Chostakovitch: Concerto para Piano n.º 2
Orquestra Gulbenkian / Andris Poga / Alexandre Kantorow
O Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, op. 102, constitui uma das obras mais conhecidas de Dmitri Chostakovitch. Com uma sonoridade diferente de outras compostas no mesmo período, o próprio compositor referiria ao colega E. Denisov que não considerava a obra possuidora de grandes méritos artísticos, encarando-a sobretudo como repertório que pudesse ser acessível e apetecível a jovens pianistas. A sua atitude, algo defensiva, poderia ter como propósito antecipar possíveis julgamentos ao seu trabalho, várias vezes criticado e censurado no contexto da União Soviética. Nem por isso, como acontecera noutras obras, deixou o compositor de fazer uso de um certo tom sarcástico e cómico que penetra a sua escrita musical de forma original.
Chostakovich compôs o Concerto n.º 2 em 1957, por ocasião do 19.º aniversário do seu filho Maxim, que a estrearia a 10 de maio, ao piano, no Conservatório de Moscovo, sob direção do maestro Nikolai Anosov, marcando o final dos seus estudos de piano. A referência à juventude parece ter trazido boas memórias a Chostakovitch, que surge nesta obra com uma energia revigorada e consciente de como poderia cativar os jovens com uma linguagem mais vibrante. Encontramos nos três andamentos do concerto elementos distintos que exploram ideias e estados de ânimo diferentes.
O primeiro andamento, de feição neoclássica, marcado Allegro, inicia-se com o primeiro tema, de caráter alegre, jovial e brincalhão, apresentado pelo fagote e sucessivos instrumentos, ao qual se junta depois o piano, num crescendo para uma quase marcha frenética, que contrasta com um segundo tema mais melódico, terminando o andamento de forma decidida.
O segundo andamento, Andante, conduz-nos por sonoridades pouco exploradas nas suas obras, com um mundo sonoro que revisita, ou tem como referente, alguns dos andamentos lentos dos concertos para piano e orquestra do classicismo e do romantismo, com uma condução melódica lânguida, lírica e doce, e textura quase meditativa da orquestra.
O andamento final, Allegro, apresenta-se como uma dança plena de vivacidade, com um tema com várias repetições motívicas marcadas pela orquestra. O segundo tema é ainda mais movimentado e vivaz, com uma mudança de compasso, parecendo remeter para uma dança frenética, ao qual se segue uma secção com um toque humorístico, inspirada em alguns exercícios mais mecânicos que os pianistas têm de estudar ao longo da sua formação, como Hanon ou Czerny. A obra termina com uma coda virtuosística, permitindo ao jovem pianista demonstrar o seu domínio do instrumento e terminar de forma brilhante e arrebatadora.
Intérpretes
- Maestro
- Piano
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Andris Poga
Maestro
Andris Poga é o Maestro Principal da Orquestra Sinfónica de Stavanger. Anteriormente foi o Diretor Musical da Orquestra Sinfónica Nacional da Letónia (2013-2021), com a qual continua a colaborar como Consultor Artístico.
Nos últimos anos, dirigiu muitas das principais orquestras da Alemanha, de França, da Itália, do Japão e da Escandinávia. Depois das primeiras colaborações bem-sucedidas, foi de novo convidado a dirigir a orquestra NDR Elbphilharmonie de Hamburgo, a Orquestra do Tonhalle de Zurique, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, a Sinfónica SWR de Estugarda e a Sinfónica NHK de Tóquio, entre muitas outras. Dirigiu também a Sinfónica de Viena, a Filarmónica de São Petersburgo, a Accademia Nazionale di Santa Cecilia, a Orquestra Nacional de França, a Royal Philharmonic, a Filarmónica de Hong-Kong e a Sinfónica de Sydney.
A temporada 2021/22 inclui concertos regulares de assinatura com a Sinfónica de Stavanger e a Sinfónica Nacional da Letónia, para além de colaborações com a Filarmónica de Oslo, a Sinfónica WDR de Colónia, a Deutsches Symphonie-Orchester Berlin, a Orquestra da RAI de Turim, a Sinfónica de Aarhus e a Filarmónica de Monte-Carlo, e ainda estreias à frente da Orquestra Gulbenkian, da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, da Filarmónica de Bergen e de outras orquestras alemãs e escandinavas.
