Johannes Brahms desenvolveu um estilo musical firmemente arreigado nos modelos e técnicas composicionais barrocos e clássicos, herança que aliou a idiomas folclóricos e de dança coevos, bem como a uma sensibilidade romântica própria, numa abordagem sempre diligente e perfeccionista ao processo criativo. Em 1868, pouco após a estreia de Ein deutsches Requiem, o compositor tomou contacto com o poema “Hyperions Schicksalslied”, do romance epistolar Hyperion, de Friedrich Hölderlin, iniciando desde logo o trabalho numa nova obra para coro e orquestra, intitulada Schicksalslied [Canção do destino]. Mas a sua gestação seria difícil, devido à indecisão do compositor relativamente ao modo como a deveria concluir, tendo sido terminada já em 1871.
Considerada uma das suas principais obras corais, a peça partilha muitas características com o Requiem e com a Rapsódia para contralto, op. 53, de 1869-70, estabelecendo também um modelo a que o compositor regressaria mais tarde em Nänie, op. 82, e Gesang der Parzen, op. 89. O poema de Hölderlin compreendia dois momentos, evocando a pacífica estase característica da condição imortal das divindades e fazendo-a contrastar com a tumultuosa vida dos seres mortais, uma oposição que é amenizada pelo compositor. A obra inicia-se com um sereno prelúdio orquestral, Adagio, em Mi bemol maior, no qual a melodia coral é enunciada pelos contraltos e reiterada pelos sopranos sobre as expressivas harmonias construídas pelas restantes vozes, introduzindo desde logo um ambiente evocativo de uma existência espiritual ideal. Segue-se um turbulento Allegro em Dó menor, que rompe com uma figuração inquieta nas cordas e com o amargurado lamento entoado pelo coro em uníssono, ambos sugestivos da atormentada condição terrena. Após um breve interlúdio orquestral, que dá lugar a duas curtas secções fugadas, este Allegro é recapitulado, agora em Ré menor, encerrando com uma longa pedal sobre Dó que prenuncia o último andamento. O Adagio final é um poslúdio puramente orquestral, em Dó maior, que retoma o material da secção inicial, elaborado com uma instrumentação mais rica e no qual Brahms suplanta a terrífica visão de Hölderlin revisitando a esfera celestial.