Beethoven: Sinfonia n.º 2
Orquestra Gulbenkian / Hannu Lintu
A Sinfonia n.º 2, em Ré maior, op. 36, de Ludwig van Beethoven, representa um passo decisivo rumo ao alargamento do ideal sinfónico do compositor, num momento de crise existencial profunda, assinalada pelo agravamento do seu estado de surdez e pelo denominado “testamento de Heiligenstadt”. Apesar de se contar entre as obras mais conservadoras de Beethoven, a Sinfonia n.º 2 desvela já um horizonte promissor em termos de alargamento da forma e do potencial idiomático dos diferentes naipes orquestrais.
Uma introdução lenta e solene precede o Allegro con brio inicial. Um primeiro tema de contornos vivos é exposto sobre um conjunto de células rítmicas repetitivas, nas partes mais graves da textura. Uma breve secção em tonalidade menor precede, por sua vez, o segundo tema, na tonalidade dominante, Lá maior. O seu perfil ascendente parece anunciar os primeiros compassos da Sinfonia n.º 3, Heroica. Depois da secção de desenvolvimento, baseada no primeiro tema da exposição, tem lugar a réplica quase literal da secção inicial do Allegro, no curso da recapitulação. Uma coda final virá a evidenciar todo o fulgor rítmico do tema inicial.
O segundo andamento utiliza, do mesmo modo, dois temas distintos. O primeiro deles, exposto pelas cordas e depois retomado pelos sopros numa atmosfera de acentuada melancolia, foi qualificado por Hector Berlioz como “puro e cândido”. O diálogo entre os instrumentos intensifica-se, alcançando-se gradualmente a tonalidade de Dó maior, na qual surgirá o segundo tema, de cariz dançante.
O tema principal do terceiro andamento, um Scherzo, caracteriza-se pela alternância serrada de dinâmicas forte e piano. O Trio intermédio detém recorte popular, sublinhado pelas intervenções incisivas dos oboés e dos fagotes. O andamento encerra com repetição da capo.
O andamento conclusivo da Sinfonia estrutura-se segundo uma forma livre de rondó, marcada por tema fogoso que é introduzido pelos violinos em notas ponteadas. Este final, julgado “monstruoso” por alguns contemporâneos de Beethoven, é o resultado do desenlace das múltiplas tensões acumuladas ao longo dos três andamentos anteriores, preconizando-se nele um dos traços mais distintivos dos andamentos finais das futuras sinfonias do compositor.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Hannu Lintu
Maestro Titular
O maestro finlandês Hannu Lintu é o atual Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian. Em paralelo, prossegue o seu trajeto como Maestro Principal da Ópera e Ballet Nacionais da Finlândia. Reafirmando a sua mestria nos domínios sinfónico e operático, estas responsabilidades são o corolário dos grandes sucessos obtidos em concertos com a Orquestra Gulbenkian, bem como na liderança de produções com a Ópera e Ballet Nacionais da Finlândia, incluindo Salome de R. Strauss, Turandot de Puccini e Billy Budd de Britten.
Ao longo da temporada 2023-24, Lintu dirigirá, na Finlândia, a ópera O Crepúsculo dos Deuses, completando o ciclo O Anel do Nibelungo, de Wagner, bem como produções de Dialogues des Carmelites de Poulenc e Don Giovanni de Mozart. Outros destaques incluem estreias à frente da Filarmónica de Berlim, da Sinfónica NHK e da SWR Symphonieorchester, e novas colaborações com a Sinfónica de Boston, a Sinfónica de Chicago, a Orchestre de la Suisse Romande, a Orquestra do Minnesota, a Sinfónica Nacional da RAI e o Festival Internacional George Enescu.
Nos últimos anos, Hannu Lintu dirigiu, entre outras orquestras, a Filarmónica de Nova Iorque, a Sinfónica da Rádio da Baviera, a Orquestra Nacional da Radio France, a Sinfónica da Rádio Sueca, a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, a Sinfónica da BBC, a Radio Filharmonisch Orkest, a Sinfónica de Atlanta, a Sinfónica de St. Louis, a Orquestra do Konzerthaus de Berlim, a Orquestra de Câmara de Lausanne e a Sinfónica de Montreal, bem como solistas como Gil Shaham, Kirill Gerstein, Daniil Trifonov ou Sergei Babayan.
Hannu Lintu gravou para as editoras Ondine, Bis, Naxos, Avie e Hyperion. A sua diversificada discografia abarca gravações de obras orquestrais de Magnus Lindberg, os cinco Concertos para Piano de Beethoven, com Stephen Hough, e as Sinfonias n.º 1 a n.º 4 de Lutosławski, todas com a Orquestra Sinfónica da Rádio Finlandesa. Recebeu vários prémios, incluindo dois ICMA para os Concertos para Violino de Béla Bartók, com Christian Tetzlaff, e para a gravação de obras de Sibelius, com Anne Sofie von Otter. Estas duas gravações, bem como Kaivos, de E. Rautavaara e os Concertos para Violino de Sibelius e de T. Adès, com Augustin Hadelich e a Royal Liverpool Orchestra, foram nomeados para os prémios Gramophone e Grammy.
Hannu Lintu estudou violoncelo e piano na Academia Sibelius, em Helsínquia, instituição onde mais tarde se formou em direção de orquestra com Jorma Panula. Estudou também com Myung-Whun Chung na Accademia Musicale Chigiana, em Siena. Em 1994 venceu o Concurso Nórdico de Direção de Orquestra, em Bergen.
Programa
Ludwig van Beethoven
Sinfonia n.º 2, em Ré maior, op. 36
1. Adagio molto – Allegro con brio
2. Larghetto
3. Scherzo: Allegro – Trio
4. Allegro molto