“Depois desse dia fiquei vazio. Esvaziado. Ou desaparecia (e só não o fiz porque não sabia) ou enchia este corpo com qualquer coisa. E foi o que fiz. Enchi-o comigo mesmo.”
— João Fiadeiro, Autobiografia. Jornal de Letras, setembro 2007
No âmbito da programação do ciclo dança não dança, esta performance de João Fiadeiro é colocada em diálogo com a performance Enfreakment, de Diana Niepce, apresentada no mesmo dia.
O corpo, habitualmente entendido como medium privilegiado da dança, é também, por isso mesmo, o território das forças sociais que a animam. João Fiadeiro e Diana Niepce, sendo de gerações artísticas distintas e com universos estéticos díspares, têm em comum a problematização do corpo enquanto matéria e veículo, propondo através dos seus trabalhos a experimentação das suas potências e a reinvenção das suas possibilidades.
João Fiadeiro confere ao corpo a capacidade de se esvaziar do sujeito, abrindo a sua significação ao que de relação há com o mundo – o palco, a cena, a sala de estar de uma casa qualquer –, convidando a alargar a perceção do que pode cada corpo e cada coisa. Através da constatação de um corpo-coisa, a obra de ambos questiona a subjetividade política, humana e não-humana, do corpo, atribuindo-lhe materialidades e modos de existir outros, reimaginando também a realidade de onde emergem as suas danças.
No final, os artistas falam sobre estas e outras questões com Paula Caspão (coautora dos textos e da dramaturgia da performance de João Fiadeiro), numa conversa moderada por Carlos Manuel Oliveira.
Imagem © Patrícia Almeida
João Fiadeiro (1965, Paris) pertence à geração da Nova Dança Portuguesa. Em 1990 fundou a Companhia RE.AL, estrutura que produz as suas criações, tendo dirigido o Atelier Real entre 2004 e 2019. Sistematizou a Composição em Tempo Real, ferramenta teórico-prática que o leva a lecionar nacional e internacionalmente. É doutorando no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra e Artista Associado do Fórum Dança.
Paula Caspão (1968, Portugal) é investigadora e docente no Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa. Dedica-se aos campos expandidos da dança, edição, cinema experimental e arquivo, apresentando o seu trabalho internacionalmente. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade Paris Ouest Nanterre, com tese sobre o sensorium da coreografia contemporânea (2010). É autora e editora de várias publicações.
dança não dança
Este evento insere-se no ciclo de (re)performances, filmes e conversas que constitui o primeiro eixo do programa dança não dança – arqueologias da Nova Dança em Portugal. Saber mais