Dominguez Alvarez. 770, Rua da Vigorosa, Porto

50.º Aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian

Exposição que assinala o centenário do nascimento do pintor Dominguez Alvarez (1906-1942), integrada nas celebrações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian. Comissariada por Ana Vasconcelos e Emília Ferreira, a exposição pretendeu revisitar a obra plástica do artista.
Exhibition marking the centenary of the birth of painter Dominguez Alvarez (1906-1942) and featured in the 50th anniversary commemorations of the Calouste Gulbenkian Foundation. Curated by Ana Vasconcelos e Melo and Emília Ferreira, the exhibition revisited Alvarez’s visual artworks.

Em 2006, no âmbito das comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian e por iniciativa do Centro de Arte Moderna, foi realizada a exposição dedicada ao artista português Dominguez Alvarez (1906-1942), assinalando o centenário do nascimento do artista. Ana Vasconcelos, curadora do CAM, e a historiadora e crítica de arte Emília Ferreira assumiram o comissariado da exposição.

A última apresentação em Lisboa da obra pictórica de Dominguez Alvarez ocorrera em 1987, fator que reforçou a vontade de se voltar a apresentar umas das figuras mais proeminentes do chamado «segundo modernismo português».

De ascendência galega, José Cândido Dominguez Alvarez nasceu no Porto, naturalizando-se português na década de 1930 para fugir à Guerra Civil Espanhola. Na década de 1920 colabora na revista Contemporânea e realiza os seus primeiros desenhos e aguarelas. Em 1928 inscreve-se no curso de Pintura da Escola de Belas-Artes do Porto. Em 1929 associa-se ao grupo modernista +Além e subscreve o manifesto «Em Defesa da Arte». Em 1931 afasta-se dos estudos por motivos de saúde, retirando-se para a Galiza, onde se mantém a pintar. Não obstante a sua morte precoce (o artista morreu aos 36 anos, de tuberculose), Alvarez deixou um considerável legado. O seu trabalho desenvolve-se em torno de um número restrito de temas plásticos: paisagens urbanas e rurais (do Porto, Minho, Galiza e Castela), cenas do quotidiano, que incluem «figuras negras e tortas, sobretudo masculinas, alguns cenários fabris e de trabalho fluvial, as admiráveis figuras à chuva, retratos de personagens vistas em primeiro plano sobre paisagens fundeiras e as majestosas torres das catedrais espanholas, Segóvia e, sobretudo, Santiago de Compostela» («Exposição Dominguez Alvarez», Newsletter. FCG, 2006, p. 7).

Como escreveu Joana Baião: «Alvarez capta na sua obra as paisagens rurais e urbanas que visita nas viagens que faz pelo Minho, Galiza e Castela, muitas vezes habitadas por personagens que vagueiam tristes. Pictoricamente inspirado na longa tradição naturalista, desenvolve uma expressão expressionista e surrealista em pinturas marcadas por uma paleta ocre e carmim e por uma intensa presença matérica que reflecte um bom domínio técnico e plástico.» (Baião, «Dominguez Alvarez», MNAC)

Apesar de só ter realizado uma exposição individual em vida (em 1936, no Porto), a obra de Alvarez não caiu no esquecimento após a sua morte, graças aos esforços de um grupo de amigos e entusiastas que, juntamente com o pai do artista, organizaram logo em 1942/43 uma exposição de homenagem apresentada no Porto e em Lisboa. A obra plástica de Dominguez Alvarez tem estado representada em várias exposições de arte portuguesa do século XX.

No texto que coassinam no catálogo da exposição, as comissárias referem: «O nosso primeiro contacto com a obra de Dominguez Alvarez deu-se, por proximidade física, através das peças pertencentes ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. […] Demasiado inquietante para passar despercebido, presença ímpar e marcante numa geração – e, também, numa colecção – Alvarez tornou-se para nós um modo obsessivo de ver.» (Vasconcelos; Ferreira, Dominguez Alvarez…, 2006, p. 15)

A exposição propunha, assim, o reencontro com um artista com um trabalho iconográfico já estabelecido, mas cujo estudo permanecia ainda em aberto. Contudo, as curadoras advertiam: «Não se tratando de uma retrospectiva, não poderíamos expor tudo o que encontrámos. Além disso, algumas peças de sua autoria permanecem nas mãos de coleccionadores que, por ora e por diversas razões, não as puderam ceder.» (Ibid.)

