Arquitetos Álvaro Dentinho e Ilídio Araújo, com Ana Sousa Dias

No âmbito da exposição «Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian. Francisco Caldeira Cabral e a Primeira Geração de Arquitectos Paisagistas, 1940-1970», patente na FCG em outubro de 2003, foram produzidas várias entrevistas. Este registo videográfico documenta duas delas, conduzidas por Ana Sousa Dias (1956) aos arquitetos Álvaro Dentinho (1924-2014) e Ilídio Araújo (1925-2015).

A entrevista a Álvaro Dentinho centra-se na sua biografia e atividade profissional. O arquiteto conta-nos as suas escolhas e experiências académicas e profissionais, os seus interesses culturais e intelectuais, assim como a convivência com os seus colegas de curso e profissão nas aulas do conceituado professor Caldeira Cabral (1908-1992).

Ana Sousa Dias interroga o arquiteto sobre o que mudou na arquitetura portuguesa depois de Caldeira Cabral, ao que Álvaro Dentinho responde: «Eu julgo que o “Ver”…», destacando o papel pioneiro do professor no ensino da arquitetura paisagista nacional. A conversa foca ainda projetos desenvolvidos pelo entrevistado e pela sua equipa em vários pontos do país, incluindo os passeios/caminhos aos quadrados do Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.

Na entrevista a Ilídio Araújo, este recorda que começou por estudar com bastante empenho agronomia, pois seria um sonho de infância, mas, entretanto, diz ter descoberto a arquitetura paisagista («portanto matriculei-me!»). Aluno do professor Caldeira Cabral, Ilídio Araújo comenta que as aulas eram conversas que aquele tinha com os alunos e que, «mesmo sobre futebol, a gente notava que havia nele qualquer coisa de diferente […], a gente aprendia com ele». Num breve esclarecimento acerca da distinção entre um agrónomo e um arquiteto paisagista, o entrevistado diz: «O mais importante não são as técnicas que a gente apreende […]. Há um saber-fazer que só se aprende com os mestres ou à custa de muitos anos de trabalho e de fazer muitas asneiras.»

Na aprendizagem com o professor Caldeira Cabral, destaca o sentido de Unidade: «A gente saía do curso de Agronomia a ver as coisas todas na especialidade […]; faltava a unidade que nos dava o professor, e a questão do ordenamento paisagista e urbano.»

Ao recordar a serra da Lameira (de onde é natural), diz: «Eu tinha uma perspetiva do mundo muito integrada, onde as pessoas se conheciam todas. Lembro-me quando li a Ilíada, tive a sensação de estar na minha terra, na minha aldeia, estava em casa. Os inimigos eram todos conhecidos, os campos de batalha também […], e tudo aquilo tinha um sentido muito social, aquilo era uma comunidade, vivia-se numa economia muito fechada […]. O meu curso universitário foi na serra da Lameira. Sempre que eu preciso de uma visão integrada das coisas, faço apelo ao meu conhecimento universitário até aos onze anos.»

Ilídio Araújo refere trabalhos desenvolvidos em colaboração com Sousa da Câmara (1929-1992), com Viana Barreto (1924-2012) ou ainda com Ribeiro Telles (1922-2020). São também mencionados os tempos em que trabalhou como arquiteto paisagista em equipas de engenheiros e economistas agrónomos, momento em que o arquiteto reconhece a mais-valia das pesquisas a que se dedicou, sobretudo de bibliografia inglesa, relativamente a matérias de planeamento, geografia agrária e ordenamento do território. A conversa aborda as viagens realizadas pelo arquiteto, particularmente ao Reino Unido (subsidiada pela FCG), à Holanda e à Alemanha. É ainda salientada, brevemente, a sua experiência política como secretário de Estado, a convite de Gonçalo Ribeiro Telles, no governo de Sá Carneiro (1934-1980), em 1975. Comenta ainda o contexto nacional naqueles anos, considerando a urgência de salvar o país da desgraça nacional e da destruição da paisagem portuguesa. Acerca da FCG (local onde decorre a entrevista), responde: «Aqui era a Feira Popular […]. Agora isto está mais bonito […], é um espaço muito agradável, que é único talvez no país.»

Edição
Lisboa: O Som e a Fúria, 6 fev 2003
Duração
1 h 18 min 14 s
Participante(s)
Ilídio de Araújo, Álvaro Ponce Dentinho
Jornalista / Apresentador
Ana Sousa Dias
Proveniência
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / CDVD 0227
Direitos
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