Tout un monde lointain… resultou de uma encomenda realizada pelo maestro Igor Markevich, no início da década de 60, para a Orchestre Lamoureaux. Escrita entre 1967 e 1970, a obra destinou-se ao violoncelista Mstislav Rostropovich, que a estreou no Festival Internacional de Arte Lírica de Aix-en-Provence a 25 de julho de 1970. Essa apresentação foi levada a cabo pela Orquestra de Paris, sob direção de Serge Baudo.
Tout un monde lointain… é uma obra concertante para violoncelo. Dividida em cinco andamentos, Dutilleux inspirou-se em As flores do mal, livro revolucionário de poemas de Charles Baudelaire. Os títulos dos andamentos são retirados dessa obra e tocados sem interrupção; as cinco partes requerem um grande domínio do violoncelo e empregam um colorido orquestral muito próprio. Dutilleux baseia-se numa sequência de doze sons e valoriza o timbre e a descontinuidade rítmica, colocando Tout un monde lointain… na esteira do serialismo, tendência dominante na Europa Ocidental da época. Contudo, o compositor atribui maior relevância a alguns sons da série, permitindo uma abordagem flexível, conciliando o pontilhismo com uma abordagem mais lírica.
Essa hierarquia é audível logo em Énigme, que destaca a apresentação do material principal pelo solista, acompanhado esparsamente pela orquestra, concentrada em massas sonoras. Neste andamento, o violoncelista interpreta variações sobre a série e apresenta os motivos que serão posteriormente transformados. Entre a angularidade e o melodismo cantabile, Énigme desenrola-se com a entrada progressiva de instrumentos, contrapondo conjuntos de câmara a momentos solistas. A atmosfera etérea e expressiva de Regard remete para um estatismo contemplativo, até retomar materiais de Énigme no final. Assim, liga-se a Houles, um episódio cinético em que se destaca o papel assertivo e virtuosístico do solista face às figurações rápidas dos instrumentos de sopro. A troca de material entre o violoncelo e a orquestra caracteriza Miroirs, um andamento cristalino de textura esparsa no qual se suspende a narrativa temporal. Tout un monde lointain…termina com Hymne, um clímax movimentado e enérgico em que Dutilleux recapitula e mistura os materiais de todos os andamentos, enfatizando ostinati de caráter percussivo.