Pēteris Vasks é uma das figuras mais eminentes da cultura letã da atualidade. Depois de ter colaborado, enquanto contrabaixista, com várias orquestras do seu país, foi já em meados da década de 1970 que se inscreveu no Conservatório Estatal de Vilnius para estudar composição com Valentin Utkin. A sua atividade foi condicionada durante o período soviético, devido à natureza das suas convicções artísticas e religiosas (era filho de um pastor batista), e foi já durante a década de 1990 que a sua obra começou a adquirir um amplo reconhecimento internacional. Numa primeira fase, o seu estilo partiu dos modelos de Witold Lutosławski, Krzysztof Penderecki e George Crumb – em particular da sua experimentação aleatória –, começando depois também a recorrer a técnicas minimalistas e a incorporar elementos do folclore letão. A sua música, de grande clareza comunicativa, privilegia temas como a vida e a espiritualidade, ou a relação entre o Homem e a Natureza, bem como a sua biografia pessoal e a história recente do povo letão.
A música coral ocupa um lugar destacado na produção de Vasks, e também neste campo o compositor procura consistentemente veicular os seus apelos. Composta originalmente em 2000, para coro misto a cappella, a sua Missa seria no ano seguinte adaptada numa versão para coro e órgão, e ainda, em 2005, numa versão para coro e orquestra de cordas, contando-se desde então entre as suas peças corais mais populares. Atraído pela liturgia latina, nesta obra Vasks procura deliberadamente explorar tanto o significado como a própria sonoridade das palavras, perfilhando a sua convicção de que a missão da música é transmitir valores espirituais que transcendem a dimensão secular.
O Agnus Dei, que encerra a obra, inicia-se com um acorde expectante nas cordas, sobre o qual as vozes enunciam as palavras “Agnus Dei” numa atmosfera contemplativa. Em “qui tollis peccata mundi” a música torna-se mais dramática e dissonante, e em “miserere nobis” retorna o ambiente expressivo e piedoso. O conjunto destas passagens é repetido uma e outra vez, culminando desta feita num momento particularmente dramático, que dá lugar às palavras “Dona nobis pacem”, reiteradas com serenidade.