Cartier, 1899 – 1949. O Percurso de um Estilo

50.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian em colaboração com a Cartier, a exposição reuniu um conjunto de 230 joias, relógios e objetos pertencentes à Coleção Cartier. A mostra criou um diálogo com o núcleo de René Lalique pertencente à coleção do Museu e foi complementada com documentação diversa.
Organised by the Calouste Gulbenkian Museum in collaboration with Cartier, the exhibition featured 230 pieces of jewellery, watches and items from the Cartier Collection. Displayed alongside the René Lalique exhibit from the Museum’s collection, the show also included a diverse array of complementary documentation.

Organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG) em colaboração com a Cartier, a exposição «Cartier, 1899-1949. O Percurso de um Estilo» reuniu um conjunto de 230 joias, relógios e outros objetos pertencentes à Coleção Cartier, complementado por algumas peças adquiridas por Calouste Gulbenkian e por desenhos originais, moldes e diversa documentação, criando uma ligação e um diálogo com o núcleo de René Lalique pertencente à coleção do Museu.

Calouste Sarkis Gulbenkian, um pioneiro da indústria petrolífera e um eclético colecionador de arte, reuniu um conjunto de peças do joalheiro René Lalique, núcleo que é conhecido internacionalmente como um dos mais importantes da Coleção Gulbenkian e cujas joias fazem parte das primeiras aquisições do seu fundador. A joalharia francesa sempre foi alvo de interesse por parte do colecionador, que, nas décadas de 1910 e 1920, adquiriu algumas peças da Casa Cartier menos conhecidas do grande público (Cartier, 1899-1949. O Percurso de um Estilo, 2007).

Comissariada por Maria Fernanda Passos Leite e por Nuno Vassallo e Silva, a exposição deu a conhecer o percurso criativo da marca Cartier ao longo de cento e cinquenta anos de existência e abordou a evolução da joalharia e das artes ornamentais em geral na primeira metade do século XX. Integrada nas comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a mostra foi considerada a exposição mais importante de joalharia na capital portuguesa desde a exposição de joias reais apresentada no Palácio da Ajuda, em 1992 (Vitória, Jornal de Notícias, 16 fev. 2007, p. 54).

De acordo com Nuno Vassallo e Silva, então diretor-adjunto do MCG e historiador de arte e especialista em ourivesaria, a exposição evidenciou «embora com estilos diferentes, a existência de uma grande continuidade nos pormenores dos desenhos e no geometrismo, que se vislumbra mesmo em peças do início do século XX, onde surgem elementos que se expandirão na art déco» (Figueiredo, Diário de Notícias, 13 dez. 2006).

Enquadrada num leque cronológico que corresponde ao período mais importante das aquisições de Gulbenkian, entre 1899 e 1949, e além de permitir um confronto entre as peças provenientes da Coleção Cartier e o núcleo Lalique da Coleção Gulbenkian, a mostra evocou o espírito do colecionador, principalmente nas joias de inspiração egípcia, persa, indiana e chinesa, áreas representadas no percurso expositivo do MCG (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, fev. 2007, p. 14).

Uma das peças de Gulbenkian a ser apresentada foi o pendente «Coluna Grega» (representada na capa do catálogo desta exposição), em ouro, platina, ónix, diamantes e opalas, de 1913, cujo projeto de fabrico existia nos arquivos da Casa Cartier, mas que só durante a organização da exposição foi possível relacionar com a peça da Coleção Gulbenkian, segundo testemunho de Pierre Rainero, diretor do património artístico da Cartier.

Para o colecionador arménio, «as joias, porventura, materializavam a sua paixão pela vida parisiense, associando-se ao seu imenso interesse pela botânica», explica Nuno Vassallo e Silva no ensaio que redigiu para o catálogo da mostra, enaltecendo o papel da Exposição Universal de Paris e o ano de 1900, que constituíram um momento decisivo «para a aquisição de joias, ao mesmo tempo que foram estabelecidos os parâmetros para futuras aquisições» (Cartier, 1899-1949. O Percurso de um Estilo, 2007, p. 17).

