4.ª

Mediterrâneo. Ambiente e Tradição

Orlando Ribeiro

As margens do Mar Mediterrâneo — esta comprida e ramificada chanfradura que penetra de oeste para leste até ao coração do Velho Mundo — viram muito cedo nascerem brilhantes civilizações, que se sucederam ao longo da História humana, desde os Sumérios até ao Renascimento italiano. Mas, na altura em que o livro foi concebido, parecia que este velho palco humanizado ia adormecendo, pelo seu afastamento dos novos, ou renovados, centros criadores do Norte da Europa, da América e da Ásia. Para eles, transformava-se numa espécie de anexo, fornecedor de mão-de-obra barata e de praias soalheiras para rebanhos turísticos -o que enchia de penosa saudade os estudiosos imbuídos da tradicional formação clássica. Mas, em 2011, quando a atual apresentação do livro saiu com renovadas imagens fotográficas da Terra e da Gente, parecia que outra Primavera ia brotando nos países mediterrâneos. As duras lutas de descolonização e as guerras civis que lhes sucederam em muitos casos, já se consideravam ultrapassadas e alguns países pareciam abrir-se, cheios de esperança, a originais formas de governo e desenvolvimento. Foi assim que pude escrever, na Apresentação, que íamos chegando a “uma altura em que o Mediterrâneo aparece de novo como um foco criativo de profundas transformações sociais” — uma ilusão que os anos mais recentes iam desfazer de modo trágico! Há 60 anos, Orlando Ribeiro lamentava a lenta decadência de uma vida rural milenária. Mas que dizer, hoje, dos horríveis conflitos em que velhos povos, portadores de modalidades diversas da mesma tradição civilizacional e religiosa, se massacram uns ao outros, por serem vítimas de propagandas homicidas. Pior ainda, que dizer da indiferença com que os povos europeus – que acreditam ingenuamente ser os mais “civilizados” do Mundo —, deixam afogar, nas águas límpidas do mar das suas férias, tantos jovens africanos ou asiáticos que teimam em procurar na Europa um precário refugio contra a guerra, contra a perseguição religiosa ou política ou, simplesmente, contra a fome e a miséria. Que a bela imagem, textual e fotográfica, que este livro transmite da parte do Espaço Terrestre que foi mais afeiçoada pela História humana, permita aos leitores entender melhor o Mundo trágico em que vivemos — tal é o desejo de quem quer ainda acreditar numa possível sabedoria humana.

 

(Da nota de apresentação de Suzanne Daveau)


Ficha técnica

Outras Responsabilidades:

Prefácio e edição de Suzanne Daveau

Idioma:
Português
Coordenação editorial:
Fundação Calouste Gulbenkian
Editado:
Lisboa, 2018
Dimensões:
230 mm x 170 mm
Capa:
Encadernada
Páginas:
246
ISBN:
978-972-31-1413-3
Atualização em 07 dezembro 2023

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