A partir de “ZOO&lógica, Instalação a Habitar por Coreografias” (1984), de Paula Massano
“Consideremos o universo. Estranho, fascinante, diverso. Consideremos os seus movimentos: impercetíveis, infindáveis. Tanta harmonia! Imaginemos o bailarino executando gestos. Depois de cada movimento, os movimentos; cada ponto da linha imaginária dos movimentos efémeros; a ele se junta outro bailarino, e outro, e outro ainda. Já não é uma imagem solta, é um espaço imagético, indescritível. O espaço vazio ornamenta-se, (a casa), de objetos que são só objetos. Por isso, fantásticos. A aritmética, a primeira ciência, a primeira medida, vem da palavra ritmo. O ritmo ajusta a medida exata das coisas, dos objetos, dos movimentos, dos bailarinos que ciclicamente produzem a festa, da casa. A festa é sempre social, quer dizer, indefinível, indemonstrável, inadiável, contagiando centriptamente, com as suas leis. Desconhecidas?! Experimentemos! O universo, esse, continua a expandir-se infinitamente.”
— António Pinto Ribeiro, segundo Clarice Lispector, Zoo&lógica, 1984
ZOO&lógica, Instalação a Habitar por Coreografias, de 1984, foi um gesto artístico precursor do que viriam a ser, anos mais tarde, as aberturas e experimentações da Nova Dança Portuguesa. Impulsionado pela coreógrafa Paula Massano, que convocou cúmplices como Margarida Bettencourt, Ana Rita Palmeirim, Filipa Mayer e Gagik Ismailian (na altura membros do Ballet Gulbenkian), António Pinto Ribeiro (texto), Nuno Carinhas (espaço cénico), Constança Capdeville e Carlos Zíngaro (música) e Paulo Graça (desenho de luz), teve lugar na galeria Os Cómicos, em Lisboa, e resultou de um processo colaborativo ancorado em estratégias de improvisação, atualizando, em Portugal, propostas da dança pós-moderna norte-americana.
Quase quarenta anos depois, usando partituras, gravações áudio e uma filmagem, Margarida Bettencourt e Ana Rita Palmeirim regressam a ZOO&Lógica num processo que envolve a participação dos alunos da Escola Superior de Dança e a intervenção de Nuno Carinhas, Carlos Zíngaro e Paulo Graça. Em causa está a reativação das operações que ZOO&lógica propôs.
Inserida na programação do ciclo dança não dança, a performance é seguida de uma conversa com os artistas, moderada por Maria José Fazenda. O mesmo bilhete dá acesso à performance e à conversa.
Ana Rita Palmeirim (1955, Lisboa) ingressou na Escola de Dança do Conservatório Nacional em 1973, onde fez as suas primeiras experiências coreográficas. Dançou com o Ballet Gulbenkian (1975-94), coreografando em alguns Estúdios Coreográficos. Participou em projetos independentes como Vamos Satiar, Tanza Variedades, ZOO&lógica, e 1º Encontro dos Peixes, e coreografou obras para público infantil.
Margarida Bettencourt (1962, Joanesburgo) é bailarina-coreógrafa, professora e terapeuta de movimento. Fez parte do elenco do Ballet Gulbenkian de 1980 a 1993. O seu trabalho a solo distingue-se por uma ênfase no corpo como potencial de expressão - desenvolve uma investigação que explora esse potencial como força transformadora, terapêutica e criativa.
Carlos Zíngaro (1948, Lisboa) é músico, compositor e artista visual. Pioneiro, em Portugal, na utilização das novas tecnologias e composição em tempo real, tem desenvolvido extensa prática nas artes experimentais e múltiplas colaborações com alguns dos maiores nomes da nova música internacional, com uma discografia de mais de 60 títulos.
Paulo Graça (1958, Lisboa) começou a atividade de desenhador de luz em 1978, tendo colaborado com os encenadores Ricardo Pais, Carlos Avilez, Jorge Silva Melo, Jorge Listopad e Nuno Carinhas; os coreógrafos Margarida de Abreu, Paula Massano, Olga Roriz, Paulo Ribeiro, Benvindo Fonseca, Vera Mantero, Gagic Ismailyan e Clara Andermatt; e os cenógrafos José Manuel Castanheira, António Lagarto, José Costa Reis, Nuno Carinhas, Jasmim Matos e António Casimiro. Foi Diretor Técnico da CNB de 1996 a 1998 e do Centro Cultural de Belém de 1998 a 2010.
Nuno Carinhas (1954, Lisboa) estudou Pintura na Escola Superior de Belas Artes. Expôs desenhos e pinturas em exposições individuais e coletivas, dirigiu performances. Cenógrafo e figurinista em teatro e dança, cinema e ópera. Encenador de textos de muitos autores nacionais e estrangeiros. Diretor Artístico do Teatro Nacional São João (2009 – 2018).
dança não dança
Este evento insere-se no ciclo de (re)performances, filmes e conversas que constitui o primeiro eixo do programa dança não dança – arqueologias da Nova Dança em Portugal. Saber mais