João Queiroz. Pintura

Exposição temporária de trabalhos de João Queiroz (1957), comissariada por Jorge Molder. Foram apresentadas seis pinturas de grandes dimensões, com a representação de paisagens que buscavam a tradução das sensações causadas pelo encontro do artista com a natureza.
Temporary exhibition of works by João Queiroz (1957) curated by Jorge Molder. The show featured six large-scale landscape paintings that sought to communicate the feelings that the artist had experienced when in contact with nature.

Exposição de pintura de João Queiroz (1957), produzida pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e comissariada por Jorge Molder, diretor do CAMJAP. A exposição esteve patente ao público de 12 de abril a 1 de outubro de 2006, na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP, apresentando um conjunto de seis pinturas de paisagem, adquiridas pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) após o encerramento da mostra.

O conjunto de pinturas expostas integrava-se numa prática que Queiroz desenvolveu a partir de 1997, data em que realizou uma residência artística no Feital (Beira Alta), cuja paisagem terá contribuído para reforçar o apelo pela natureza. As seis telas de grande formato oferecem-se assim como janelas sobre a paisagem, um tema clássico que, todavia, se furta a espartilhos metodológicos e a categorias predefinidas. Com efeito, apesar de partir de esboços captados na natureza e posteriormente desenvolvidos em ateliê, o trabalho de Queiroz não visa a representação mimética, mas a síntese, a expressão da essência, algo a que chega através de um exercício conceptual a que porventura não será alheia a sua formação em filosofia. Na entrevista que concede a Maria Leonor Nunes, publicada no JL, Queiroz desvenda um pouco do seu processo de trabalho: «Faço esse registo dos sítios, que não é aliás o que mais me interessa. Mas o modo como relaciono as coisas e como essa relação se traduz em gestos. Esse é um património que registo na memória corporal e visual e que, depois, uso no fabrico dos quadros.» (Nunes, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 10 mai. 2006, p. 11)

O método de pintar por etapas de João Queiroz foi um dos aspetos mais salientados pela imprensa. Num artigo para a revista de arte ibérica Arte y Parte, Sandra Vieira Jürgens enumera as três fases do processo de trabalho de Queiroz: a primeira, de registo naturalista da natureza e de gravação das sensações físicas vindas do contacto com o mundo natural; a segunda, constituída pela pintura a aguarela do mesmo motivo, esbatendo-o e distanciando-o já do registo inicial; e, finalmente, a terceira fase, em que os anteriores registos são interpretados a óleo, sem, no entanto, subjugarem o produto final – este, por não pretender a mimetização da paisagem, recria e revela o conjunto de sensações vividas e experienciadas aquando do encontro do artista com a natureza (Jürgens, Arte y Parte, abr. 2006, p. 134).

Segundo o comissário da exposição, o resultado são pinturas que configuram «campos de cor onde se inscrevem traços (pinceladas, para usar maior precisão), aparentemente de aplicação súbita e espontânea, como se se tratasse de estudos e dimensão pouco usual. Como se o artista procurasse através da rapidez da execução afastar as inevitáveis marcas de uma pintura plena de saber, reflexão e tempo» (João Queiroz. Pintura, 2006, p. 7).

Esta aparente espontaneidade é, contudo, contrariada pelas marcas que as etapas do processo de trabalho deixam nas pinturas finais, e que, visando criar algo novo, geram uma rutura: «cortar com o mundo para o poder recriar» (João Queiroz. Pintura, 2006, p. 8).

A resistência em reproduzir de forma mimética a natureza levou a que João Queiroz apresentasse um conjunto de trabalhos que tendem para a abstração, mas que não se definem como abstratos, já que neles se reconhecem as formas de riachos, árvores e caminhos, em cenas ritmadas pela impressão dos gestos e da aplicação de cor. Por outro lado, tornava-se impossível para o visitante fazer a ligação entre as pinturas e o seu referente externo, já que o objetivo não era o retrato realista da natureza, mas a representação da «experiência sensorial e emocional de imersão na natureza, partindo da identificação com esta para algo de transcendente ou desconhecido» (Pomar, Expresso, 17 jun. 2006, p. 44).

 

De um modo geral, o conjunto pictórico foi visto nos media nacionais como uma inovadora abordagem ao tema da paisagem, algo que, nas palavras de Jorge Molder, permite «compreender com pleno sucesso que voltar ao mesmo pode não ser sinónimo de repetição e tornar-se mesmo uma forma radical de inovação» (João Queiroz. Pintura, 2006, p. 8).

Complementando o material fotográfico existente, a descrição do espaço por Alexandre Pomar regista a exposição para a posteridade: «Na galeria do CAM mostram-se seis telas de grandes dimensões que se reconhecem como pinturas de paisagem – mas detém-se esta identidade no limiar do reconhecimento, como janelas abertas para algo de indizível. Nos 190 × 250 cm do seu formato, a horizontalidade convencional interrompe-se no corte abrupto de uma secção que torna mais notória a indeterminação de qualquer itinerário espacial, sem solo nem linhas do horizonte, ao mesmo tempo que o irrealismo da cor sublinha a dificuldade de nomear volumes ou objectos.» (Pomar, Expresso, 17 jun. 2006, p. 44)

A inauguração da exposição de João Queiroz teve lugar a 11 de abril e contou com a presença do artista, de Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da FCG, Teresa Gouveia, administradora da FCG, e Guilherme d'Oliveira Martins, à época presidente do Tribunal de Contas.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

S/ Título

João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1384

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1385

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1387

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1388

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1389

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1386

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1384

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1385

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1387

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1388

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1389

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João Queiroz (1957-)

S/ Título, 2005/06 / Inv. 06P1386


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Jorge Molder (atrás,ao centro), João Queiroz (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Guilherme Oliveira Martins (à esq.), Emílio Rui Vilar e Teresa Gouveia (à dir.)
Jorge Molder (à esq.), Guilherme Oliveira Martins, Emílio Rui Vilar e Teresa Gouveia (à dir.)
João Pinharanda (ao centro)
João Pinharanda, Manuel da Costa Cabral, Leonor Nazaré e José Domingos Rego (da esq. para dir.)
Jorge Molder (à esq.) e Teresa Gouveia (à dir.)

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00555

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, orçamentos e apólices de seguro. 2006 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 108482

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 116507

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2006


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