Sibelius: Sinfonia n.º 1

Orquestra Gulbenkian / Nuno Coelho

A Orquestra Gulbenkian interpreta a Sinfonia n.º 1 de Jean Sibelius, sob a direção do maestro Nuno Coelho.
Rui Cabral Lopes 08 out 2021 39 min

Tanto na sinfonia como no poema sinfónico, o compositor finlandês Jean Sibelius demonstrou capacidades criativas que se renovaram constantemente, em busca de um ideal de sonoridade que fundisse os ecos da música tradicional do seu país natal com as demandas próprias do espírito romântico, sem perder de vista as linhas mestras da tradição musical austro-germânica, das quais foi aprendiz durante o seu período de estudos nas cidades de Helsínquia, Berlim e Viena. Província do vasto império russo desde 1814, a Finlândia apenas conheceu uma expressão nacionalista sólida, no que à música diz respeito, a partir de finais da década de 1890. Sibelius liderou este movimento, com a composição da sua Sinfonia nº 1 e do poema sinfónico Finlândia, op. 26.

Composta entre os anos de 1898 e 1899, a Sinfonia nº 1 detém uma base formal de cunho conservador, fortemente influenciada pelos cânones do classicismo, sobretudo no primeiro e terceiro andamentos. De todo o modo, Sibelius mantém presente um espírito aberto, perscrutador, através do qual transmite às suas texturas um conjunto de traços identitários, essenciais, de resto, para a prossecução, em moldes ambiciosos, do seu restante projeto sinfónico, que conta com mais seis sinfonias de larga escala. É uma obra impetuosa, permeada pela sucessão de patamares expressivos muito distintos e contrastantes, no curso dos quais se cruzam constantemente os sentimentos humanos com as recriações sonoras da grandiosa paisagem nórdica.

Um solo melancólico de clarinete sobressai na introdução lenta que serve de ponto de partida ao primeiro andamento, Adante, ma non troppo. Sobre uma exposição de sonata, a secção Allegro energico faz surgir o tema principal, logo seguido de miríades de motivos melódicos secundários que incitam ao desvio da tonalidade sombria de Mi menor para a tonalidade mais auspiciosa de Sol maior. O segundo tema destaca-se pela sua serenidade, evocadora dos amplos espaços da tundra ártica. O violino assume o protagonismo da secção de desenvolvimento, após o que regressa à textura o segundo tema da exposição, no clarinete.

Uma das melodias mais célebres de Sibelius, misto de lirismo e espírito contemplativo, assoma à superfície do segundo andamento, Andante, na tonalidade afastada de Mi bemol maior. Introduzida pelas cordas con sordina, a bela melodia é retomada pelos clarinetes que a envolvem numa teia de sextas paralelas. Por sua vez, as trompas estabelecem uma atmosfera lendária, reminiscente dos dramas de Wagner (ainda que Sibelius não simpatizasse com o autor da Tetralogia), a qual imerge o ouvinte no mundo do Kalevala – uma saga literário-musical finlandesa de origem incerta, que relata as explorações de três irmãos, habitantes de Kaleva (a terra dos heróis). O andamento encerra com o regresso à textura do tema inicial.

No último andamento, em Mi menor, Sibellius leva a efeito uma síntese abrangente dos componentes temáticos dos andamentos anteriores, sem deixar de acrescentar novos motivos, fortemente característicos, os quais imprimem ao ouvido uma persistente sensação de continuidade e fluidez sonora. A melodia do Andante serve aqui como principal elemento melódico unificador.


Intérpretes

  • Maestro

Programa

Jean Sibelius

Sinfonia n.º 1, em Mi menor, op. 39
1. Andante, ma non troppo – Allegro energico
2. Andante (ma non troppo lento)
3. Scherzo: Allegro
4. Finale: Andante – Allegro molto – Andante

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