Dvořák: Sinfonia do Novo Mundo
Orquestra Gulbenkian / Gábor Káli
Foi durante o período em que Dvořák assumiu o cargo de diretor do Conservatório de Música de Nova Iorque, com então 51 anos de idade, que surgiu a composição da sua Sinfonia n.º 9, em Mi menor, op. 95, Do Novo Mundo, mais concretamente durante o inverno de 1892 e a primavera de 1893. A estadia de Dvořák nos Estados Unidos da América veio a revelar-se bastante produtiva para o compositor checo, que acabaria por ter o privilégio de ver as suas obras estrearem no também recém-inaugurado Carnegie Hall. Foi o caso desta sinfonia que, em dezembro de 1893, subiu ao palco da mediática sala de concertos, interpretada pela Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, sob a batuta do maestro húngaro Anton Seidl e perante o olhar atento do compositor, que testemunhou a calorosa receção do público a uma obra que no dia seguinte seria descrita pelo New York Evening Post como “A maior obra sinfónica jamais escrita neste país”.
Dvořák assumiu que o seu interesse pelas características da música nativa e afro-americana foram uma forte influência para a composição desta obra, daí a presença de escalas pentatónicas (de 5 notas) ou ritmos sincopados, como é exemplo o tema principal do primeiro andamento. Mas também O Canto de Hiawatha, um poema do escritor americano Henry Longfellow que relata as aventuras de um guerreiro indígena, serviu de inspiração.
O Largo é o andamento mais célebre da sinfonia, inspirado numa cena de funeral na floresta descrito por Longfellow. Um grandioso coral nos metais abre caminho para o corne inglês que apresenta um tema que tem tanto de simplicidade como de beleza e nostalgia. Esta melodia popularizou-se nos Estados Unidos tornando-se a canção Going Home, com letra de William Fisher que havia sido aluno de Dvořák em Nova Iorque.
O Scherzo é igualmente inspirado no referido poema, retratando uma cena de festa na floresta em que os índios dançam. E se o frenesim da dança está aqui bem presente, este terceiro andamento não deixa de manter os traços principais da tradição musical europeia, sendo impossível ignorar a herança dos scherzos de Beethoven, em particular o da Nona Sinfonia, dissipando qualquer dúvida que, no que diz respeito à forma, orquestração, harmonia e contraponto, estamos perante uma sinfonia que na sua essência, e como não poderia deixar de ser, é música europeia.
Com um início vigoroso que ficaria célebre, o último andamento resume os principais temas da obra. Nas páginas finais da sinfonia, o tema Going Home e a melodia do Scherzo reúnem-se com o tema principal deste finale, resultando numa síntese extraordinária de uma obra rica e poderosa cuja popularidade só teve o inconveniente de ocultar algumas das sinfonias anteriores do compositor.
Intérpretes
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Gábor Káli
Maestro
Em abril de 2019, o maestro húngaro Gábor Káli substituiu Iván Fischer, com grande sucesso, à frente da Orquestra do Festival de Budapeste. Recebeu os maiores elogios da crítica e foi efusivamente ovacionado em cidades e auditórios como Budapeste, Elbphilharmonie de Hamburgo, Philharmonie de Paris e Philharmonie Luxemburg, destacando-se como um dos mais promissores maestros da sua geração.
Ao longo da temporada 2022/23, a sua experiência no domínio da ópera leva-o a apresentar-se na Bayerische Staatsoper (A Noiva Vendida de Smetana), na Semperoper Dresden (A flauta mágica) e na Ópera de Graz (Madama Butterfly). Para além da Orquestra Gulbenkian, no domínio orquestral, destacam-se atuações com a Filarmónica de Londres, a Orquestra de Câmara de Lausanne, a Sinfónica de Bournemouth, a Filarmónica Nacional Húngara ou a Filarmónica Janáček (Ostrava).
Atuações recentes incluíram a Orquestra de Paris, a Sinfónica de Viena, a Sinfónica MDR de Leipzig, a Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse, a Sinfónica de Singapura, a Sinfónica da Rádio Nacional Polaca, a Orquestra Nacional de Lille, a Filarmónica de Istambul, a Orquestra de Câmara Escocesa, a Orquestra de Câmara Irlandesa, a Kölner Kammerorchester, a Hong Kong Sinfonietta, a Staatsorchester Stuttgart, a Philharmonie Zuidnederland, a Filarmónica Eslovaca e a Sinfónica Nacional de Taiwan. No verão de 2019 apresentou-se no Festival de Salzburgo com a Orquestra Sinfónica da Rádio de Viena.
Músico de grande capacidade e versatilidade, Gábor Káli dirige regularmente obras contemporâneas e estreias absolutas. É muito apreciado e solicitado pelo seu profundo conhecimento das obras de Béla Bartók, o que o levou a dirigir a Orquestra do Festival de Budapeste em digressão.
Em 2018 recebeu o prestigioso Nestlé and Salzburg Festival Young Conductors Award. No mesmo ano, venceu o Concurso Internacional de Direção de Orquestra de Hong Kong. Em 2015 assumiu as funções de Kapellmeister e Diretor Musical Assistente do Nürnberg Staatstheater, onde dirigiu Wozzeck de Berg, La bohème de Puccini, Da Casa dos Mortos de Janáček, Os Pescadores de Pérolas de Bizet, Arabella de R. Strauss e Otello de Verdi.
Gábor Káli estudou piano e direção na Academia de Música Franz Liszt, em Budapeste. No Fórum de Maestros do Conselho Alemão da Música, participou em masterclasses de Kurt Masur, Colin Metters e Sian Edwards. Recebeu também formação de Péter Eötvös, Bernard Haitink e David Zinman.
Programa
Antonín Dvořák
Sinfonia n.º 9, em Mi menor, op. 95, Do Novo Mundo
1. Adagio – Allegro molto
2. Largo
3. Scherzo: Molto vivace
4. Allegro con fuoco