Afonso e Gonçalo Raposo
Das “engenhocas” ao combate à pandemia
Os gémeos Raposo acabam de terminar o mestrado no Instituto Superior Técnico – Afonso com 20 valores, no curso de Engenharia Biomédica, e Gonçalo com 19, no curso de Engenharia Aeroespacial. Ambos recebiam a bolsa Gulbenkian Mais desde 2015.
Numa conversa via Zoom, a partir da nova casa que partilham em Lisboa, ficámos a conhecer os projetos-tese que desenvolveram e os seus planos para o futuro.
Afonso e Gonçalo explicam o seu percurso nos últimos três anos, dos projetos de mestrado à casa nova em Lisboa
Uma app para combater a Covid-19
“Por acaso o meu percurso de tese [de mestrado] é um bocado interessante”, conta Afonso. Inicialmente, em janeiro de 2020, o tema estava relacionado com o processamento de vídeos de ecografia da carótida para ajudar no diagnóstico de patologias inerentes a esta artéria. Com a idade, e a acumulação de colesterol nas artérias, “muitas pessoas têm placa aterosclerótica na carótida, o que pode causar problemas cardiovasculares, AVC, etc”.
Em março, a pandemia desencadeou outras preocupações, e foi convidado pelo seu orientador a desenvolver uma aplicação para ajudar a combater a Covid-19. O objetivo deste projeto, apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), era criar uma app que facilitasse o processo de monitorização de sintomas fisiológicos dos doentes Covid em confinamento, que atualmente é feito através de chamada telefónica.
Conheça todas as funcionalidades da app e-CoVig, que Afonso ajudou a desenvolver
Assim nasceu a e-CoVig: “uma aplicação que permite que sejam os doentes a tomar a iniciativa de partilhar os seus sintomas, através de questionários e técnicas de medição de sinais vitais”. Esta app pode ser utilizada por pessoas que estão confinadas em casa, mas também está pronta a ser usada em ambiente hospitalar ou em lares de idosos.
Toda a informação registada na app é partilhada em tempo real para uma plataforma online, à qual os médicos ou enfermeiros responsáveis por acompanhar os doentes podem aceder. Estes são também notificados caso se verifique um agravamento dos sintomas do doente.
Na sua tese, um dos temas que Afonso explorou mais a fundo foi a aquisição de sinais vitais através do telemóvel, estando agora a registar a patente da sua maior descoberta: como medir a saturação de oxigénio utilizando apenas a câmara do telemóvel. Esta e outras funcionalidades da telemedicina serão o foco da sua investigação ao longo do doutoramento.
Neste vídeo, Afonso demonstra como medir um electrocardiograma a partir de casa, usando apenas dois sensores e o telemóvel
Do deep learning para os chatbots
A tese de mestrado de Gonçalo “não teve uma aplicação tão prática” como a de Afonso, mas tocou também um tema muito atual. Trabalhando com inteligência artificial (IA), a sua dissertação focou-se no deep learning [aprendizagem profunda], que, explica, “é uma coisa que agora está muito na moda, que usa redes neuronais com uma estrutura muito parecida com o cérebro humano”, para treinar computadores a realizar tarefas como seres humanos.
Os modelos de deep learning criados atualmente – em diferentes áreas como o reconhecimento automático de texto/fala, identificação de imagem, previsões e reconhecimento de padrões – são cada vez mais complexos e dispendiosos, em termos energéticos e financeiros. O seu trabalho passou então por estudar um método mais eficiente e rápido de implementação destes modelos.
Em junho, Gonçalo terá a sua primeira experiência no “mundo dos artigos científicos”, com a apresentação de um paper da sua autoria numa conferência internacional – International Conference on Acoustics, Speech, & Signal Processing.
Gonçalo Raposo conta a experiência de “abandonar o ninho” da família para viver sozinho com os irmãos e explica o seu projeto de doutoramento
Já a sua bolsa de doutoramento é financiada pelo INESC-ID e consiste num projeto para melhorar a resposta de chatbots, programas de IA que se encontram em vários websites e que são capazes de manter uma conversa com um utilizador humano – por exemplo, como forma de apoio ao cliente.
Um caminho percorrido em família
A primeira vez que falámos com os Raposo foi em 2018, quando frequentavam o quarto ano do curso no Instituto Superior Técnico. Desde então, fizeram um semestre de Erasmus, em Itália (Turim e Milão), onde viveram sozinhos fora de Portugal. Três anos depois, estão prontos para embarcar na nova aventura do doutoramento, cheios de projetos e desafios para o futuro.
Em 2018, os gémeos Raposo estavam no quarto ano do Instituto Superior Técnico
Embora o seu período como bolseiros Gulbenkian Mais tenha terminado com o mestrado, a ligação dos gémeos Raposo à Fundação Calouste Gulbenkian permanece. “Estamos completamente ao dispor para retribuir à Fundação toda a ajuda que nos deu”, afirma Afonso.
É o fim de uma etapa e outra que se inicia, com mais uma novidade: a irmã Leonor, no primeiro ano do curso de Cultura e Comunicação na FLUL, também recebeu a bolsa Gulbenkian Mais. Por cá, aguardamos com expectativa os próximos capítulos.
Histórias de Bolseiros
Desde 1955, a Fundação Gulbenkian apoiou mais de 30 mil pessoas de todas as áreas do saber, em Portugal e em mais de 100 países. Conheça as suas histórias.