Sede e Museu Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60

50º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição que contextualizou os edifícios da Sede e Museu Gulbenkian na sua época e na história institucional da FCG. Ao vasto material documental reunido, aliaram-se propostas artísticas da portuguesa Filipa César (1975) e do italiano Gabriele Basilico (1944-2013). Foi um dos principais eventos das celebrações do cinquentenário da Fundação.
Exhibition contextualising the Gulbenkian’s Head Office and Museum buildings in time and space and their relationship with the institutional history of the Calouste Gulbenkian Foundation. The proposals by Portuguese artist Filipa César and Italian artist Gabriele Basílico were added to the vast selection of documentary material on display. The show was one of the main events held as part of the events to celebrate 50 years of the Calouste Gulbenkian Foundation.

A 18 de julho de 2006, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) cumpriu cinquenta anos de atividade, efeméride que foi naturalmente destacada pela programação cultural ao longo de todo esse ano. Entre os eventos especialmente relacionados com o cinquentenário esteve a exposição «Sede e Museu Calouste Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60».

A mostra inaugurou a 16 de março de 2006, ficando patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG entre 17 de março e 4 de junho. De grande fôlego técnico, científico e documental, o projeto foi produzido pelo Serviço de Belas-Artes da FCG (SBA), então dirigido por Manuel da Costa Cabral. Teve comissariado externo da arquiteta Ana Tostões, que dava assim seguimento a investigações em torno da Fundação que já contava com uma contribuição recente sua para o catálogo da exposição «Do Estádio Nacional aos Jardins Gulbenkian. Francisco Caldeira Cabral e a Primeira Geração de Arquitectos Paisagistas, 1940-1970» (2003).

Juntamente com «Daciano da Costa: Designer», de 2001, as três exposições, todas organizadas pelo SBA, perfaziam um trio que evidencia como a FCG, no espaço de cinco anos, investiu na contextualização da sua arquitetura e dos protagonistas neles envolvidos. «Sede e Museu Calouste Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60» foi a que incidiu mais especificamente sobre o complexo da Fundação, sendo destacada como a última mostra deste ciclo de programação.

Tal como sucedera nas três mostras anteriores, a coordenação da produção coube a Rita Fabiana (então no SBA e atualmente curadora do CAM). De fulcral importância foi a articulação com os Arquivos Gulbenkian, de onde proveio boa parte dos materiais consultados, expostos e reproduzidos no catálogo. Somaram-se-lhes outros recursos cedidos por diversos acervos institucionais, nacionais e estrangeiros, bem como por coleções particulares (Sede e Museu Calouste Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60, 2006).

A vasta panóplia de espécimes abordados passou por esboços e desenhos projetuais de perspetiva, desenhos técnicos de arquitetura e engenharia, maquetas, cartografias e epistolografia de época, numerosas fotografias. A contextualização começava nos antecedentes da FCG, no confronto com a vida de Calouste Gulbenkian e com as suas vontades testamentais, passando depois pelos protagonistas que instituíram a Fundação, e aqueles que, com o seu trabalho técnico e artístico contribuíram para o que dela se foi tornando visível. Naturalmente que, além da arquitetura do edifício, o design de interiores e de equipamento, de Daciano da Costa e de Rogério Ribeiro, também mereceu atenção, apresentando-se igualmente algumas peças de mobiliário. Relembraram-se ainda várias intervenções artísticas inscritas no espaço físico da Fundação. Os registos dos Arquivos Gulbenkian indicam que foi exposto, extracatálogo, um desenho referente ao célebre painel Começar, de Almada Negreiros, que se encontra instalado no Hall da Sede da FCG (Arquivos Gulbenkian, GV DIV 00771).

Nos diversos registos audiovisuais exibidos, incluíram-se algumas videoentrevistas a personalidades da história da FCG. Destaque para as entrevistas aos arquitetos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e Álvaro Dentinho, conduzidas por Ana Sousa Dias, em 2003 (Arquivos Gulbenkian, CDVD 0252).

O catálogo da exposição denota como o vasto acervo acompanhou aturadamente o antes e o depois da construção dos edifícios da Sede e Museu e do plano paisagístico dos Jardins. Os vários ensaios publicados sublinham a aposta num diálogo alargado, desde a escalpelização técnica do complexo edificado à requalificação urbanística que exigiu na sua relação com a cidade de Lisboa. A ponderação da atualidade do projeto face a outros exemplos internacionais (anteriores, contemporâneos e posteriores) aliou-se à aferição do rasto histórico e geográfico da envolvente do Parque de Santa Gertrudes, esclarecendo a escolha desta zona da cidade para edificar o complexo (Sede e Museu Gulbenkian, 2006).

Foram analisadas outras tipologias arquitetónicas e alternativas de estabelecimento físico que acabariam por não singrar – não apenas as três principais propostas a concurso para os edifícios de Lisboa, mas inclusivamente uma hipótese de edificar um Museu Gulbenkian em Londres, ainda na década de 1940. Renovações e expansões empreendidas mais recentemente também foram afloradas, como a criação do Centro de Arte Moderna, inaugurado em 1983.