O percurso da Cartier teve início com Alfred Cartier. Em 1847, em Paris, Louis-François Cartier, o mais velho dos três filhos de Alfred, comprou a oficina do seu mentor, Adolphe Picard, e, em 1853, abriu a primeira loja apenas para clientes VIP, iniciando a história deste império de joalharia e relojoaria. Em 1899, Louis-François Cartier instala-se em Paris, um ano depois de se ter associado ao seu pai, Alfred Cartier. A partir de 1902, a marca começa a sua expansão pelo mundo e os outros dois irmãos, Jacques e Pierre Cartier, são os responsáveis pela abertura de uma sucursal em Londres e, posteriormente, em Nova Iorque. No início do século XX, influenciada pela Belle Époque, a Casa Cartier já «tinha a sua fama estabelecida, graças a criações etéreas e fascinantes que as tornavam as jóias mais cobiçadas pela aristocracia europeia e pela próspera burguesia americana», contando atualmente com uma coleção de cerca de 1300 peças (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, fev. 2007, p. 15).

A mostra, idealizada desde 2003, demorou dois anos a ser organizada. Um dos documentos iniciais é um ofício enviado por Nuno Vassallo e Silva a Judy Rudoe, conservadora do British Museum, especialista em história da joalharia e responsável pela exposição «Cartier, 1900-1939», apresentada em 1997 no museu londrino e em 1998 no The Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Foi Judy Rudoe quem facultou o contacto de Pierre Rainero ao diretor-adjunto do MCG, dando início a uma colaboração entre as duas instituições (Arquivos Gulbenkian, MCG 03256).

Quando a FCG contactou a Cartier pela primeira vez, em 2003, já estava em circulação uma exposição itinerante com peças da Coleção Cartier, organizada pela instituição francesa e denominada «Le Design Cartier vu par Ettore Sottsass», a qual passou por vários locais a nível mundial, desde Houston até Seul, adiando o projeto de organização de uma eventual mostra em Lisboa (Carta de Renée Frank para Nuno Vassallo e Silva, 3 jul. 2003, Arquivos Gulbenkian, MCG 03256).

Dois anos mais tarde, o diretor do MCG, João Castel-Branco Pereira, é abordado por Renée Frank, responsável pela coordenação de exposições da Coleção Cartier, que comunicou a sua disponibilidade e a de Pierre Rainero para convocar uma nova reunião com o intuito de se organizar uma exposição em Lisboa, reforçando a ideia de que «la vocation de la Collection Cartier est cependant de s'adapter à différents musées et à de nouveaux publics» (Carta de Renée Frank para João Castel-Branco Pereira, 18 jan. 2005, Arquivos Gulbenkian, MCG 03256).

Após uma reunião realizada no dia 28 de fevereiro de 2005, em Paris, foi apresentado um «projecto de exposição com base na colecção de jóias da Casa Cartier, especialmente concebida para ser apresentada no Museu Calouste Gulbenkian». João Castel-Branco Pereira defendeu sempre a ideia de se conceber um projeto original que pudesse articular as peças da coleção francesa com o gosto art nouveau e art déco, proporcionando uma relação com o núcleo de joalharia de René Lalique pertencente à Coleção Gulbenkian (Ofício de João Castel-Branco Pereira a Renée Frank, 3 fev. 2005, Arquivos Gulbenkian, MCG 03256).

Em Lisboa, as peças selecionadas ocuparam a Galeria de Exposições Temporárias do MCG, estabelecendo-se como a décima quinta exposição da Coleção Cartier (a primeira tinha sido realizada em 1989 no Petit Palais, em Paris). Entre as peças expostas estiveram uma tiara de diamantes utilizada pela rainha Isabel da Bélgica; um alfinete de pantera encomendado em 1949 pela duquesa de Windsor; uma pulseira usada pela atriz Gloria Swanson no filme O Crepúsculo dos Deuses (1950); uma tiara encomendada pelos milionários americanos Vanderbilt; e muitas outras joias de estrelas de cinema, príncipes russos ou de marajás indianos (Figueiredo, Diário de Notícias, 9 fev. 2007, p. 4).

