Exposição-Diálogo vs. Diferença/Diálogo
A Exposição-Diálogo sobre a arte contemporânea na Europa surpreendeu os lisboetas e deu-lhes a conhecer algumas das mais relevantes vertentes da criação artística contemporânea.
Ocupou todos os espaços expositivos do Centro de Arte Moderna – aberto em 1983 -, e ainda as galerias do edifício-sede da Fundação Calouste Gulbenkian, e encerrou em 16 de junho desse ano.
A sua conceção inicial – sob o alto patrocínio do Conselho da Europa – pertenceu ao prestigiado crítico e historiador de arte René Berger, à época presidente de honra da Associação Internacional dos Críticos de Arte, que desejou que esta Exposição-Diálogo fosse a primeira de várias a realizar noutros museus europeus, com outros artistas.
Aos museus participantes pertenceria a produção e a seleção dos artistas e das obras a expor, e para a exposição de Lisboa o Museum Moderner (Viena), o Museum van Hedendaagse Kunst (Gand), a Nationalgalerie Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz (Berlim), a Galleria Nazionale d’Arte Moderna (Roma), o Museum Boymans-van Beuningen (Roterdão), o Moderna Museet (Estocolmo), a Sonja Henie-Niels Onstad Foundations (Oslo) e o Centro de Arte Moderna escolheram cerca de 200 obras de 86 artistas das suas coleções, entre os quais Carl Andre, Joseph Beuys, Francesco Clemente, Lucio Fontana, Gilbert&George, Sol LeWitt, Nam June Paik, Robert Rauschenberg, Gehard Richter e Alberto Burri.
Em paralelo, o ACARTE, de Madalena Perdigão, desenvolveu um estimulante programa dedicado às artes performativas, com espetáculos de teatro – com a apresentação do Teatre de la Claca, do Teatro de Sombras de Lourdes Castro e Manuel Zimbro – música e performances apresentadas por, entre outros artistas, Marina Abramovic/Ulay.
Foi também no âmbito deste programa que ao público português foi dada a possibilidade de tomar conhecimento com as novas tendências emergentes do teatro-dança europeu, com a apresentação do espetáculo O Poder da Loucura Teatral, do belga Jan Fabre, estreado em 1983, na Bienal de Veneza.
Se esta Exposição-Diálogo – primeira e única – foi, com mais ou menos entusiasmo, considerada como um acontecimento importante no contexto nacional das artes, não ficou, porém, isenta de apreciações negativas tanto da parte dos críticos como dos artistas.
A maior contestação recaiu nas escolhas do Centro de Arte Moderna que, talvez pela escassa representação de obras de artistas estrangeiros na sua ainda recente coleção, selecionou apenas obras de artistas nacionais: Ângelo de Sousa, Costa Pinheiro, Júlio Pomar, Jorge Martins, Lourdes Castro e Paula Rego.
Por outro lado, como sublinhou num artigo do Expresso o crítico José Luís Porfírio, com esta escolha o Centro de Arte Moderna “apostou quase exclusivamente em pintura de cavalete”. Contudo, não foi tanto a opção por artistas portugueses, mas a aposta forte na pintura que foi considerada uma visão redutora e pouco representativa do estado da criação artística contemporânea portuguesa marcada, nos anos de festa que se seguiram a 1974, pela experimentação estética que a exposição Alternativa Zero, concebida por Ernesto de Sousa, mostrou em 1977.
E foi Ernesto de Sousa quem organizou uma das diversas exposições coletivas que algumas galerias lisboetas apresentaram sob o signo da Exposição-Diálogo. Intitulada Diferença/Diálogo, a exposição aconteceu no espaço da Cooperativa Diferença Comunicação Visual, de que Ernesto de Sousa foi um dos fundadores (em 1979), com Helena Almeida, Irene Buarque, José Carvalho, José Conduto, Monteiro Gil, António Palolo, Fernanda Pissarro, Maria Rolão e Marília Viegas.
O longo título – Diálogo in-diferente sobre a arte contemporânea ou as distracções do poder – do curto texto de Ernesto de Sousa para o catálogo deixava adivinhar as suas críticas. Aliás, esse texto é uma espécie de manifesto do que Ernesto de Sousa pensava da representação portuguesa na Exposição-Diálogo: “… estamos num país de memória curta, em que cada sujeito está em grande parte dependente do discurso do Poder (e eu acrescento: não só o Poder do dinheiro, político ou administrativo; mas ainda pior; o Poder dos que sabem ou pensam saber).
Nestes casos, a atividade estética precisamente terá que desdizer, subverter o discurso do Poder, e as suas regras… E não temer ir em busca do inesperado…”.
Dos 19 artistas presentes – Alberto Carneiro, Alberto Picco, Ana Vieira, Artur Rosa, Carlos Nogueira, Eduardo Nery, Ernesto de Sousa, Filipe Jorge, Helena Almeida, Irene Buarque, Joaquim Tavares, Manoel Barbosa Manolo Calvo, Miranda Justo, Monteiro Gil, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Rosa Carvalho e Wolff Vostell – quase todos eram sócios da Diferença e cada um deles foi responsável por uma/duas páginas do catálogo que, generosamente, foi oferecido aos visitantes.
Este catálogo é duplamente importante, pois para além de perpetuar no tempo a exposição, é também um catálogo “de artista”, concebido por alguns dos artistas e editado pela própria galeria, com uma tiragem limitada, sendo que cada exemplar contém intervenções originais de Helena Almeida, Irene Buarque, Joaquim Tavares, Manoel Barbosa, Pedro Calapez e Pedro Cabrita Reis.
Obras da Biblioteca
Uma seleção de livros e revistas, fotografias, catálogos de exposições e outros documentos cujos temas se relacionam com a história da arte, as artes visuais modernas e contemporâneas, a arquitetura, a fotografia e o design portugueses.