Há um Arco-Íris que nunca sai do céu

Muitas Academias Gulbenkian do Conhecimento trabalhavam com o método Arco-Íris quando a Covid-19 ameaçou este trabalho presencial de aquisição de competências sociais e emocionais. Esta é a história de como as cores resistem, mesmo em tempos de pandemia.
05 jun 2020

Era uma vez um bosque sem-fim – um bosque “muito organizado”, onde todos tinham o seu papel, trabalhavam “em equipa” e tudo funcionava. É neste bosque, que muitas crianças conhecem do livro Os Sarilhos do Amarelo, que ecoa um dia um grito de alerta: “O Amarelo desapareceu, o Amarelo desapareceu!”.

A história que Pedro Rosário conta no seu livro leva os mais pequenos numa aventura em busca de um Amarelo que, “sempre pronto para se meter em trapalhadas”, deixa o arco-íris incompleto. Mas o trabalho do psicólogo da Universidade do Minho vai além disso: a partir da história, são oferecidas propostas de trabalho para ajudar os educadores a promover certas competências (de autonomia e autorregulação) nas crianças.

As sete cores do Arco-Íris são as protagonistas de uma grande aventura e… muitas atividades educativas

No fim do primeiro capítulo, por exemplo, pede-se que cada criança diga se se sente mais como o Vermelho, muito rápido e decidido, se está mais Azul (brincalhão e distraído), mais preguiçoso com o Anil ou forte e corajoso como o Violeta. Entre as atividades propostas, há a exploração do conceito de ordem e arrumação ou a planificação; a explorar da linguagem, o desenho ou até a mímica; há desafios que procuram solução, conversas sobre o medo ou o trabalho em equipa. Também este é um mundo sem-fim. 

Esta ideia de trabalhar competências através de uma história foi publicada no Sarilhos do Amarelo em 2007 e adotada como metodologia de referência por muitas Academias Gulbenkian do Conhecimento existentes no país.

 

Lazer, Aprender, Ajudar, Colaborar

Muitas Academias trabalhavam com as cores do Arco-Íris quando a Covid-19 arredou crianças e educadores deste convívio que é também um trabalho de autoconhecimento e de aquisição de competências sociais e emocionais.

Tal como as personagens do bosque Sem-Fim à procura do Amarelo, Pedro Rosário também não perdeu tempo. Juntou o seu Grupo Universitário de Investigação em Autorregulação da Universidade do Minho (GUIA) e, uma semana depois de fecharem as escolas, nascia no Facebook e no Instagram o Covid-19 em Sarilhos.

Além de “garantir que as crianças continuavam a ter apoio”, era uma oportunidade de ouro para “abrir [o projeto] às famílias, que estariam agora mais disponíveis” para as crianças, explica Pedro Rosário.

Podemos colaborar em casa verificando se as torneiras pingam, ou fazendo uma refeição.
As atividades de lazer (ou desporto) envolvem, muitas vezes, toda a família

Há atividades e desafios todos os dias, no Covid-19 em Sarilhos: desde lanchar com alguém que precise de companhia ou aprender língua gestual portuguesa, a jogar às escondidas em slow motion, verificar se as torneiras lá de casa pingam, tirar o peso dos ombros daqueles que cuidam de nós ou construir uma fantochada. As atividades, que vão buscar as potencialidades de cada cor do arco-íris, dividiram-se por quatro categorias: Lazer, Aprender algo, Ajudar alguém e Colaborar em casa. Às quintas há uma história conhecida, com dicas de conversa entre pais e filhos. 

Oiça Pedro Rosário contar a fábula A Lebre e a Tartaruga neste vídeo na página de Facebook Covid-19 em Sarilhos

Os 42 elementos do GUIA trabalham sete dias por semana, colocando nas redes conteúdos de todos os géneros. Por isso, chegar ao domingo é festejado com um mosaico em que todos celebram a passagem de mais uma semana a dar luta à Covid-19.

 

Brincadeira e muita investigação

O GUIA quer tornar os dias das crianças “mais coloridos, durante esta fase de recolhimento”. Mas por trás desta animação, está todo um trabalho académico na área da Psicologia da Educação.

Veja a animação “Organizar os sentimentos” na página de Facebook Covid-19 em Sarilhos.

O grupo universitário coordenado por Pedro Rosário está interessado em promover competências de autorregulação em crianças e em avaliar se trabalhar uma certa competência tem, depois, impacto na aprendizagem daquela criança. Resumindo, diz Pedro Rosário, “nós [e todas as Academias Gulbenkian do Conhecimento que adotaram esta metodologia] trabalhamos a disposição [de cada criança] para aprender”.

Se o Sarilhos do Amarelo tivesse sido posto em pousio durante o confinamento, se não tivesse sido transformado em Covid-19 em Sarilhos, “se o caos se instalasse, os miúdos não quereriam fazer nada. Desmotivados, os miúdos não avançam – ou, o que é pior, regressam e não percebem”, que é como quem diz, perderam o comboio, que é tudo o que Pedro Rosário e a sua equipa querem combater.

Ao ajudar alguém podemos estar a aprender a fazer um origami
Mas também podemos estar a aprender a planear, executar e avaliar

O GUIA começou por estudar a autorregulação de alunos universitários (num programa baseado n’As Cartas de Gervásio ao Seu Umbigo). Centrou-se depois nos alunos dos 2º e 3º ciclos (foi quando nasceu As Desventuras do Testas). O Sarilhos do Amarelo é irmão mais novo da coleção e é usado com crianças do pré-escolar e 1º ciclo de todo o país (e em muitos outros países também). O Covid-19 em Sarilhos surge “para ajudar as Academias e as famílias, para facilitar o seu trabalho durante o confinamento, para que as crianças continuassem a ter apoio.” Porque, com o GUIA, diz e repete Pedro Rosário, ninguém fica para trás.


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