descontraído e de permanente partilha, estimular o contacto com a natureza que nos rodeia e desenvolver consciência ambiental”.

Mãe orgulhosa de Francisco, de nove anos, com uma paralisia cerebral que, não afetando a capacidade cognitiva – nem ofuscando a sua personalidade cheia de humor e afetividade – o deixa muito comprometido a nível motor, obrigando-o a circular numa cadeira de rodas elétrica e a comunicar com dificuldade, Ana Manta não deixa de referir a falta de oportunidades que a maioria das pessoas com deficiência tem para “se relacionar com a natureza que as envolve, sobretudo por se depararem com uma série de barreiras, sejam estas arquitetónicas ou de comunicação, o que as leva a estarem muito fechadas dentro de si mesmas.” A importância destas atividades passa então por “tentar ultrapassar algumas dessas barreiras, através de um trabalho coletivo mas que procura preencher as necessidades individuais”. Uma das coisas que a mediadora mais aprecia no trabalho com públicos com NEE é a “sua imprevisibilidade”, que torna “cada dia num encontro único”, onde a flexibilidade e criatividade na forma como os conteúdos são abordados é essencial.

Mas não só as oficinas estarão em destaque neste dia. Na Sala Polivalente, são esperadas duas performances de convidados muito particulares: às 12:00, um concerto da Banda APPDA – Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo; e, pelas 16:30, o espetáculo “Bichos”, de Rui Lopes Graça, interpretado pela Companhia Dançando com a Diferença.

A Banda da APPDA-Lisboa existe desde 2002, na sequência de um projeto europeu denominado “Uma sociedade para todos”. Desde então, tem vindo a integrar na sua formação diversos jovens e adultos com perturbação do espectro do autismo, com a missão de lhes proporcionar, acima de tudo, bem-estar, ao mesmo tempo que possibilita uma intervenção e sensibilização junto da população acerca desta problemática. O repertório está em permanente construção e conta com originais, covers de pop/rock, jazz e bandas sonoras, sempre inspirado nos interesses e sugestões musicais dos seus elementos.

Um desses elementos é o Micas. Maria João Morgado, terapeuta da fala que acompanha o grupo, conta que “Quem olha de fora nem dá por ele [discreto, quieto, de cabeça baixa e olhos postos no instrumento], mas ele tem uma banda de jazz fora da APPDA e toca baixo de ouvido. É a alma da banda”. A terapeuta e docente refere também que todos os jovens que colaboram com a APPDA têm aulas de música, encarada como uma forma de terapia, e são aqueles que vão mostrando mais apetência e interesse que integram a banda.

Já o Dançando com a Diferença surgiu como um projeto piloto no ano de 2001 na Região Autónoma da Madeira, funcionando atualmente como uma companhia profissional de referência cujo principal objetivo é a possibilidade de juntar em palco pessoas com e sem deficiências por uma só causa: dançar.

O espetáculo “Bichos”, com coreografia de Rui Lopes Graça e direção artística de Henrique Amoedo, parte da obra homónima de Miguel Torga e pretende abordar questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência, num universo onde humanos e animais partilham características e também as vicissitudes da vida.

Todas as atividades requerem inscrição prévia, sujeita a confirmação, até ao dia 20 de março

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