Imagem © Joaquim Leal / Companhia Paulo Ribeiro
Salavisa European Dance Award
O Salavisa European Dance Award (SEDA), no valor de 150 mil euros, pretende homenagear Jorge Salavisa, diretor artístico do Ballet Gulbenkian entre 1977 e 1996, e distinguir artistas de talento, em qualquer parte do mundo.
Criado em 2023, pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o intuito de homenagear o legado do bailarino, professor e diretor artístico português Jorge Salavisa (1939-2020), o Salavisa European Dance Award (SEDA) será atribuído a artistas de qualquer parte do mundo, que demonstrem ter talento ou qualidades especiais que merecem extravasar as suas fronteiras nacionais.
Atribuído de dois em dois anos, este prémio europeu de dança, no valor de 150 mil euros, quer afirmar-se como um incentivo a artistas com maturidade artística, sem categoria etária estritamente definida e que ainda não tenham alcançado grande visibilidade no circuito europeu devido ao seu discurso artístico ou à sua origem social e cultural.
O Salavisa European Dance Award de 2024 foi atribuído a Dorothée Munyaneza (Ruanda/Reino Unido/França) e a Idio Chichava (Moçambique).
Desde a sua criação, em 1956, a Fundação Calouste Gulbenkian tem desempenhado um papel central no desenvolvimento da cultura e das artes em Portugal.
Na área da dança, foi decisiva a ação do Ballet Gulbenkian (1965-2005), uma companhia de repertório por onde passaram obras de referência da dança moderna e contemporânea. Foi também decisiva a ação dos Encontros ACARTE (1987-2000), um festival internacional de artes performativas que acolheu e coproduziu obras emblemáticas da chamada nova dança europeia e cujo impacto foi determinante para a afirmação da dança independente em Portugal.
Mas a intervenção da Fundação Gulbenkian na área da dança abrange outros domínios importantes, como a atribuição regular de bolsas de formação, apoios à criação, reflexão e pesquisa e apoios à internacionalização dos artistas e das suas obras.
A criação de um prémio europeu de dança inscreve-se assim como mais uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, dando continuidade à sua missão de promover a dança em Portugal e no resto do mundo.
Biografia de Jorge Salavisa
Cortesia da Companhia Nacional de Bailado © Rodrigo de Souza
Jorge Salavisa (Lisboa, 13 de novembro de 1939 – 28 de setembro de 2020) iniciou os estudos de dança com Anna Mascolo, tendo prosseguido a sua formação e carreira em Paris e Londres. Trabalhou com grandes nomes do bailado mundial, como Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn.
Antes de regressar a Portugal, em 1977, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, Jorge Salavisa trabalhou com o Grand Ballet du Marquis de Cuevas, o Ballet National Populaire, o Ballet de Paris e o London Festival Ballet (companhia na qual foi o primeiro estrangeiro a entrar).
Além de diretor artístico do Ballet Gulbenkian (onde permaneceu de 1977 até 1996), foi ainda professor em várias cidades dos Estados Unidos, na Escola de Dança do Conservatório Nacional e professor fundador do P.A.R.T.S. (Performing Arts Research and Training Studios), na Bélgica.
Um dos mais influentes programadores culturais do País, foi responsável pela área de Dança de Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura, Presidente do Conselho de Administração da Companhia Nacional de Bailado e Diretor do Teatro Municipal de São Luiz.
Parceiros
Acompanham a Fundação Gulbenkian na constituição do Prémio seis instituições culturais europeias, que terão um papel ativo na nomeação dos artistas candidatos e na apresentação pública dos seus trabalhos:
Fundado em 1984 por Ismael Ivo e Karl Regensburger, o ImPulsTanz tornou-se num dos maiores festivais de dança e performance contemporâneas do mundo. Todos os verões, o festival oferece a mais de 150 000 visitantes um conjunto diferenciado de mais de 50 produções, 220 workshops e projetos de investigação, um programa diário de música, bem como filmes, videoclipes, instalações e apresentações de livros.
O ImPulsTanz é ainda o anfitrião de vários programas de educação e formação para estudantes de dança e jovens artistas contando com leque muito diversificado de mentores e coaches.
