Reúnem-se neste IV volume das Obras Completas de Miguel Baptista Pereira oito textos, sob o título Antropologia, Linguagem e Comunicação, por ser este tríptico conceptual expressão adequada a uma das mais relevantes linhas de investigação do pensador conimbricense.

O primeiro e conciso texto, «Sobre o Trágico» (1991), versa sobre a experiência trágica, o mesmo é dizer, sobre a experiência demasiadamente humana do homo divisius, capaz do melhor, mas também do pior. Da mesma natureza humana decorrem valores como a liberdade ou a justiça, a beleza ou a piedade, mas dela também podem jorrar pulsões destruidoras como a vingança ou a soberba, a crueldade ou a guerra. É o reconhecimento das possibilidades trágicas da praxis humana que o autor aponta como antídoto necessário contra qualquer fuga «metafísica».

O texto «Retórica, Hermenêutica e Filosofia» (1994) é um precioso ensaio sobre as vicissitudes históricas da razão retórica e um valioso contributo para a sua crítica, num tempo em que o «regresso triunfante da retórica», anunciado por muitos intelectuais, não pôde evitar o confronto com a «idade hermenêutica da razão», desenvolvida por muitos outros.

«A crise do mundo da vida no universo mediático contemporâneo» (1995) integra-se num conjunto de textos do autor cuja motivação é, por um lado, repensar teórica e praticamente o «mundo da vida» e, por outro, fazer a hermenêutica dos perigos que ameaçam hoje a natureza e a humanidade. «À ameaça nuclear, às catástrofes ecológicas e às possibilidades do holocausto genético vindas da Biotecnologia soma-se hoje o perigo do mundo cibernético».

Os textos «Comunicação e Mistério» (1995) e «Filosofia da Comunicação Hoje» (1996) versam sobre um mesmo tema, mas cada um reúne contributos distintos. O último é, provavelmente, o mais explícito contributo do autor para a elaboração de uma filosofia da comunicação, cujos capítulos centrais são o primado da relação, a assunção da corporeidade e a transformação da filosofia da consciência em filosofia da linguagem. Em ambos os textos o autor aborda aqueles que considera os grandes modelos ou paradigmas da comunicação tal como foi pensada no século xx. […] São a noção contemporânea de «comunicação» reduzida a «informação» que quer substituir o ser humano por «máquinas pensantes» e a ideologia da «utopia da comunicação» que são particularmente visadas pela crítica do autor.

(Da nota editorial de Joaquim Neves Vicente)