Alejandra Rosenberg Navarro

Bolseira Gulbenkian 2016 – Histórias de Impacto

A História de Impacto de uma bolseira, que consegue realizar o mestrado em cinema em Nova Iorque através da bolsa Gulbenkian, e descobre durante este processo a sua paixão pela escrita, trabalho de arquivo e historiografia feminista.
27 out 2023 4 min
Histórias de Bolseiros

Cresci numa pequena cidade perto de Barcelona onde, desde pequena, fui uma ávida leitora. Licenciei-me em Comunicação Audiovisual, na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, curso no qual me apaixonei pelas imagens em movimento.

A minha aproximação a qualquer objeto cultural –seja a uma obra de arte, seja a um romance, a um poema, ou a imagens em movimento– vem do prazer que eu tenho em estabelecer um diálogo afetivo com o objeto em si.

Na licenciatura, aproximei-me também de Lisboa, que foi a cidade onde fui fazer o meu ano de Erasmus, em 2012, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Foi uma cidade que me descobriu e onde me descobri porque me vi rodeada de pessoas, que se tornaram amigos e amigas, que refletiam sobre a arte e sobre a vida de uma forma que eu não tinha visto antes, trazendo perspetivas que passavam pela crítica pós-colonial e feminista.

Foi uma descoberta intelectual fundamental no meu percurso, que me levou a decidir ficar em Lisboa a trabalhar, a conseguir um estágio no Festival IndieLisboa e, concluído o estágio, a trabalhar três anos no Indie- Lisboa, na área de programação e da gestão de cópias, com um uma equipa incrível e com uma oportunidade de crescimento profissional maravilhosa.

Era muito nova, mas de repente, tudo se alinhou para eu fazer algo que não imaginava quando me propus a ir morar para Lisboa. Estou imensamente agradecida ao Nuno Sena e ao Miguel Valverde, que eram na altura os diretores do Festival, e que tiveram confiança em mim.

E esta proximidade do circuito de cinema, da programação cinematográfica, das conversas em torno de cinema e de literatura, colocou-me, a certa altura, perante um impulso interior de continuar o meu percurso académico, a continuar a pesquisa teórica de cinema que já tinha começado na tese de licenciatura. Fiz uma coisa um bocado maluca: candidatei-me a um mestrado de cinema na Universidade Columbia, em Nova Iorque e, contra a ausência total de expetativa perante o que estava a fazer, entrei.

É nesta altura que, formalmente, encontro a Fundação Calouste Gulbenkian, porque informalmente já fazia parte da minha rotina, desde as horas de estudo, de pesquisa e de passeios que lá fiz na altura em que estudei na FCSH. Segunda maluquice: candidatei-me a uma bolsa Gulbenkian, porque de outra forma não teria possibilidade de estudar em Nova Iorque. Fui surpreendida de novo: ganhei a bolsa. E a minha vida e o meu percurso mudaram radicalmente desde o dia em que recebi este sim. A minha gratidão é total à Fundação Calouste Gulbenkian pelo tanto que me permitiu viver.

Aterrei em Nova Iorque em finais de agosto de 2015: a noite estava quente e húmida e o ambiente era denso. A brisa fresca e leve de Lisboa não fazia parte desta ilha. No entanto, o ar pegadiço nova-iorquino também é vivo, excitante e embriagante. Lembro-me de passear pela cidade e de não acreditar quantas pessoas e quantas ruas ainda tinha por conhecer. E, quando chegava à minha casa na rua 135, não podia deixar de olhar pela janela e absorver a movimentação e a sua vida eletrizante.

A oportunidade de fazer o meu mestrado em estudos de cinema na Universidade Columbia teve uma influência imensurável nas decisões que tomei sobre a minha vida. Descobri a minha paixão pela escrita, pelo trabalho de arquivo e pela historiografia feminista. No segundo ano do mestrado, também descobri outro grande amor: o ensino e a honra de poder acompanhar estudantes nos seus processos de aprendizagem, tal como nos processos de olhar para aquilo que os rodeia de novas maneiras.

Enquanto fazia o meu mestrado, revelou-se tudo aquilo que queria fazer com a minha vida. Por isso, comecei, depois, um doutoramento na Universidade de Nova Iorque (NYU). As paixões intelectuais, urbanísticas e pessoais desveladas graças à bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian levaram-me à pessoa que sou hoje: alguém sentada na sua secretária e que, num percurso de cinco anos, aprendeu a ouvir e a entender o caminho para onde o seu corpo a dirigia. Como cantava Judy Garland, “Follow the yellow brick road…”

Série

Histórias de Bolseiros

Desde 1955, a Fundação Gulbenkian apoiou mais de 30 mil pessoas de todas as áreas do saber, em Portugal e em mais de 100 países. Conheça as suas histórias.

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