A concretização do projeto contou com um largo número de pessoas relacionadas com o artista, que contribuíram para o tratamento e investigação das obras. Conforme relataram Ana Vasconcelos e Emília Ferreira: «Tecida com a cumplicidade e os generosos apoios dos herdeiros desses antigos amigos e colecionadores, esta exposição tornou-se assim possível; por vezes, quase impossível de pensar e resolver na imensidão da obra encontrada.» (Ibid., p. 16)

O subtítulo da exposição, «770, Rua da Vigorosa, Porto», homenageia o local da cidade do Porto que várias vezes foi palco de encontros entre Alvarez e os seus amigos: «Em muitas conversas de testemunhos próximos, na evocação de episódios da sua biografia, a Rua da Vigorosa surge mencionada com frequência.» (Ibid.)

José Dominguez Alvarez é um artista particularmente bem representado na coleção do CAM, que detém 39 obras em pintura e desenho. Além destas, a mostra integrou obras de numerosos acervos públicos e privados, reunindo cerca de duas centenas de trabalhos, entre os quais vários inéditos, incluindo quatro álbuns de desenhos e pinturas sobre papel, de pequeno formato, realizados durante as viagens do artista pelo norte de Portugal e Espanha.

O percurso expositivo desenvolveu-se ao longo de diversos núcleos, organizados segundo critérios cronológicos e por afinidades temáticas, formais e conceptuais. O primeiro núcleo, reuniu alguns dos motivos iconográficos que mais marcaram a sua pintura: ruas pobres e tascas do Porto, figuras à chuva e cenas de enterro e cemitérios (de 1929/30). Seguiram-se núcleos concentrados na vida portuense e nas viagens por Espanha – com destaque para a Galiza (Compostela, Pontevedra), região de origem da família Alvarez, mas também de Castela (Segóvia, Toledo). E uma última secção, dedicada ao tema da paisagem, com pinturas já do final de vida do pintor. A exposição encerrava com um diaporama feito a partir de cadernos de esboços encontrados durante a pesquisa realizada para a exposição, e que eram trazidos a público pela primeira vez. As paredes da exposição acolheram ainda excertos de textos e poemas que de algum modo se relacionam com as peças.

Ana Vasconcelos e Emília Ferreira orientaram várias visitas guiadas à exposição, assim como Ana Sá Fernandes e Hilda Frias, que realizaram visitas especificamente centradas nos aspetos materiais e técnicos da obra de Dominguez Alvarez. Foi igualmente organizada a oficina para crianças e famílias «Dentro de uma Pintura», orientada por Cristina Gameiro.

Editado pela Fundação Calouste Gulbenkian em versão bilingue (português/inglês), o catálogo da exposição integra, além do texto das curadoras, diversos textos de investigadores: Jorge Molder, António Medeiros, Ana Sá-Fernandes e Antonio Trinidad Muñoz. A análise da obra de Dominguez Alvarez e a abordagem dos aspetos materiais e técnicos da sua produção artística são estudados no texto de Antonio Trinidad Muñoz, autor de uma tese de doutoramento sobre o artista. A monografia inclui ainda a lista completa das obras apresentadas e respetivas reproduções, bem como o currículo do artista.

O acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo, tendo sido possível reunir vários artigos dedicados à exposição. A título exemplificativo, destacamos as impressões de alguns dos autores.

Alexandre Pomar refere que a exposição «abre novas perspectivas sobre a obra e vida do pintor». E acrescenta: «É, afinal, uma exposição com surpresas, que dá acesso a documentos em primeira mão ou inéditos, e abre pistas para desconstruir os mitos em que o artista foi envolvido.» Concluindo: «A obra fica ao dispor de novas interpretações, e os cadernos de estudos (expostos e projectados) darão mais pistas sobre datas e processos de trabalho.» (Pomar, Expresso, 27 mai. 2006)

Luísa Soares de Oliveira elogiou o trabalho das curadoras, que revelaram «uma preparação minuciosa e completa» do material da exposição (Oliveira, Público, 20 mai. 2006, p. 14).

David Santos assinala os resultados da revisitação da obra de Alvarez: «O lugar de Dominguez Alvarez na história da arte portuguesa esteve até hoje ligado a um consenso inerte, feito de lugares comuns com referência a algumas obras mais ousadas e quase sempre apressadamente catalogadas de expressionistas […]. Depois do aturado trabalho de investigação conduzido por Ana Vasconcelos e Melo e Emília Ferreira […], percebe-se finalmente uma visão de conjunto sobre a importância do trabalho pictórico de Dominguez Alvarez.» O autor nota que, apesar da morte prematura, Alvarez «foi um pintor de grande fulgor e participação, merecendo há muito uma exposição deste teor e amplitude, que fizesse jus, afinal, à sua condição de artista maior da nossa segunda geração modernista» (Santos, «Céu encarvoado», Arte Capital, mai-out. 2006).

