Beethoven: Concerto para Piano n.º 3

Orquestra Gulbenkian / José Eduardo Gomes / Maria João Pires

Sob a direção do maestro José Eduardo Gomes, a pianista Maria João Pires e a Orquestra Gulbenkian interpretam o Concerto para Piano n.º 3 de Ludwig van Beethoven.
Luís M. Santos 23 abr 2021 45 min

Uma vez alcançada a afirmação enquanto virtuoso e professor no meio aristocrático vienense, Beethoven embarcava na composição de uma série de obras em larga escala, as quais se destacam na sua produção entre 1800 e 1802, um conjunto de peças ambiciosas e experimentais que anunciam já o novo “ideal sinfónico” que marcaria o seu estilo no período entre ca.1803-1812. O Concerto para piano e orquestra n.º 3, em Dó menor, op. 37, cujos primeiros esboços parecem datar ainda de 1796, foi trabalhado inicialmente em 1799-1800, altura em que o 1.º andamento ficou concluído. No entanto, o compositor regressaria à obra apenas em 1802, concluindo-a no ano seguinte. A sua estreia, tal como a da Sinfonia n.º 2, ocorreu em Viena em abril de 1803, com o próprio autor ao piano, num concerto cujo programa incluía ainda a Sinfonia n.º 1 e a oratória Cristo no Monte das Oliveiras. A obra seria publicada em 1804, mas só em 1809 o compositor acrescentaria a cadência para o andamento inicial.

Tal como é possível observar em várias das obras que antecederam o Concerto n.º 3 no catálogo do compositor, também no caso presente é possível falar de uma relação particular com o modelo de Mozart. De facto, são vários os detalhes que este concerto partilha com o Concerto n.º 24, em Dó menor, K. 491, composto em 1786 mas publicado apenas em 1800. Porém, não se trata da simples emulação de um modelo: Beethoven não só lhe presta o seu tributo, como também procura transcendê-lo, imprimindo a sua marca pessoal em vários aspetos do discurso musical e acabando por produzir, ele mesmo, uma obra que concilia as raízes no século findo com o caráter pioneiro para o século que se iniciava.

O primeiro andamento, Allegro con brio, abre com a apresentação pelas cordas de um tema sóbrio e conciso (claramente reminiscente do congénere mozartiano), desenvolvido por toda a orquestra até que os violinos apresentam um segundo tema contrastante, em Mi bemol maior. Anunciando-se com dramatismo, o solista dá início a uma segunda exposição em que é o protagonista, e depois de uma secção de desenvolvimento a orquestra reafirma o tema principal em fortissimo. O segundo tema surge agora em Dó maior e uma cadência tempestuosa conduz a um encerramento dramático.

Segue-se um Largo em Mi maior, um andamento lírico em que o piano canta com nobreza. Para a sua atmosfera tranquila contribui grandemente a orquestração imaginativa. Por fim, o Rondo: Allegro, pleno de bom humor, rompe em Dó menor com um tema agitado, no piano a solo. Num radioso interlúdio contrastante, em Lá bemol maior, é apresentado um segundo tema, dolce, motivicamente derivado do primeiro. Partindo de Fá menor, a orquestra explora o tema do rondó em estilo fugado, desembocando num breve episódio lírico, agora em Mi maior, baseado no segundo tema. O tema principal regressa e a música caminha para um ponto culminante em Dó maior, momento em que uma breve cadência dá lugar a uma coda altamente espirituosa, que encerra o concerto de modo vertiginoso e triunfante.


Intérpretes

  • Maestro
  • Piano

Programa

Ludwig van Beethoven

Concerto para Piano e Orquestra n.° 3, em Dó menor, op. 37
1. Allegro con brio
2. Largo
3. Rondo: Allegro – Presto

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