Integrada nas comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), esta exposição permitiu, através de uma seleção de 75 obras bibliográficas (incluindo obras adquiridas em 1899), apresentar ao público uma visão global da biblioteca de livros raros e preciosos pertencentes à coleção de Calouste Sarkis Gulbenkian, geralmente guardados em reserva por questões de conservação.

Apresentada na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), a mostra fez parte do programa comemorativo da FCG, iniciado no dia 18 de julho de 2006, com uma breve sessão solene presidida pelo presidente da República Portuguesa, à data Aníbal Cavaco Silva, e com participações do presidente da FCG, Emílio Rui Vilar, e do investigador António Barreto, que ficou encarregado da coordenação de uma publicação sobre os cinquenta anos da Fundação (RTP Notícias [online], 11 jul. 2006).

Nesse mesmo dia, a exposição, que contou com o comissariado das conservadoras do MCG Maria Queiroz Ribeiro e Manuela Fidalgo, dividiu a atenção do público com a inauguração de outras duas mostras. Uma delas foi «O Gosto do Coleccionador. Calouste S. Gulbenkian, 1869-1955», que pôs em foco um conjunto de 89 obras (algumas delas cedidas pelo Hermitage de São Petersburgo e pelo Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa), demonstrando o gosto eclético e requintado do empresário. A outra exposição, «Relations», foi constituída por obras do fotógrafo inglês Craigie Horsfield. Neste dia 18 de julho, as comemorações encerraram com um concerto da Orquestra e do Coro Gulbenkian, que interpretaram, com o soprano Elisabete Matos, a 9.ª Sinfonia de Beethoven (Ibid.).

Conhecido principalmente pela sua coleção de pintura, escultura, cerâmica, numismática, ourivesaria ou tapeçaria, Calouste Gulbenkian era também um «bibliófilo apaixonado». Reuniu, entre 1899 e 1951 (já bastante perto da sua morte, em 1955), com a mesma exigência de serem sempre os melhores exemplares, um vasto conjunto de obras bibliográficas, datadas entre o século XII e o século XX, manuscritas e impressas.

«De Paris a Tóquio» foi a viagem proposta ao espectador, que, ao longo de seis núcleos geográficos e cronológicos, teve a oportunidade de observar um conjunto de peças constituído por códices iluminados, livros impressos, ilustrados e revestidos por luxuosas encadernações, do Ocidente europeu e do mundo islâmico, bem como de um livro de estampas japonesas, datadas dos séculos XVII-XIX. A mostra foi igualmente «complementada com uma aplicação informática que permitia “folhear” algumas das obras apresentadas» (Relatório, Balanço e Contas. FCG. 2006, p. 42).

A coleção bibliográfica de Gulbenkian já tinha sido apresentada em ocasiões passadas. No âmbito das comemorações dos vinte anos da FCG, em 1976, o MCG apresentou a exposição «Arte do Livro Francês dos Séculos XIX e XX», tema que foi retomado, de acordo com o diretor do museu, João Castel-Branco Pereira, na exposição «O Livro: Objecto de Arte», em 1997. Passados três anos, os livros da biblioteca pessoal do colecionador voltaram a ganhar destaque na exposição «A Imagem do Tempo. Livros Manuscritos Ocidentais», em que, igualmente de acordo com a opinião de Castel-Branco Pereira, o MCG «apresentou, em diálogo com obras de referência provenientes de grandes colecções, o seu núcleo de livros iluminados europeus do século XIII ao século XVI, aí identificando incidências temáticas e iconográficas» (De Paris a Tóquio. Arte do Livro na Colecção Calouste Gulbenkian, 2006, p. 8).

A exposição foi acompanhada pela publicação de um catálogo, editado em português e inglês. O texto de apresentação é assinado por Emílio Rui Vilar e por João Castel-Branco Pereira, seguindo-se um breve ensaio de Maria Queiroz Ribeiro e Manuela Fidalgo, o qual aborda o tema do colecionador arménio enquanto bibliófilo, que reuniu na sua casa da Avenue d'Iéna, em Paris, uma vasta biblioteca de conhecimento.

A inauguração da mostra contou com a presença de várias personalidades da FCG, entre elas Emílio Rui Vilar, João Castel-Branco Pereira, Maria Queiroz Ribeiro, Manuela Fidalgo e Nuno Vassallo e Silva, então diretor-adjunto do MCG.

Joana Atalaia, 2019