“Levam tudo, e estragam tudo”

As mulheres da Ria não querem mais do que proteger o ecossistema em que vivem, na Culatra, e assegurar a sobrevivência da família. Conheça este projeto de participação cívica para a ação climática
24 out 2024 5 min

Vivem na ilha da Culatra, do outro lado da Ria Formosa, entre Olhão e o oceano Atlântico, cerca de mil pessoas. A comunidade, com 200 anos, depende a 90% da pesca e de atividades ligadas ao mar.

Madalena conhece cada centímetro daquela ilha. Boa conversadora, chama cada banco de areia pelo nome – nomes que não vêm nos mapas, mas que se têm perpetuado, passando de geração em geração.  Mariscadora, casada com um pescador, como grande parte dos casais culatrenses, sente diariamente a pressão das 4 000 pessoas que, no verão, “invadem” a ilha, das dezenas de barcos que lá se instalam, com as suas quilhas e âncoras a destruírem as pradarias marinhas daquele ecossistema tão sensível. Vê as formas desregradas como pescadores de outras águas vêm apanhar marisco de arrasto e não se conforma ao ver o seu sustento em risco de desaparecer.

A mariscadora bem pode protestar e lamentar-se, mas a sua voz nem sempre é ouvida. E é aqui que entra Valentina e a Sciaena, Associação de Ciências Marinhas e Cooperação. Apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, esta associação montou o projeto Mulheres da Ria para dar voz aos culatrenses e ajudá-los a criar instâncias formais e informais de troca de informação e de participação comunitária. Tem como objetivos finais criar uma proposta de zona de proteção de área marinha de iniciativa comunitária, respetivo plano de gestão, e implementar um projeto piloto de proteção das pradarias marinhas, que são importantes sumidouros de carbono azul e contribuem ativamente para a promoção do equilíbrio ambiental nos ecossistemas costeiros.

Em paralelo, e porque reconhece a importância destas mulheres como pilares da comunidade, como as primeiras protetoras do ambiente local, “porque são mães”, a Sciaena visa “não apenas proteger o meio, mas também fortalecer a coesão social, capacitando-as e contribuindo para o desenvolvimento comunitário sustentável que respeita e valoriza os seus conhecimentos únicos, promovendo uma abordagem integrada que vai para lá da ação climática.”

Neste projeto, a Sciaena conta com vários parceiros: a Associação de Moradores da Ilha da Culatra, o Centro de Ciências do Mar (CCMAR), a Câmara Municipal de Faro e o OCEAN ALIVE – Cooperativa para a educação criativa marinha CRL.

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