Pode a inovação social “salvar” a Europa?

Reunidos durante dois dias na conferência Novas Perspetivas para a Inovação Social, os especialistas pediram investimento em maior escala na Europa para responder aos desafios sociais emergentes.
06 dez 2017

Reunidos na Fundação Calouste Gulbenkian para a conferência Novas Perspetivas para a Inovação Social, coorganizada com a Comissão Europeia e com o Governo português, os especialistas pediram investimento em maior escala para projetos de inovação social, uma área na qual os responsáveis políticos presentes veem potencial para responder aos desafios sociais que ameaçam o futuro da Europa.

Se há dez anos a inovação social era “uma ideia marginal”, hoje já é um tema que consegue juntar numa conferência mais de 1400 participantes, entre os quais o Presidente da República e o primeiro-Ministro português, dois comissários europeus, três ministros, dois presidentes de câmara (Lisboa e Paris), duas secretárias de estado, vários líderes de organizações da sociedade civil, empreendedores sociais, filantropos, investidores de capital de risco e business angels.

Portugal é um dos sete países do mundo com políticas públicas na área da inovação social e tornou-se um caso de estudo na aplicação de fundos neste domínio, no qual a Fundação Calouste Gulbenkian também tem desempenhado um importante papel como investidor. Na abertura desta conferência, Isabel Mota sublinhou que são muitos os projetos portugueses, hoje amplamente reconhecidos e até com replicação a nível internacional, que contaram com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian desde a primeira hora, quando ainda não era evidente o seu potencial de sucesso. “O risco compensou”, concluiu a presidente da Fundação, reafirmando que a inovação social continuará a ser uma prioridade estratégica, apoiando projetos que promovam o papel das tecnologias na resolução de problemas sociais e o papel das práticas artísticas nos processos de inclusão, mas também o investimento de impacto e as novas lideranças na economia social.

A Fundação Gulbenkian foi assim o local ideal para a realização da conferência Novas Perspetivas para a Inovação Social, “um marco histórico”, nas palavras do Comissário Europeu Carlos Moedas, que veio comprovar que a inovação social entrou definitivamente na agenda política.

 

Uma mudança sistémica

“A estratégia da União Europeia deve ser tornar o investimento de impacto mainstream”, foi a recomendação de Sir Ronald Cohen, um veterano da alta finança e responsável pelo lançamento do primeiro Título de Investimento Social (Social Impact Bond), no Reino Unido, em 2010. “Depois da revolução tecnológica, precisamos da revolução do impacto”, anunciou Sir Ronald Cohen num painel em que todos concordaram ser necessário dar mais escala ao investimento em projetos de inovação social e medir resultados. Falou-se também de uma mudança sistémica: “A inovação social faz parte do mindset das novas gerações”, sublinhou Filippo Addari, especialista na maximização do impacto social de projetos inovadores no espaço público. No mesmo painel, esteve representada a geração “millennial” por Joséphine Goube, 29 anos, que dirige a plataforma Techfugees. “Somos uma geração com consciência social que se sente capacitada para procurar soluções”, disse a jovem empreendedora social, que é desde 2015 consultora da Comissão Europeia para questões de imigração. “Tenho assistido à grande dificuldade que é conseguir um consenso entre os estados-nação sobre os refugiados. Por isso, acho que devemos apostar nos empreendedores sociais que nasceram no Espaço Schengen, que não se consideram de nenhum país, mas sim europeus”. Ouviu-se uma salva de palmas no Grande Auditório.

O tema dos refugiados foi um dos mais presentes ao longo dos dois dias de conferência, tal como o do envelhecimento da população. Em 2060, quase um terço da população da União Europeia vai ter mais de 65 anos, um valor que “é quase o dobro da atual”, lembrou o Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, quando anunciou o lançamento do Prémio Horizonte em Inovação Social (candidaturas até 28 de fevereir0), no valor de dois milhões de euros, para melhorar a mobilidade dos cidadãos mais idosos.

Carlos Moedas afirmou que “a inovação social vai restituir o sentido de propósito à Europa”, uma esperança que ecoou nas intervenções de outros responsáveis políticos, como Jean-Claude Juncker, num depoimento pré-gravado, e ainda no discurso do primeiro-ministro português. António Costa sublinhou que o grande desafio que a Europa enfrenta atualmente é “responder ao medo, à ansiedade e à angústia que tem vindo a alimentar os radicalismos, a xenofobia e a tentação protecionista.” Neste contexto, afirmou, a inovação tem um papel particularmente importante, porque faz a ponte entre a ciência, a criatividade, o empreendedorismo, e as necessidades das pessoas. Porém, sublinhou a ministra Maria Manuel Leitão Marques, “a inovação social não é uma desresponsabilização do Estado”, mas sim uma forma sustentável de resolver os problemas sociais.

No encerramento da conferência, a Comissária Europeia para o Emprego, Assuntos Sociais, Competências e Mobilidade Laboral, Marianne Thyssen, reforçou que a inovação social vai transformar a Europa e vaticinou uma “proteção social moderna” para todos os cidadãos, com o apoio do Parlamento Europeu e dos países membros.

Veja os vídeos de alguns projetos da Fundação Gulbenkian em Inovação Social

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