“Enfreakment é uma talk-performance, sob forma de dispositivo multidisciplinar e experimental, que parte da historiografia nacional e internacional do corpo fora da norma nas artes performativas. O corpo dá voz a uma reflexão acerca da genealogia da dança, segundo um olhar atento que permite expor a violência e eugenia exercida sob estes corpos. É urgente compreender a evolução do corpo na história e questionar as políticas que promovem a exclusão.
Existirá sempre o meu corpo e, logo depois, o corpo do outro. Criar um novo corpo e tornar visível o invisível. Presenciar o nosso lugar. Existir num corpo fora da norma é existir num estado de constante revolução. Pensar a dança a partir de um outro lugar. Transgredir a norma e os limites naturais.”
— Diana Niepce
No âmbito do ciclo dança não dança, Enfreakment é apresentada na sequência de e em diálogo com Este Corpo que me Ocupa, de João Fiadeiro. O corpo, habitualmente entendido como medium privilegiado da dança, é também, por isso mesmo, o território das forças sociais que a animam. João Fiadeiro e Diana Niepce, sendo de gerações artísticas distintas e com universos estéticos díspares, têm em comum a problematização do corpo enquanto matéria e veículo, propondo através dos seus trabalhos a experimentação das suas potências e a reinvenção das suas possibilidades. Diana Niepce faz uso da vida autónoma do seu corpo para colocar em jogo estruturas de poder do sujeito em relação a si próprio, e dos sujeitos em relação uns com os outros. Através da constatação de um corpo-coisa, a obra de ambos questiona a subjetividade política, humana e não-humana, do corpo, atribuindo-lhe materialidades e modos de existir outros, reimaginando também a realidade de onde emergem as suas danças.
Após as performances, realiza-se uma conversa com os artistas, Paula Caspão e moderação de Carlos Manuel Oliveira.
*Espetáculo com nudez parcial
Imagem © Alípio Padilha
Diana Niepce (1985, Lisboa) é bailarina, coreógrafa e escritora. Em 2014, a queda de um trapézio deixou-a tetraplégica, obrigando-a a reformular a sua identidade artística. É autora de várias peças, que apresenta por toda a Europa, a par de colaborações diversas. A sua peça Anda, Diana venceu o Prémio Melhor Coreografia 2022 da Sociedade Portuguesa de Autores. É autora dos livros Bayadére e Anda, Diana.
dança não dança
Este evento insere-se no ciclo de (re)performances, filmes e conversas que constitui o primeiro eixo do programa dança não dança – arqueologias da Nova Dança em Portugal. Saber mais