KVS é o teatro municipal de Bruxelas, onde se reinterpreta um repertório relacionado com a cidade que, hoje mais do que nunca, estende a sua influência a nível global. Apoia um amplo conjunto de criadores, intérpretes, coreógrafos e autores que colaborativamente desenvolvem tanto trabalhos individuais como projetos partilhados por polinização cruzada. Baseado numa perspetiva inclusiva do potencial da arte, o KVS pretende ser um teatro marcadamente intercultural, intergeracional e inclusivo, com um impacto que vai muito para além de Bruxelas.
O Dansehallerne é um centro nacional de dança e coreografia sedeado em Copenhaga.
Participa ativamente na coprodução e apresentação de um conjunto diversificado de espetáculos nacionais e internacionais, promovendo igualmente a formação profissional e eventos do setor.
O Dansehallerne está fortemente empenhado na criação de um ecossistema eficiente e sustentável para a dança e a coreografia na Dinamarca, estimulando intercâmbios dinâmicos e proveitosos com outras instituições locais e globais.
Ao longo dos últimos 44 anos, a Maison de la Danse tem-se afirmado como um polo de referência da dança europeia, prosseguindo de forma consistente uma política artística única que acolhe a dança nas suas múltiplas vertentes e técnicas, convidando tanto coreógrafos consagrados como jovens criadores, conciliando criação e repertório, fomentando o interesse dos jovens e defendendo a diversidade estética.
Atualmente encontra-se em construção um novo espaço destinado à criação, produção e apresentação de obras amadoras - les Ateliers de la Danse - que deverá estar concluído em 2026.
A Biennale de la danse de Lyon é um dos mais importantes festivais de dança a nível mundial. Tem promovido a dança ao longo dos últimos 40 anos, apoiando de forma empenhada a criação e a performance e cultivando um diálogo enriquecedor entre as diferentes vertentes da expressão coreográfica e outras formas de arte.
A Biennale de la danse atrai um público vasto e diversificado, assim como profissionais desta área, em França e no resto do mundo. O festival estende-se por quase 40 cidades da região de Auvergne-Rhône-Alpes, em espaços tão distintos como teatros e zonas industriais abandonadas – incluindo o Défilé, um grande cortejo pelas ruas que celebra a diversidade e a união da comunidade.
Movimentando-se no campo da dança contemporânea enquanto espaço de confluência de diversas disciplinas artísticas, a Joint Adventures, sediada em Munique desde 1990, é uma entidade organizadora de eventos globalmente reconhecida. Atua em estreita cooperação com parceiros nacionais e internacionais, promove e organiza festivais como o Tanzwerkstatt Europa, séries de performances com artistas convidados como o Access to Dance depARTures, programas de residência, workshops e palestras.
Como entidade facilitadora da rede nacional de espetáculos alemã (Nationales Performance Netz), a Joint Adventures promove com sucesso o apoio estrutural e o intercâmbio de artistas e organizadores de forma a reforçar a presença de criadores de dança sediados na Alemanha, tanto no país como no resto do mundo.
Sadler's Wells é uma instituição de dança de referência a nível mundial.
A sua reconhecida programação anual abrange todos os tipos de dança, desde contemporânea ao flamenco, do Bollywood ao ballet, da salsa à street dance, do tango ao sapateado.
Destaca-se pelo ritmo de encomendas de obras, produção e apresentação de espetáculos, muito acima da média. Desde 2005 contribuiu para a apresentação de mais de 200 novas criações em que se incluem obras populares e outras desconhecidas do público.
É também parceira a Fundação de Kees Eijrond, grande amigo de Jorge Salavisa e impulsionador do SEDA.
Seleção dos candidatos
Especialistas associados
De dois em dois anos, cada instituição parceira associa-se a uma organização ou a um especialista individual, com o propósito de diversificar a rede de intervenção do Salavisa European Dance Award, em termos de localização geográfica, contexto cultural e atuação política. Em conjunto com as instituições parceiras, os especialistas associados propõem candidatos oriundos de qualquer continente.