Tendo como pano de fundo as comemorações dos cinquenta anos da Fundação, esta exposição terá convidado particularmente a inferir como alguns fatores plasmados nos edifícios Gulbenkian manifestam a alavancagem cultural da Fundação no país e a projeção alargada de uma atividade múltipla que se iniciara em 1956. Pois embora inauguradas apenas em 1969, as instalações da FCG em Lisboa (iniciadas em 1961) podem representar, em muito do que as constitui, o corolário de um espírito renovador que já orientava a atividade da instituição desde a sua criação nos anos 50 (uma «Imagem Gulbenkian», para usar os termos da própria exposição). Parte dessas vocações seminais alimentou, necessariamente, as numerosas equipas que deram e dão corpo à arquitetura brutalista de Ruy Jervis d'Athouguia (1917-2006), Pedro Cid (1925-1983) e Alberto Pessoa (1919-1985), bem como ao paisagismo de António Vianna Barreto (1924-2002) e Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020).

Para apresentação deste denso fragmento de história, a museologia muniu-se de um sofisticado projeto de design expositivo, coordenado pela arquiteta Teresa Nunes da Ponte (responsável por vários projetos de requalificação dos espaços da FCG, anteriores e posteriores a esta mostra). Os Arquivos Gulbenkian guardam estudos minuciosos que contêm imensos desenhos técnicos para cada um dos principais núcleos expositivos e demais setores. Desde os painéis expositivos às telas de projeção vídeo, das vitrinas aos bancos, tudo foi projetado ao pormenor (Arquivos Gulbenkian, SBA 21159 e SBA 21160).

Os planos de montagem mostram também a integração com o projeto infográfico a cargo da empresa Ubiquidade. Essa equipa desenvolveu plataformas digitais navegáveis em touchscreens instalados na galeria. Esse material multimédia seria compilado num CD-ROM, distribuído com o catálogo da exposição, e atualmente consultável na Biblioteca de Arte da FCG (CDR 244). Contém a apresentação interativa da exposição, digerindo imenso material de arquivo digitalizado. Entre eles estão incluídos fac-símiles integrais de um exemplar da revista Arquitectura (n.º 111, 1969), inteiramente dedicado às instalações da FCG; um álbum de fotografias de uma viagem a Londres dos arquitetos José Sommer Ribeiro (futuro diretor do Serviço de Exposições e Museografia e Centro de Arte Moderna da FCG) e Jorge Sotto-Mayor, então em missão de consultoria para o novo edifício; uma agenda de Ruy d'Athouguia, com esquiços para os edifícios Gulbenkian. Essa plataforma permite, assim, a consulta virtual de elementos que, mesmo se expostos, o foram apenas parcialmente ou sem possibilidade de manuseamento no espaço expositivo.

Também as propostas artísticas contemporâneas integraram este olhar múltiplo sobre a FCG. Filipa César (1975) apresentou o filme Piso Térreo, realizado neste mesmo ano de 2006 nos bastidores e áreas técnicas da FCG. A peça seria adquirida em 2017, integrando atualmente a coleção do Centro de Arte Moderna (Inv. 17IM84). Já o fotógrafo Gabriele Basilico (1944-2013) expôs parte da série a preto-e-branco Lisboa 2006, realizada a convite da Fundação, e que intercala imagens de locais da Sede e Museu Gulbenkian com planos captados noutras zonas da cidade. Os registos consultados indicam que em 2010 a FCG adquiriria as 34 provas que perfazem a série completa de Basilico (Inv. FE102) (Arquivos Gulbenkian, CAM 01110). Juntavam-se assim às 24 que já figuravam no acervo do Centro de Arte Moderna desde que tinham sido selecionadas e expostas nesta ocasião de 2006, em que mereceram um catálogo próprio (Sede e Museu Gulbenkian..., 2006). Nele, Madalena d'Alfonso escreve: «Documentar é uma arte. É a arte de seleccionar o fragmento a conservar, de escolher um ponto e uma linha de ligação entre os elementos, para não nos perdermos.» (Ibid.) No fundo, foi esta importante aceção que parece ter flutuado entre a fotografia de Basilico e os restantes materiais levantados em todo este projeto expositivo.

Assumindo-se como um evento pluridisciplinar, «Sede e Museu Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60» ofereceu uma programação paralela de grande fôlego. O SBA promoveu um intenso programa educativo para o qual também colaborou o Setor Educativo do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) (Newsletter. FCG, n.º 71, 2006, p. 18). Este último também assegurou a programação de visitas temáticas do ciclo «Arte e Arquitectura no CAMJAP» e a oficina «Anda Ver Arquitectura», concebida para crianças e famílias. Aliavam-se a uma vasta agenda de «Visitas/Conversas ao Fim-de-semana», que, entre outras atividades, incluiu uma mesa-redonda com os autores que publicaram textos no catálogo e as «Visitas em Torno dos Bastidores do Edifício Gulbenkian», por João Paulo Martins, Aurora Carapinha e Ana Tostões. Aí, merecem destaque os périplos adotados pelas duas últimas autoras: Aurora Carapinha conduziu os visitantes pelos jardins e terraços suspensos, ao passo que Ana Tostões penetrou nos «Subterrâneos do Edifício-Máquina», ou seja, no coração mecânico que permite o funcionamento técnico das instalações da Fundação (Ibid.).