Peças da Casa Real Portuguesa também marcaram presença nas vitrinas e, pela primeira vez, foi apresentado ao público um relógio que D. Manuel II adquiriu à Cartier em 1908, bem como joias pertencentes à rainha D. Amélia e ao rei D. Carlos. No campo da relojoaria, a marca revolucionou o conceito do relógio, criando o primeiro relógio de pulso quadrado e, nos anos 20, os relógios de pêndulo, considerados «misteriosos» pelo facto de terem o seu mecanismo oculto (Ibid.).

Para Nuno Vassallo e Silva, um dos comissários da mostra, esta exposição teve o poder de mudar mentalidades e de reputar a joalharia, e as artes decorativas em geral, como uma arte maior: «Muitas destas peças não podem ser compreendidas sem que as relacionemos com movimentos artísticos como o Fauvismo, o Abstraccionismo ou a Art Déco.» («Gulbenkian expõe tesouros da Cartier», JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 14 fev. 2007)

A exposição foi acompanhada por um catálogo, publicado pela Skira Editore, com o principal intuito de abrir novos horizontes entre a FCG e outras instituições a nível mundial (tinha acontecido o mesmo com o catálogo da exposição «Goa e o Grão-Mogol», publicado em parceria com a editora Scala, de Londres).

Além dos textos de Emílio Rui Vilar, presidente da FCG, de Bernard Fornas, presidente e CEO da Cartier International, e de João Castel-Branco Pereira, diretor do MCG, a publicação contém reproduções fotográficas das obras expostas, todas elas acompanhadas por breves descrições redigidas por Pascale Milhaud, conservador da Coleção Cartier.

O catálogo inclui também ensaios redigidos por Nuno Vassallo e Silva («Calouste Gulbenkian na Rue de la Paix»), Maria Fernanda Passos Leite («Cartier e Lalique, mestres de tradição e vanguarda»), Pierre Rainero («Cartier 1898-1920: A afirmação de um estilo»), Judy Rudoe («Exotismo nas Jóias Cartier: A influência do Egipto, Pérsia»), Côme Remy («Mas por que diabo ir à Cartier») e Thierry Coudert («No Tempo da Café Society»).

A inauguração da exposição, no dia 14 de fevereiro de 2007, foi precedida por uma sessão de abertura, na qual discursaram João Castel-Branco Pereira, os comissários da mostra – Nuno Vassallo e Silva e Maria Fernanda Passos Leite – e Pierre Rainero. Contando com mais de trezentos convidados, o evento de inauguração da exposição mereceu a atenção de políticos, personalidades do mundo da arte, da cultura e da televisão (Ho, Jornal de Notícias, 23 fev. 2007, p. 5).

Até à data do seu encerramento, a exposição superou todas as expectativas no que respeita à afluência de público, recebendo um total de 62 911 visitantes.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Cartier

Inv. 2702

Cartier

Inv. 2784

Desconhecido

Inv. 2704

Desconhecido

Inv. 2703


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Cartier, 1899 – 1949. O Percurso de um Estilo]

fev 2007
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Visita oficial

[Cartier, 1899 – 1949. O Percurso de um Estilo]

2007
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Visita oficial
Visita oficial
Visita oficial
Visita oficial
Visita oficial
Isabel Alçada (centro, esq.), Emílio Rui Vilar (dir.)
Emílio Rui Vilar, Isabel Alçada
Emílio Rui Vilar, Isabel Alçada
Isabel Alçada, Emílio Rui Vilar (centro), Nuno Vassallo e Silva (dir.)
Emílio Rui Vilar (centro), Nuno Vassallo e Silva (dir.)
Emílio Rui Vilar
Emílio Rui Vilar (esq.)
Maria Fernanda Passos Leite (à esq.) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Maria Fernanda Passos Leite, Manuel Damásio, Margarida Prieto (da esq. para dir.) e Emílio Rui Vilar (dir.)
Mariano Piçarra (centro) e Clara Serra
Nuno Vassallo e Silva
João Carvalho Dias (ao centro), João Castel-Branco Pereira (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03261

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém contagem de visitantes, comunicado de imprensa, cartaz e recortes de imprensa. 2006 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03260

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém disposição das peças por vitrinas e projeto expositivo 2006 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03256

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, folheto. 2003 – 2007


Exposições Relacionadas

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