Paula Rego. Vanitas

50.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição integrada no programa das Comemorações do Cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian, que teve como objetivo principal apresentar ao público o tríptico realizado pela artista Paula Rego (1935) e a obra reeditada de Almeida Faria, Vanitas. 51 Avenue d’Iéna, que serviu de ponto de partida para a criação da pintora.
Exhibition included in the Calouste Gulbenkian Foundation’s 50th anniversary commemorations, revealing the Vanitas triptych by Paula Rego (1935) and the work that inspired it: “Vanitas. 51 Avenue d’Iéna”, by Almeida Faria.

Exposição organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e que integrou o programa das comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Apresentou ao público o tríptico Vanitas, de Paula Rego (1935), e a reedição do conto de Almeida Faria Vanitas. 51 Avenue d'Iéna, publicado pela primeira vez na revista Colóquio/Letras, em abril de 1996 (n.º 140/141, pp. 205-214).

Acedendo a um pedido especial do CAMJAP, Paula Rego deu vida à obra Vanitas, em partilha temática com o texto de Almeida Faria. O conto tem por cerne um solilóquio do fantasma ficcionado de Calouste Gulbenkian, que a ação situa no n.º 51 da Avenue d’Iéna, morada de Paris do colecionador e onde o narrador se encontra hospedado. Na ficção espectral do escritor, o colecionador continua apegado à sua coleção (Vanitas. 51, Avenue d'Iéna, 2006). Nas palavras de Faria: «A minha curiosidade queria saber mais sobre a relação do coleccionador com as obras de arte que fora adquirindo e nessas cartas descobri aspectos de uma exigência e sentido estéticos que me estimularam a insinuar-me, com as devidas liberdades ficcionais, no seu mundo mental, juntando ao conto original algumas páginas.» (Ibid., [p. 9])

O conceito de «vanitas» remete especialmente para o período barroco e baseia-se na ideia de que a beleza surge ligada à decadência física e à ruína, interligando-se com outros elementos que simbolizam riqueza, poder, glória. Na pintura, estas composições, recorrentes nos séculos XVI e XVII, diferenciam-se das restantes naturezas-mortas e demonstram a «precariedade da nossa frágil existência humana» (Ibid.). 

Todos os quadros reproduzidos ao longo do conto reeditado pertencem à Coleção do Fundador do Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e ao acervo do Museu Nacional de Arte Antiga. Nenhuma das obras em causa alude tão diretamente ao tema vanitas quanto o tríptico de Paula Rego (Inv. 06P1372), que é reproduzido logo depois da história de Faria. No conto, o fantasma de Calouste Gulbenkian refere a sua frustração por nunca ter conseguido adquirir uma pintura alusiva ao referido tema: «Foi uma das minhas frustrações, tal como a de nunca ter conseguido uma daquelas misteriosas naturezas-mortas designadas por vanitas, que traduzem em imagens o memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris.» (Ibid., p. 30)

Esta obra de Paula Rego decorrera de uma encomenda da FCG, em 2005, em que foi concedida total liberdade de criação à pintora. A obra foi então integrada na Coleção do CAMJAP, cujo diretor do CAMJAP, à data Jorge Molder, considerou posteriormente que «o trabalho de Paula Rego não tem nada a ver com o livro de Almeida Faria, a não ser a afinidade do título e a exploração do tema» (Lobo, Diário de Notícias [online], 11 jan. 2007).

No painel da direita foram representados símbolos alusivos à morte, como a caveira, a foice e o tempo (relógio). A artista, que sempre teve «vontade de fazer uma Vanitas», recorreu a personagens e objetos familiares para pintar esta obra (Lobo, Diário de Notícias [online], 12 jan. 2007). Ao painel da esquerda, descreve-o como «triste» e, no painel do centro (o maior dos três), Lila, sua modelo, «tapa tudo, põe tudo atrás da cortina e, assim, consegue viver», tendo noção de que «lá atrás existe a morte, os macacos, a doença, o álcool. A vida é mais importante do que a morte, apesar de a morte acabar com tudo. Bem… não acaba com tudo, porque cá ficam para sempre os tesouros de Calouste Gulbenkian e isso é mais forte do que a morte», explica a artista em entrevista ao Diário de Notícias (Ibid.).

A figura feminina domina esta produção pictórica, ao contrário das duas figuras masculinas que dialogam no conto de Almeida Faria. Para a artista, a mulher é símbolo de «força», «poder» e «presença» (Ibid.). No centro do tríptico, a mulher surge de braços cruzados, parecendo «disposta a “matar a morte”, como Shakespeare ousou escrever», assinalou o ensaísta Eduardo Lourenço na sua introdução à publicação, que reúne a reedição do conto de Faria e a obra Vanitas de Paula Rego (Vanitas. 51, Avenue d'Iéna, 2006). 

Por sua vez, Leonor Nazaré, curadora do CAMJAP, refere que o «tríptico de Paula Rego passa esse pressentimento de que o mundo é um sonho ruim, mesmo no fausto; um mundo enfeitado e disfarçado pelo que nos distrai mas cruelmente óbvio nos sinais que nos dá a ler» (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 80, fev. 2007, p. 24).

A inauguração da exposição e o lançamento do livro foram precedidos por uma sessão de abertura, na qual discursaram o presidente da FCG, Emílio Rui Vilar, o encenador e cineasta português Jorge Silva Melo, o escritor Almeida Faria e a artista Paula Rego. Estiveram ainda presentes múltiplas personalidades ligadas à política e ao mundo das artes.

O tríptico Vanitas, patente durante cerca de três meses na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP, foi posteriormente exposto numa das mostras permanentes da Coleção.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Vanitas

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

Vanitas, Inv. 06P1372

Vanitas

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

Vanitas, Inv. 06P1372


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

Paula Rego. Vanitas

11 jan 2007
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias

Paula Rego
Emílio Rui Vilar (esq.), Paula Rego e Jorge Silva Melo (dir.)
Emílio Rui Vilar (esq.), Paula Rego e Jorge Silva Melo (dir.)
Jorge Silva Melo
Maria Barroso (esq.). Isabel Mota (centro) e Maria Rosa Figueiredo (dir.)
Paula Rego e Jorge Silva Melo
Paula Rego e Jorge Silva Melo
Paula Rego e Jorge Silva Melo
Paula Rego e Jorge Silva Melo
Paula Rego (ao centro)
Isabel Alçada, Emílio Rui Vilar, Paula Rego e Maria Barroso (da esq. para dir.)
Emílio Rui Vilar (centro) e Isabel Alçada e Paula Rego (centro, dir.)
Maria Barroso e Emílio Rui Vilar
Isabel Alçada (à esq.), Paula Rego (ao centro), Maria Barroso (à dir.)

Multimédia


Periódicos

Lux

Lisboa, 12 jan 2007


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 107445

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2007


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