Esses espaços, raramente visitados pelo público, mereciam assim apresentações qualificadas da parte de duas arquitetas que, nesse mesmo ano de 2006, publicaram, juntamente com Paula Côrte-Real, o livro Gulbenkian: Arquitectura e Paisagem, com a chancela dos Serviços Centrais da FCG. Essa publicação partilha muitos dos conteúdos sublinhados na exposição «Sede e Museu Gulbenkian» e foi concebida a par da mostra. Pretende funcionar como um breve itinerário histórico e espacial, analisando diversos percursos no complexo arquitetónico da Fundação. Em 2006, Ana Tostões assina ainda outro volume no âmbito desta enorme investigação: Fundação Calouste Gulbenkian. Os Edifícios, igualmente editado pelos Serviços Centrais da FCG. Esse estudo monográfico é complementado pelo ensaio «Homenagem a um Monumento Vivo», de Maristella Casciato.

A mediatização da exposição «Sede e Museu Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60» adivinhava-se robusta, especialmente tendo em conta a inserção no cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian. A cobertura televisiva contou com uma entrevista à comissária Ana Tostões no espaço expositivo. Foi conduzida por Raquel Santos para o programa «Entre Nós», transmitido na Rádio Televisão Portuguesa (RTP). O website dos Arquivos RTP disponibiliza o episódio na íntegra, indicando a sua difusão no canal RTP Internacional a 22 de setembro de 2006.

Na imprensa escrita, podem destacar-se alguns artigos dedicados à exposição em revistas nacionais de arquitetura, nomeadamente na Arquitectura e Vida (n.º 71, mai. 2006, pp. 114-115) e LXF – Lisboa Futura (n.º 6, jun. 2006, pp. 48-51). Mencione-se também uma notícia que anuncia a mostra no jornal italiano Il Giornale dell'Architettura (n.º 39, abr. 2006, p. 34).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Piso Térreo

Filipa César (1975-)

Piso Térreo, Inv. 17IM84

Lisboa 2006

Gabriele Basílico (1944-2013)

Lisboa 2006, 2006 / Inv. FE102/1-40


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

Conversas ao Fim-de-semana. Sede e Museu Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60

18 mar 2006 – 4 jun 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Ciclo Arte e Arquitectura

mar 2006 – jul 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25178

Pasta com documentação referente à divulgação da exposição. Contém convite para a inauguração e planta do espaço com texto introdutório da comissária; «Newsletter. FCG» n.º 71 (jan. 2006), com capa, contracapa e duas páginas dedicadas à exposição; folheto de divulgação da exposição e atividades associadas. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21124

Pasta com revisão e tradução inglesa dos textos publicados no catálogo da exposição. 2005 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21126

Pasta com documentação referente à fase inicial de produção da mostra. Contém proposta de exposição, atas de reunião, apontamentos de investigação, epistolografia vária, orçamentos etc. Destaque-se ainda a cópia de documento de 1969 apresentando as valências construtivas do edifício, com respetivas autorias. Reúne também cópias de recortes de imprensa, especialmente francesa e inglesa, muitos deles do período inicial da atividade da Fundação. 2003 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21127

Pasta com as provas de revisão do catálogo do núcleo de fotografias de Gabriele Basilico que integrou a exposição. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21128

Pasta com as provas de revisão do catálogo do núcleo de fotografias de Gabriele Basilico que integrou a exposição. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21129

Pasta com as provas de revisão do catálogo da exposição. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21159

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém numerosos desenhos técnicos do espaço expositivo e respetivos dispositivos museológicos, impressões do layout e conteúdos do DVD-ROM interativo editado quando da exposição. 2003 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21160

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém numerosos desenhos técnicos do espaço expositivo e respetivos dispositivos museológicos. 2005 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 2210

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém textos de Emílio Rui Vilar, enquanto presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, preparados para artigos, prefácios e apresentações de catálogos de exposição; inclui igualmente uma biografia preparada para publicação pelo Serviço da Presidência; manuscritos, revisões de provas impressas e traduções. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / CDVD 0252

DVD-ROM com «Entrevista dirigida por Ana Sousa Dias ao Arq. Álvaro Dentinho e ao Arq. Gonçalo Ribeiro Teles». As entrevistas foram realizadas a 23 de janeiro e 6 de fevereiro de 2003, respetivamente. Trata-se de uma produção de O Som e a Fúria e Fundação Calouste Gulbenkian, com imagem de Renata Sancho e Pedro Faro. A capa discrimina o título da exposição «Sede e Museu Gulbenkian. A Arquitectura dos Anos 60», indicando que este material poderá terá sido utilizado na mostra, embora que não tenha sido concebido propositadamente para esse efeito. 2003 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21125

Pasta com documentação referente à divulgação da exposição. Contém convite; correspondência interna e externa; calendarização dos eventos associados e das entrevistas realizadas pela comissária da exposição, Ana Tostões. 2005 – 2006


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