Beethoven: Sinfonia n.º 9

Coro e Orquestra Gulbenkian / Lawrence Foster

Sob a direção do maestro Lawrence Foster, o Coro e a Orquestra Gulbenkian interpretam a célebre Sinfonia n.º 9 de Beethoven.
João Silva 26 mai 2023 75 min

A figura de Ludwig van Beethoven marcou uma época de transformação. A sua última sinfonia, escrita entre 1822 e 1824, revela diversas tendências nesse processo. Motivada por uma encomenda da Philharmonic Society de Londres, a obra foi estreada no Theater am Kärntnertor, em Viena, e dedicada a Frederico Guilherme III, rei da Prússia. Beethoven recapitulou os moldes do ideal sinfónico que contribuiu para estabelecer, enriquecendo-os com solistas e coro no andamento final. Assim, condensa vários elementos do Classicismo tardio, como a expansão tímbrica e numérica da orquestra e a influência da música coral usada para educar e galvanizar multidões nos anos que se seguiram à Revolução Francesa. Para isso, Beethoven selecionou um poema de Friedrich Schiller que o assombrava desde a juventude. O “Hino à alegria” promove uma mensagem de igualdade e fraternidade cara ao compositor, que comunga da herança liberal da Revolução Francesa promovida por Schiller, ligando a educação das pessoas à arte.

O andamento inicial é uma forma sonata que se materializa a partir de uma pequena célula descendente dominada pela ambiguidade tonal. O primeiro grupo temático emerge desse caldo primordial, numa erupção afirmativa. À atmosfera tensa e trágica, com jogos de pergunta-resposta e contrastes dinâmicos, segue-se um tema lírico e contemplativo. A interação entre os dois grupos temáticos, entre a instabilidade e o estatismo, e a introdução de novos temas marcam o desenvolvimento, que prepara uma reexposição marcada pela tensão. O andamento termina com uma longa coda contrapontística que mistura elementos novos com os temas previamente apresentados.

O segundo andamento encontra-se em forma Scherzo-Trio-Scherzo. As secções extremas são marcadas pela vivacidade rítmica, em torno de uma célula percussiva, associada a um crescendo. A atmosfera contrapontística, que permeia as últimas obras de Beethoven, é aqui reforçada pelos instrumentos de bocal. O Trio é introduzido por uma textura leve, em que dominam os instrumentos de sopro. A troca de materiais e os solos destes instrumentos misturam-se com a apresentação do tema principal pelas cordas, numa passagem leve e evocativa do bucolismo. Esse momento ganha intensidade, até submergir e ralentar, preparando a reexposição da primeira secção do andamento.

O terceiro andamento apresenta e varia uma melodia lírica inspirada na vocalidade. As variações metamorfoseiam o tema principal, subdividido em duas secções. A melodia, o ritmo e a harmonia são progressivamente transformados, com o processo a ser interrompido por fanfarras percussivas.

O final, numa forma que mistura a organização da forma sonata com tema e variações, começa de forma tensa e dramática. O tema principal, de textura de marcha e âmbito melódico curto, é apresentado pelos contrabaixos. O baixo interpreta o tema, com intervenções do coro sobre uma textura instrumental esparsa e contrapontística. Os restantes solistas fazem a sua entrada, com uma aparição tardia do soprano. Um episódio coral suspensivo prepara uma variação rústica e marcial conduzida pelo tenor, com recurso ao colorido da percussão, imitando os janízaros turcos. Uma passagem coral intensa é preparada por um longo fugato instrumental. Após uma interrupção, Beethoven lança o andamento numa fuga cinética que recapitula e mistura temas dos andamentos anteriores num final glorioso, encarnando em som as novas ideias de Humanidade propagadas pelas Luzes.


Intérpretes


Programa

Ludwig van Beethoven

Sinfonia n.º 9, em Ré menor, op. 125
1. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
2. Scherzo: Molto vivace – Presto
3. Adagio molto e cantabile
4- Presto – Allegro assai – O Freunde, nicht diese Töne! – Allegro assai

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