Requiem de Fauré
Coro e Orquestra Gulbenkian / Hannu Lintu
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Data
Local
Grande Auditório Fundação Calouste GulbenkianIntervalo de 15 min.
Coro Gulbenkian
Orquestra Gulbenkian
Hannu Lintu Maestro
Cecília Rodrigues Soprano
André Baleiro Barítono
Lili Boulanger (1893 – 1918)
Pie Jesu
Composição: 1918
Duração: c. 5 min.
Irmã mais nova da lendária pedagoga Nadia Boulanger, Marie-Juliette Olga Lili Boulanger foi uma compositora de requintada visão artística e idioma musical singular, condensados num valioso conjunto de obras escritas entre 1911 e 1918. Nascida no seio de uma família com ligações privilegiadas ao meio erudito parisiense, onde Fauré, Massenet, Ravel, Saint-Saëns e Widor eram visitas assíduas, Lili Boulanger frequentou o Conservatório de Paris, onde estudou com Paul Vidal, Georges Caussade e Gabriel Fauré. Epítome da femme fragile, atormentada por uma doença crónica desde tenra idade, foi a primeira mulher a ser galardoada com o cobiçado Premier Prix de Rome, em 1913, com a cantata Faust e Hélène, ex aequo com Claude Delvincourt, o que lhe valeria um proveitoso contrato da editora Ricordi e uma estadia em Roma, encurtada pelo eclodir da I Guerra Mundial.
De acordo com as Mémoires de Nadia, o Pie Jesu foi-lhe ditado por Lili, já acamada e a poucos dias da sua morte. Escrito para soprano, quarteto de cordas, harpa e órgão, baseia-se no andamento homónimo do Requiem de Fauré, parcialmente citado na melodia vocal. Linhas cromáticas ascendentes e descendentes, no órgão, marcam o tecido contrapontístico, bem como os lamentos pungentes confiados aos instrumentos de cordas, de grande complexidade harmónica. Pressente-se um abandono inelutável até aos compassos finais, aí repousando, tranquilamente, sobre a palavra Amen.
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Requiem, em Ré menor, op. 48
1. Introït et Kyrie
2. Offertoire
3. Sanctus
4. Pie Jesu
5. Agnus Dei
6. Libera me
7. In Paradisum
Composição: 1887-88 / 1893
Estreia: Paris, 16 de janeiro de 1888
Duração: c. 36 min.
Pedra angular da renovação da música litúrgica francesa na transição para o séc. XX, o Requiem de Gabriel Fauré foi escrito entre 1887-1888, em cinco andamentos: Introït et Kyrie, Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei e In Paradisum. Nos anos subsequentes, a obra seria revista, tendo o compositor acrescentando o Offertoire, com a secção Hostias, e o Libera me, originalmente delineado em 1877.
Contrariando o estilo então em voga, o lirismo do bel canto italiano e a imponência estrutural e harmónica da tradição sinfónica alemã, Fauré idealizou um universo pautado por uma vocalidade de inspiração gregoriana, e uma textura orquestral intimista, com um panejamento harmónico de pendor impressionista.
A escuridão silábica dos primeiros compassos do Introït floresce na frase et lux perpetua [e a luz perpétua], sublinhando a importância simbólica da morte enquanto passagem para a vida eterna. A melodia seguinte, entoada pelos tenores, é retomada pelo coro, no Kyrie.
O Offertoire invoca, por três vezes, Cristo, metáfora da Santíssima Trindade, num cânone apenas interrompido pela negritude harmónica sobre as palavras de poenis inferni [das penas do Inferno]. O Hostias é confiado ao barítono sobre um acompanhamento instrumental de contraponto ondulado. A invocação inicial é retomada pelo coro, em crescendo harmónico, culminando num radiante Amen.
O Sanctus espraia-se sobre um ostinato da harpa, sobre a repetição das frases melódicas femininas pelas vozes masculinas. O brevíssimo Hosana, em aparente explosão dinâmica retrocede bruscamente, retomando o ambiente etéreo inicial. O andamento central, Pie Jesu, para soprano solo, é sereno e contemplativo, súplica para que os mortos possam receber o descanso eterno.
Segue-se o Agnus Dei, com dois expressivos temas, nos tenores e na orquestra, com interjeições corais de pendor dramático. Num gesto de pura magia musical, os sopranos entoam a palavra lux [luz], seguindo-se uma progressão melódico-harmónica de grande emotividade. Fauré recupera os compassos iniciais do Introït, terminando com a melodia pastoral da abertura, bálsamo de esperança e tranquilidade.
Os dois últimos andamentos são profundamente contrastantes. O Libera me, compassado, em que o solo suplicante de barítono dá lugar a um vislumbre do Dies irae, seguido da recapitulação da melodia inicial, desta feita pelo coro, e o In Paradisum, melodia diáfana dos sopranos, comentada pelo coro masculino, de pendor conclusivo.
Perante a crítica de que o seu Requiem era “uma canção fúnebre de embalar”, Fauré responderia: “Mas é assim que eu vejo a morte, uma entrega feliz, uma aspiração à felicidade celestial”.
Notas de José Bruto da Costa
Guia de Audição
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Por Alain Galliari (em Francês) -
Por Alain Galliari (em Francês)