Em 2024, os especialistas associados foram:
Andreea Capitanescu – WASP – Working Art Space and Production (Bucareste, Roménia);
Faustin Linyekula – Studios Kabako (Quissangane, República Democrática do Congo);
Gintarė Masteikaitė – LDIC - Lithuanian Dance Information Centre (Vilnius, Lituânia);
Helly Minarti (Munique) – koreografi (Lingkaran, Indonésia);
Hsin-Yuan Shih– National Theater & Concert Hall (Taipei, Taiwan);
Ice Hot Nordic Dance Partners (Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia);
María José Cifuentes – Centro Cultural Gabriela Mistral, Centro GAM (Santiago do Chile, Chile);
Quito Tembé – Kinani – Festival Internacional de Dança Contemporânea (Maputo, Moçambique);
Talita Rebizzi – SESC São Paulo / Bienal de Dança de São Paulo (São Paulo, Brasil).
Processo de seleção dos nomeados
O processo de seleção dos candidatos ao Salavisa European Dance Award realiza-se de dois em dois anos e tem várias etapas fundamentais. Para a primeira lista de 21 candidatos, cada instituição parceira associa-se a um especialista convidado para escolher e propor três artistas. É a partir dessa lista que o Comité de Nomeação seleciona cinco finalistas. Este comité é composto por sete membros com direito de voto, representando cada uma das instituições parceiras, e por um presidente sem direito de voto.
Numa primeira reunião, cada membro do comité escolhe cinco artistas, excluindo os que foram propostos pela instituição que representam. Os artistas mais votados passam para a segunda reunião. Nesta fase, os membros do comité avaliam e debatem exaustivamente os candidatos no sentido de voltarem a selecionar cinco. Desta vez, os membros do comité podem escolher artistas sugeridos pela instituição a que pertencem. A lista final inclui os cinco artistas mais bem classificados.
Estes cinco artistas nomeados são divulgados publicamente e são depois avaliados por um júri independente, composto por três membros de diferentes nacionalidades. É este júri que tem a responsabilidade de selecionar o vencedor do prémio.
Além do prémio, no valor de 150 mil euros, o artista galardoado terá também a oportunidade de mostrar o seu trabalho nos palcos das instituições culturais pertencentes à rede de parceiros.
Comité de Nomeação
O Comité de Nomeação é constituído por sete membros com direito a voto, um representante de cada instituição parceira. Na edição de 2024 fizeram parte do Comité de Nomeação Danjel Anderson (Dansehallerne); Kristien De Coster (KVS); Tiago Guedes (Maison/Biennale da la Danse); Gintare Masteikaite (Joint Adventures); Cristina Planas Leitão (Fundação Calouste Gulbenkian); Rio Rutzinger (ImPulsTanz) e Alistair Spalding (Sadler's Wells).
Júri
Três especialistas de dança independentes são convidados a formar o júri para cada edição da SEDA. Para a primeira edição, em 2024, os membros do júri foram:
Mette Ingvartsen © Bea Borgers
Mette Ingvartsen
Coreógrafa e bailarina dinamarquesa com uma companhia sediada em Bruxelas. O seu trabalho, reconhecido internacionalmente, tem um caráter híbrido e propõe o alargamento da prática coreográfica, combinando a dança e o movimento com outras disciplinas, como as artes visuais, a tecnologia, o desporto, a linguagem e a teoria. Além de atuar, escrever e dar palestras, Mette Ingvartsen é também professora e partilha os resultados da sua investigação em workshops que realiza em universidades e escolas de arte.
Nayse López © DR
Nayse López
Diretora artística do Festival Panorama desde 2005 e curadora convidada em vários outros projetos. Tem vasta experiência como oradora em fóruns diversos, onde aborda um amplo leque de temas relacionados com a gestão cultural, a arte e os média, participando em inúmeros eventos internacionais. Este ano, além da organização da edição de 2024 do Festival Panorama, Nayse López é também professora convidada do projeto de investigação em linha La Escuela e curadora convidada do projeto Forum, da Bienal de Dança de Lyon de 2025.