Em 2010, Andris Poga venceu o Concurso Internacional de Direção de Orquestra Evgeny Svetlanov, momento que impulsionou a sua carreira internacional. Entre 2011 e 2014, foi maestro assistente de Paavo Järvi na Orquestra de Paris e, entre 20212 e 2014 maestro associado da Sinfónica de Boston.
Andris Poga estudou direção de orquestra na Academia de Música Jāzeps Vītols, na Letónia, e na Universidade de Música e Artes do Espetáculo de Viena. Estudou também filosofia na Universidade da Letónia.
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Alexandre Kantorow
Piano
Em 2019, com 22 anos, Alexandre Kantorow tornou-se o primeiro pianista francês a receber a Medalha de Ouro no Concurso Tchaikovsky, tendo sido também distinguido com o Grand Prix, atribuído apenas três vezes na história da competição. Começou a apresentar-se profissionalmente muito cedo, tendo-se estreado no festival La Folle Journée de Nantes aos 16 anos. Desde então, tem colaborado com grandes orquestras, incluindo atuações regulares com a Orquestra do Festival de Budapeste e o maestro Iván Fischer, a Orquestra do Teatro Mariinsky e Valery Gergiev, a Sinfónica SWR e Teodor Currentzis, a Staatskapelle Berlin e Antonio Pappano ou a Filarmónica da Radio France e Mikko Franck.
Alexandre Kantorow apresentou-se em recital a solo em prestigiadas salas de concertos da Europa, incluindo Concertgebouw de Amesterdão, Konzerthaus de Viena, Philharmonie de Paris, BOZAR de Bruxelas e Queen Elisabeth Hall. Tocou também em importantes festivais de música como La Roque d’Anthéron, Ravinia, Verbier ou Klavierfest Ruhr. A música de câmara é também um domínio que aborda com grande satisfação.
A temporada 2022/23 inclui uma colaboração com a Staatskapelle Berlin e Lorenzo Viotti, uma digressão com a Filarmónica de Munique e Thomas Hengelbrock, bem como estreias com a orquestra Cameristi della Scala e o maestro Mikhaïl Pletnev, a Sinfónica de Lucerna e Charles Dutoit, a Filarmónica de Montreal e Kent Nagano e a Orquestra da RAI de Turim e Thomas Guggeis. Destaca-se ainda uma digressão europeia de recitais, que inclui a Fundação Gulbenkian, e a estreia do Concerto para Piano de Guillaume Connesson.
Alexandre Kantorow grava em exclusivo para a editora BIS. As suas mais recentes gravações (obras para piano solo de Brahms e Concertos n.º 1 e 2 de Saint-Saëns) receberam o Diapason d’Or em 2022. As duas anteriores gravações (Concertos n.º 3 e n.º 5 de Saint-Saëns e obras para piano solo de Brahms, Bartók e Liszt) foram ambas distinguidas com o Diapason d’Or e Choc Classica of the Year em 2019 e 2020 respetivamente.
Alexandre Kantorow foi laureado pela Safran Foundation e pelo Banque Populaire. Em 2019 foi nomeado “Revelação Musical do Ano” pela Professional Critics Association. Em 2020 foi premiado nos Victoires de la Musique Classique em duas categorias: “Gravação do Ano” e “Solista Instrumental do Ano”. Desde 2022, partilha a direção artística do festival Les Rencontres Musicales de Nîmes com a violinista Liya Petrova e o violoncelista Aurélien Pascal.
De ascendência franco-britânica, Alexandre Kantorow estudou com Pierre-Alain Volondat, Igor Lazko, Frank Braley e Rena Shereshevskaya.
Programa
Dmitri Chostakovitch
Concerto para Piano e Orquestra n.º 2, op. 102
- Allegro
- Andante
- Allegro