Ritmo Violento, apresentado pelo Grupo Experimental de Ballet em 1961, terá impressionado “sobre-modo a plateia”, de acordo com as últimas páginas de Problemas do Ballet em Portugal, de Luís de Carvalho e Oliveira. Segundo o autor, ao ovacionar o bailado, o público “vivia o seu fundo anti-racista e contrário a discriminações, a lutas de raças, propenso a uma paz de progresso e de bem-estar para brancos e para negros”.
Em plena Guerra Colonial, a estreia do Grupo Experimental de Ballet, do Centro Português de Bailado, incluía uma peça de matriz urbana, ao estilo de West Side Story, em que se retratava criticamente um caso de segregação racial, com um dos bailarinos em blackface e recorrendo a música rock‘n’roll gravada e amplificada.
Desta peça sobreviveu um pequeno excerto gravado para o Noticiário Nacional, encontrado nos arquivos da Cinemateca, a partir do qual André Cabral desenvolve Ritmo/Violento, bem como da música de Johnny Mandel e das críticas da época colocadas ao escrutínio de um pensamento crítico sobre o passado colonial e formas de representação de corpos negros.
Este excerto de Ritmo Violento é também incluído no filme Um Corpo que Dança (2022), de Marco Martins, que será exibido no mesmo dia e estabelece uma relação entre a história do Ballet Gulbenkian e a história do Portugal recente.