Exposição coletiva organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) no âmbito do Festival dos Descobrimentos. Realizada a pedido do Centro Cultural de Lagos, a mostra foi igualmente associada às comemorações do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian.

Com curadoria de Leonor Nazaré, «Naturalia» integrou um conjunto de obras (esculturas, pinturas, desenhos e fotografias) cujo tema dominante foi a representação de motivos vegetais e a relação entre o património vegetal e artístico. A exposição fazia ainda a ponte com uma outra mostra patente no Centro Cultural de Lagos, desta feita de caráter documental, denominada «Plantas Viajantes. Cores e Sabores do Novo Mundo», que comemorava os quinhentos anos da morte de Cristóvão Colombo, dando a conhecer as profundas alterações que o descobrimento do continente americano produziu na paisagem natural e nos hábitos alimentares da Europa.

Segundo Alexandre Barata, responsável pela programação de artes plásticas do Centro Cultural de Lagos, a mostra constituiu uma oportunidade de levar ao Algarve parte do acervo de arte do século XX pertencente ao CAMJAP. A iniciativa teve ainda o propósito de associar as comemorações do cinquentenário da Fundação Gulbenkian aos Descobrimentos, temática escolhida pelo Centro de Lagos para os meses de outubro e novembro daquele ano («Uma floresta de arte no Centro Cultural de Lagos», Barlavento, 1 nov. 2006).

Composta por obras de 13 artistas representados na coleção do Centro de Arte Moderna – Alberto Carneiro, Fernand Léger, Lourdes Castro, Maria Beatriz, Catarina Leitão, Pedro Proença, Alexandre Conefrey, Pedro Calapez, Jorge Guerra, Manuel Valente Alves, Gabriela Albergaria, Rui Vasconcelos e João Queiroz –, a mostra constituiu, de acordo com Leonor Nazaré, «um desafio a que foi relativamente fácil responder, porque havia obras na colecção que tinham o universo vegetal por referência» (Ibid.).

À entrada, a instalação de Alberto Carneiro Uma Floresta para os teus Sonhos (1970), com os seus troncos a várias alturas, convidava a uma imersão total na obra, apelando aos cinco sentidos do visitante.

Atravessada a floresta de Alberto Carneiro, perfilavam-se seis fotografias de Manuel Valente Alves, intituladas com nomes de hotéis famosos do século XX – Royal, Continental, President, Plaza, Ambassador e Victoria –, mas, em lugar dos hotéis a que os títulos aludiam, as imagens captadas mostravam «paisagens desoladas, áridas» (Ibid.). Do conjunto fotográfico, como de outras obras apresentadas, emergia uma «sensação de vazio, de fogo que tudo varreu e apenas deixou a memória dos lugares e das coisas» (Ibid.). Todavia, na leitura de Leonor Nazaré (cujo testemunho é recolhido pelo semanário Barlavento), mais que uma reflexão sobre o «fogo real», esta exposição levava o visitante a «reflectir sobre o fogo interior, mais destrutivo no mau sentido» (Ibid.).

Na melancolia das composições fotográficas de Maria Beatriz, centradas em «ausências» e «despedidas» (Maria Beatriz. Vita Brevis, 2002, p. 9), nas criações coloridas e infantilizadas de Alexandre Conefrey ou na negação do verde característico da natureza nas obras de Pedro Calapez, a mostra remetia para os «problemas do ambiente, da desertificação ou do desordenamento do território», nas palavras de Alexandre Barata («Uma floresta de arte no Centro Cultural de Lagos», Barlavento, 1 nov. 2006).

A exposição foi acompanhada pela publicação de um catálogo, editado pelo Centro Cultural de Lagos com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian, o qual conta com um texto da autoria da curadora.

Joana Atalaia, 2019