Fu Kuen, Tang © Thor Brødreskift
Fu Kuen, Tang
Curador, produtor e dramaturgo sediado em Banguecoque que se dedica à performance e às artes visuais contemporâneas. Foi diretor do Teatro Internacional de Bergen (BIT Teatergarasjen) e do Festival de Artes de Taipé, e trabalhou ao longo dos anos com várias instituições e em diversas plataformas, tanto na Europa como na Ásia. Foi curador do Pavilhão de Singapura, que recebeu uma Menção Especial do Júri na 53.ª Bienal de Arte de Veneza. Fu Kuen, Tang colaborou também com a UNESCO, em Paris, na preservação do património imaterial, e com o Centro Regional de Arqueologia e Belas-Artes do Sudeste Asiático, em Banguecoque. Estudou literatura, teatro, comunicação e teoria da cultura em Singapura e em Londres.
Os cinco nomeados
A lista dos cinco artistas nomeados para o Prémio SEDA é o resultado de um processo de seleção que envolveu deliberação e votação por parte de um Comité de Nomeação composto por representantes de cada instituição parceira.
Para a primeira edição do SEDA, os cinco nomeados foram:
Bouchra Ouizguen © Leila Alaoui
Bouchra Ouizguen é uma bailarina e coreógrafa que vive em Marraquexe e que se tem empenhado, desde 1998, em desenvolver o panorama da dança local. Através do som, da performance e do vídeo, a artista manifesta as preocupações que tem com a sociedade, as artes visuais e a arte popular marroquina.
Na sua libertadora Madame Plaza, Bouchra Ouizguen partilhou o palco com três artistas que seguem a tradição Aïta no canto e na dança, e que, num elenco mais amplo, a acompanharão em Ha! Corbeaux, Ottof e Elephant. O seu trabalho multidisciplinar tem corrido mundo, sendo apresentado tanto em teatros como em museus.
Catarina Miranda © Marco Silva Ferreira
Catarina Miranda é uma artista que trabalha com linguagens que cruzam o movimento, a cenografia e a luz, abordando o corpo como recetáculo da transformação e da mediação de estados hipnagógicos que faculta uma consciência visceral do presente.
É licenciada em Coreografia pelo Instituto Internacional de Coreografia/Centro de Montpellier, e em Artes Visuais pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Catarina Miranda tem criado várias peças caracterizadas pela construção de topografias ficcionais, entre as quais se destacam Cabraqimera, Dream is the Dreamer e Reiposto Reimorto.
Dalila Belaza © Luca Lanelli
Motivada por uma busca de sentido e de elevação, a abordagem de Dalila Belaza é sobretudo um movimento de pesquisa: dando substância ao que é invisível e nos inquieta, a fim de mergulhar espectadores e intérpretes na experiência do que está dentro deles. Ao voltar o seu olhar para dentro, Dalila Belaza não dança de forma fechada. As memórias profundas do corpo, habitadas por um espaço interior sem limites, transformam a intimidade num universo a descobrir.
Dalila Belaza é artista associada da Briqueterie, o Centro Nacional de Desenvolvimento Coreográfico de Val-de-Marne, em Paris.
Dorothée Munyaneza © Pat Cividanes
Dorothée Munyaneza é uma artista multidisciplinar que utiliza a música, o canto, o texto e o movimento para abordar a rutura como uma força dinâmica e criar espaços de ressonância e esperança.
Partindo de uma herança cultural muito diversa — a infância passada no Ruanda, os catorze anos que viveu em Londres, uma mudança para Paris e a fixação em Marselha —, as suas criações tecem diálogos com companheiros convidados, como os performers Nadia Beugré e Holland Andrews, os músicos Alain Mahé, Ben LaMar Gay e Khyam Allami, a designer Stéphanie Coudert ou a artista visual Maya Mihindou.
Idio Chichava © Michel Picraws
Idio Chichava é um bailarino, coreógrafo e diretor artístico moçambicano. Nascido em Maputo, começou a dançar num grupo de dança tradicional em 2000. Mergulhou na dança contemporânea no ano seguinte, a partir da CultuArte e das Danças na Cidade, e alargou o seu repertório em colaboração com Lia Rodrigues e Thomas Hauert.
Idio Chichava colabora desde 2005 com a Kubilai Khan Investigations, em França. Fundou a companhia Converge+ em 2012. De regresso a Maputo desde 2020, tem criado oficinas, encontros e espetáculos que promovem a descentralização, deslocando a arte das cidades para as periferias.