Na sequência da exposição, a FCG foi contactada pelo Museu de Pontevedra (Espanha), que se mostrou interessado na apresentação da mostra nas suas instalações. Parte da exposição veio a inaugurar a 3 de março de 2007 em Pontevedra. Segundo os diretores dos museus responsáveis pela organização da itinerância, Jorge Molder e José Carlos Valle Pérez (Museu de Pontevedra): «Esta exposição é a primeira internacionalização deste pintor galaico-português, de raízes culturais e artísticas marcadamente espanholas, e que simbolicamente começa por um “regresso a casa”, uma vez que a mãe de Alvarez era natural da freguesia de San Martín de Salcedo, hoje totalmente integrada na cidade de Pontevedra, e para onde Alvarez vai viver aos 17 anos.» (Carta de Molder e Valle Pérez para a Fundação Cupertino Miranda, 23 out. 2006, Arquivos Gulbenkian, CAM 00547)

Finda a exposição em Lisboa, Emília Ferreira e Ana Vasconcelos dirigiram a Emílio Rui Vilar, então presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, uma proposta para o apoio da Fundação na realização do catálogo raisonné da obra plástica de Dominguez Alvarez (Carta de Emília Ferreira para Emílio Rui Villar, 14 nov. 2006, Arquivos Gulbenkian, SBA 21404).

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Adega do Galo

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Adega do Galo, Inv. 83P444

Auto-retrato

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Auto-retrato, Inv. 83P625

Casa das Violas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casa das Violas, Inv. 68P298

Casario (Galiza)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casario (Galiza), Inv. 83P679

Catedral

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Catedral, Inv. 83P666

Catedral de Segóvia

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Catedral de Segóvia, Inv. 83P684

D. Quixote

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

D. Quixote, Inv. 83P445

Estudo (Cópia de El Greco)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Estudo (Cópia de El Greco), Inv. 83P694

Louco

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Louco, Inv. 83P82

Paisagem

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem, Inv. 83P665

Paisagem

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem, Inv. 83P685

Paisagem

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem, Inv. 83P687

Paisagem - Casario e barcos

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem - Casario e barcos, Inv. 83P683

Paisagem com casas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem com casas, Inv. 83P680

Paisagem com castelo

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem com castelo, Inv. 83P678

Paisagem com ponte

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem com ponte, Inv. 83P677

Paisagem de Frias

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Paisagem de Frias, Inv. 83P446

Pórtico da Catedral de Santiago de Compostela

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Pórtico da Catedral de Santiago de Compostela, Inv. 83P686

Segóvia

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Segóvia, Inv. 83P84

Sem título

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título, Inv. 83P690

Sem título

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título, Inv. 83P676

Sem título

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título, Inv. DP320

Sem título

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título, Inv. DP1598

Sem título

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título, Inv. DP1735

Sem título (Aspecto de rua com figuras)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título (Aspecto de rua com figuras), Inv. 83P664

Sem título (Figuras)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título (Figuras), Inv. 83P691

Sem título (Rua ao Sol)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título (Rua ao Sol), Inv. 83P83

Sem título (Rua com casas)

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Sem título (Rua com casas), Inv. 83P692


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Dominguez Alvarez. 770, Rua da Vigorosa, Porto]

mai 2006 – out 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Dominguez Alvarez. 770, Rua da Vigorosa, Porto]

10 jun 2006 – 30 set 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Emílio Rui Vilar (ao centro)
Jorge Molder
Helena de Freitas (à esq.) e João Pinharanda (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.)
João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à dir.)
Emília Ferreira (à dir.)
Leonor Nazaré (à esq.)
José Sommer Ribeiro
Manuel Costa Cabral
Emílio Rui Vilar (ao centro)
Jorge Molder (à esq.)
Emília Ferreia (à esq.) e Ana Vasconcelos (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Jorge Molder (ao centro) e Ana Vasconcelos (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) Emília Ferreia (ao centro, à esq.), Jorge Molder (ao centro, à dir.) e Ana Vasconcelos (à dir.)
Emília Ferreia (à esq.) e Ana Vasconcelos (à dir.)

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00547

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedidos de empréstimos e seguros das obras. 2005 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00548

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedidos de empréstimos e seguros das obras. 2005 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00549

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedidos de empréstimos e seguros das obras 2005 – 2007

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21404

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém proposta de realização do «catálogo raisonné» da obra plástica de Domingos Alvarez. 2006 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 111533

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 116947

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2006


Exposições Relacionadas

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