Colóquio/Letras 194

jan – abr 2017

Futurismo

No ano em que se celebra o centenário de Portugal Futurista, revista efémera cujo primeiro e único número foi apreendido pelas autoridades, a revista Colóquio/Letras vem chamar a atenção para a importância do nosso futurismo.

A palavra ganhou uma aura de escândalo e se não chegou a haver um grupo estruturado e duradouro, como sucedeu em Itália sob o impulso de Marinetti, tal se deveu ao desaparecimento prematuro dos que mais se aproximaram da sua estética: Mário de Sá-Carneiro, que se suicida em Paris em 1916, e Santa Rita Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso, ambos falecidos em 1918. Do que fora o núcleo próximo desse projeto, sobrevivem Fernando Pessoa, que nunca assumiu a etiqueta futurista, preferindo substituir-lhe um original Sensacionismo, e Almada, esse sim “futurista e tudo” até ao fim.

Todo o nosso futurismo se passou quase discretamente entre as duas revistas, o Orpheu de 1915 e o Portugal Futurista de 1917, com emergências pontuais no Algarve, no inesperado suplemento futurista de O Heraldo de Faro, em 1916, e já na década de 20 em Coimbra; mas o pouco que produziu foi compensado pela polémica que logo desencadeou e depois irá prosseguir pontualmente, ao longo dos anos, como documentam por vezes alguns ataques vindos do saudosista Teixeira de Pascoaes ou do presencista José Régio. Mais tarde, serão os próprios Pessoa/Álvaro de Campos e Almada a atacar o antigo chefe do futurismo italiano, Marinetti, recebido em Lisboa, entre outros, por Júlio Dantas, escritor académico que tinha sido o alvo principal do Manifesto Anti-Dantas de Almada.

Nos ensaios aqui publicados apresenta-se um panorama muitas vezes inédito do que foram os protagonistas desse período e o contexto que converteu em “malditos” os nossos modernistas marcados, ou investidos, pela palavra Futurismo. O que também se deve destacar é a coragem com que uma revista portuguesa assume a vanguarda desse início de século XX quando publica, no seu número único, exemplos do que de mais inovador se fazia na época: os poemas de Guillaume Apollinaire e de Blaise Cendrars. A colaboração portuguesa, de Almada a Álvaro de Campos, na literatura, e de Souza­Cardoso a Santa Rita Pintor, nas artes plásticas, era suficientemente escandalosa para ofender os bons costumes, provocando a apreensão da revista. Para isso terá igualmente contribuído a publicação do “Manifesto Futurista da Luxúria” de Madame Valentine de Saint-Point.

Este número, em que contamos com a inestimável colaboração de Helena Almeida, um dos grandes nomes da nossa arte, entre a fotografia e a pintura, revela ainda uma série esquecida de desenhos de anúncios que Almada produziu para a empresa madrilena Cementos Cosmos e que vem alargar o catálogo das suas obras.

 

Sumário

Ficha técnica

Outras Responsabilidades:

Nuno Júdice (dir.)

Idioma:
Português
Editado:
Lisboa, 2017
Entidade
Fundação Calouste Gulbenkian
Dimensões:
170 x 245 mm
Páginas:
288
Atualização em 16 dezembro 2021

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