Mahler: Adagietto

Orquestra Gulbenkian / Giancarlo Guerrero

Sob a direção do maestro Giancarlo Guerrero, a Orquestra Gulbenkian interpreta o célebre quarto andamento da Sinfonia n.º 5 de Gustav Mahler.
Pedro Russo Moreira 09 dez 2022 12 min

A Sinfonia n.º 5 de Gustav Mahler foi composta no dealbar do séc. XX, marcando uma visão inovadora do compositor sobre o género sinfónico, com uma escrita puramente orquestral e aspetos formais de linguagem musical que pretendiam abrir outros caminhos para música. A obra estreou em Colónia a 18 de outubro de 1904, com o compositor na direção da Orquestra Gürzenich, sendo muito bem recebida pelo público e pela crítica. Numa carta à sua esposa Alma, que não esteve presente devido a problemas de saúde, relata aspetos da receção e do caráter inovador da obra, referindo que gostaria que fosse tocada 50 anos após a sua própria morte!

Mahler dedicou a sua máxima atenção à composição da Sinfonia n.º 5. Iniciou-a no verão de 1901, no seu período de férias das funções como diretor da Ópera da Corte de Viena e de recuperação devido a problemas de saúde, e terminou-a no verão do ano seguinte. Este período foi particularmente marcante e feliz na sua vida, pois coincidiu com o casamento com Alma Schindler, que teria lugar em março de 1902, e com o nascimento da sua primeira filha, Maria Anna, em novembro desse ano.

A Sinfonia n.º 5, alvo de várias revisões, está estruturada em cinco andamentos, distribuídos por três partes. O primeiro andamento, Trauermarsch (Marcha fúnebre) inicia-se com um motivo (solo de trompete) que tem sido interpretado como uma alusão ao motivo de quatro notas da Sinfonia n.º 5 de Beethoven, mas também como citação do início da Generalmarsch do exército austro-húngaro. Encaminha-se depois, de modo quase processional, para o tema principal nas cordas, demonstrando mudanças de cor e textura, por vezes quase inesperadas, com ambientes mais sombrios e dramáticos. De notar o modo como os metais se articulam com as cordas e a percussão num discurso intenso e quase cru, conduzindo a momentos perenes, como o próprio final, onde o motivo inicial surge novamente.

O segundo andamento partilha material temático com o anterior, iniciando-se de forma intensa e dramática, com um ambiente trágico, que desagua numa secção melódica mais contida, mas que se vai transformando com impetuosidade. De destacar a secção coral dos metais, com caráter vitorioso, que antecede o final, no qual Mahler retoma o material inicial.

O terceiro andamento, Scherzo, integra a Parte II, inspirando-se em elementos musicais da valsa e de danças populares austríacas, com secções específicas que colocam em evidência os diferentes naipes, permitindo explorar texturas, timbres e cores da orquestra.

A Parte III inicia-se com o quarto andamento, Adagietto, o mais conhecido de Mahler, apenas interpretado pelas cordas e harpa. O compositor guia-nos por uma sonoridade mais intimista entre momentos etéreos e emocionalmente dramáticos, com texturas e massas sonoras de densidades diferentes, no que alguns consideram ser uma carta de amor a Alma, sua esposa.

O quinto andamento, Rondo-Finale, é revelador do interesse de Mahler pela utilização do contraponto. Inicia-se de forma dialogante, seguindo num ambiente mais luminoso e radiante, marcado pelo contraponto. O compositor utiliza o coral dos metais do segundo andamento, criando mais uma ligação entre os andamentos e transmitindo um sentido de unidade da obra, mantendo uma orquestração rica que culmina num final triunfante.


Intérpretes

  • Maestro

Programa

Gustav Mahler

Sinfonia n.º 5, em Dó sustenido menor
4. Adagietto: Sehr langsam (Muito lento)

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