Matej Krén. Book Cell, 2006

50.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição do artista eslovaco Matej Krén (1958), por ocasião do 50.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian. A exposição consistiu numa única instalação, realizada a partir de uma estrutura em ferro, espelhos e trinta mil livros, a maior parte dos quais com a chancela da FCG.
Exhibition arranged following an invitation from the Calouste Gulbenkian Foundation to Slovak artist Matej Krén (1958) for the 50th anniversary commemorations of the Calouste Gulbenkian Foundation. The show featured a single installation intended as an homage to the publishing branch of the Foundation, consisting of a structure made up of more than thirty thousand books, the majority of which had been published by the FCG.

Exposição de Matej Krén (1958), inserida no programa de comemorações do 50.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). A inauguração foi realizada a 18 de julho de 2006 e contou com a presença do presidente da República Aníbal Cavaco Silva, inserindo-se num conjunto de atividades que incluiu a inauguração das exposições «O Gosto do Coleccionador. Calouste S. Gulbenkian (1869-1955)», «De Paris a Tóquio. Arte do livro na Colecção Calouste Gulbenkian», «Craigie Horsfield. Relation» e um concerto com a Orquestra e o Coro Gulbenkian.

Organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), a mostra foi constituída por uma única instalação, assente no Hall do CAMJAP, realizada a partir de uma estrutura em ferro, espelhos e trinta mil livros, a maior parte dos quais com a chancela da FCG. Homenageava-se deste modo o papel da Fundação quer enquanto agente de iniciativas ligadas ao livro e sua promoção, nomeadamente através das bibliotecas itinerantes, quer enquanto editor, âmbitos que contribuíram para consolidar o papel da FCG no seio da cultura portuguesa e na democratização do acesso a textos essenciais, estrangeiros e portugueses, das mais diversas áreas do saber.

Esteve assim presente a vasta produção cultural, reflexiva e documental da Fundação, de que é exemplo a coleção Portugaliae Musica, publicada pelo Serviço de Música em 1959, que compila o património histórico-musical português desde o século XVI ao século XX e que antecede o Plano de Edições, iniciativa do Serviço de Educação da FCG que possibilitou o acesso a um conjunto de textos portugueses e estrangeiros ligados às áreas da ciência, tecnologia e humanismo.

A instalação serviu de metáfora para a própria Fundação, integrando as suas edições num universo do qual outros livros faziam parte, enriquecendo-o. A vertente metafórica e simbólica desta escultura manifesta-se também na sua estrutura hexagonal, que, de acordo com Leonor Nazaré no catálogo da exposição, remetia para as galerias da Biblioteca de Babel, segundo a representação que dela fez Jorge Luis Borges no conto homónimo inserido em Ficções (1941). Leonor Nazaré traça a história das edições da FCG, incluindo nela o Corpus da Azulejaria e dos mosaicos romanos em Portugal, as revistas Colóquio e os catálogos de exposições produzidos pelo CAMJAP. Além destes livros, encontravam-se obras de autores tão diversos como Rudolf Steiner, Platão, Maeterlinck, Portoghesi, Draaisma, Lachmann, Neubauer e Rudovsky.

Além do texto de Leonor Nazaré e do texto introdutório de Jorge Molder, o pequeno catálogo apresenta um conjunto de fotografias da montagem da exposição, que permitem compreender melhor a real dimensão de Book Cell.

Os livros, que, com o encerramento da exposição, regressariam à sua função primordial de objetos de leitura, foram trabalhados como matéria escultórica, sem atenção ao seu conteúdo, em consonância com a prática artística desenvolvida pelo artista checoslovaco, cuja vida foi marcada por um regime comunista de censura e limitação da divulgação cultural e intelectual. Leonor Nazaré refere-se a uma inacessibilidade em muitos dos trabalhos de Matej Krén, que resulta de um nexo entre a impossibilidade de ler os livros presentes e a incapacidade de alcançar a sabedoria universal: «Essa inacessibilidade do centro, declaração da impossibilidade de aceder à essência ou princípio das coisas é uma das ideias que Matej Krén mais trabalha nas suas instalações, não só porque cada livro fechado e amontoado a materializa, mas também porque cada estrutura […] exibe dentro de si um brilho imprevisto e deslocado, um lugar abissal, um espaço não-amigável, que nos descentra e estonteia, que promete e frustra o deslumbramento de cada passo.» (Matej Krén. Book Cell, 2006, p. 7)

Também os espelhos presentes em Book Cell são um elemento a que o artista recorre enquanto símbolo do simulacro e da infinidade, e como forma de conferir às suas instalações uma duplicação fictícia que tenta enganar o olho do visitante, tornando-se «interrogação da nossa resistência às ofensas feitas ao real, da nossa capacidade de não perder a noção do centro, mesmo quando nele nos é proposto um espelho desviante» (Ibid., p. 8). Incorporando espelhos, a instalação provocava «a vertigem da queda, a desmultiplicação ad infinitum, o pânico da desorientação espacial próprios de um infinito virtual» (Ibid., p. 4), o que levou a que à entrada da escultura fosse posto um aviso alertando os visitantes mais suscetíveis para o risco de vertigens.

No âmbito da exposição, foi realizado um conjunto de atividades complementares que incluiu visitas guiadas, visitas-jogo, oficinas e concertos encenados.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Concerto

Concertos (Im)previstos. Matej Krén e György Ligeti

24 out 2006 – 27 out 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Ciclo Zonas de Contacto

nov 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Ciclo Géneros e Modos. Matej Krén. Book Cell. O Livro como Matéria e Metáfora

nov 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00546

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, catálogo e orçamentos. 2006 – 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 111700

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2006


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