Uma exposição que não é uma exposição?

Como expor uma vida que não queria exposição? Como apresentar a história de um homem que não teve um percurso linear? Terá de descobrir por si, em Calouste: uma vida, não uma exposição, uma iniciativa inserida no programa de comemorações dos 150 anos de Calouste Gulbenkian.
19 mar 2019

Como expor uma vida que não queria exposição? Como apresentar a história de um homem que não teve um percurso linear? Terá de descobrir por si, em Calouste: uma vida, não uma exposição, uma iniciativa inserida no programa de comemorações dos 150 anos de Calouste Gulbenkian.

A exposição que pretende mostrar uma vida sem ser uma exposição começa logo de pernas para o ar, da frente para trás. Num conjunto de ecrãs, várias pessoas contam a sua história – ou as estórias de como Calouste acabou por mudar as suas vidas. E mudou como? Através da Fundação com o seu nome, criada por disposição testamentária. É assim que se inicia o percurso, a descoberta do homem que morreu em Lisboa em 1955, deixando a Portugal a sua coleção de arte e a sua fortuna.

Pelo caminho, que começa com um telegrama dando notícia da sua morte, caberá ao visitante encarnar o papel de detetive ou de arqueólogo e recolher peças, vestígios, pistas, interpretar falhas e silêncios para, no fim – e só no fim –, compreender melhor a figura de Calouste Sarkis Gulbenkian. Não será, garante o curador, Paulo Pires do Vale, uma visita impositiva de uma verdade, de uma vida ou de uma biografia. “Caberá ao visitante ter um papel ativo na construção” da ideia que acabará por ter de Calouste, explica. Foi tudo pensado. Começando pelo espaço (a Galeria do Piso Inferior do Edifício Sede), “que se afunda e leva o visitante rumo ao Fundador, às fundações” dessa vida. Sai-se do contexto do senhor Gulbenkian para se entrar no universo mais intimista de Calouste, o homem que apesar de ter sido o mais rico do mundo, sempre fugiu da exposição. “Tinha um lado de reserva, de segredo e recolhimento que não passava por expor-se”. Esta era, portanto, uma “exposição impossível”, explica Pires do Vale. Fazendo das fragilidades forças, o curador optou por pegar nessa “contradição” e utilizá-la “logo no título”.

Usou fragmentos da vida de Calouste, objetos, fotografias, pistas abertas pelos diários e pelas suas cartas, pormenores que podem ser mais ou menos explorados, e deixam a perspetiva daquilo que poderá ter sido Calouste. Com este trabalho, quer criar uma “experiência de espaço, uma experiência intelectual, criativa, emocional, excitar a curiosidade e propor caminhos”, pôr o espectador a pensar, “a pôr em causa a noção de linha do tempo, de causalidade, e deixar espaço para a imaginação” para que, no fim, seja o próprio visitante a “construir a sua própria interpretação” da figura que nasceu há 150 anos e deu nome a uma fundação para o bem da Humanidade.

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