Apoio às famílias deslocadas em Moçambique
A ONGD portuguesa Helpo trabalha desde 2011 na comunidade de Chinda (Mocímboa da Praia), em Moçambique. Com a crise humanitária que assola o país desde 2019, a associação tem apoiado as comunidades de deslocados através de projetos de educação, apoio alimentar e outros bens essenciais, intervindo também na área da nutrição materno-infantil, com rastreios nutricionais a grávidas e crianças até aos dois anos.
Mas os números de deslocados – quase 800 mil, metade dos quais crianças – não param de crescer e as necessidades são cada vez maiores. Devido às deslocações, a cidade de Pemba teve um aumento de quase 18 % da comunidade escolar, e as escolas têm entre mil e dois mil alunos. “Depois de um ano inteiro sem escola, por causa da Covid-19, à exceção do 10.º ao 12.º, a preocupação era perceber se não ficava nenhuma criança para trás”, afirma Carlos Almeida, coordenador nacional da Helpo em Moçambique desde 2010.
A reintegração na vida escolar foi um novo desafio para a ONGD, que procurou trabalhar com as famílias para perceber quais os seus problemas. “Percebemos que havia fome, as pessoas não conseguiam alimentar os filhos. No bairro urbano de Mahate, as famílias não têm acesso à terra, vivem de apoios e não conseguem levar uma vida normal como nas suas aldeias. Nas outras comunidades rurais, onde a Helpo tem projetos de educação, os problemas são menores. Sentimos que as pessoas ao terem acesso à terra conseguem ter uma vida mais próxima do normal” refere Carlos Almeida. O trabalho passa por caraterizar as pessoas deslocadas e garantir que as crianças têm condições para aprender, porque “de barriga vazia ninguém vai à escola”.
Para além da educação e do apoio alimentar e nutricional, a Helpo trabalha agora numa nova área: os primeiros socorros psicológicos. “O conflito que as pessoas testemunharam continua dentro delas. Grande parte tem traumas dificilmente identificáveis, por terem assistido a situações muito pesadas, como a morte de familiares próximos. A Helpo está a formar ativistas em Cabo Delgado para encaminhar estas situações para o Hospital de Pemba. Apesar de ter dois psiquiatras e quatro psicólogos, as pessoas nem sempre procuram porque nem sabem que têm um problema, que pode ser tratado.”
Apesar das dificuldades em trabalhar num cenário de emergência humanitária, o coordenador nacional em Moçambique sente que Pemba “ainda é uma cidade segura” e mantém a esperança. “Continuamos com muita força. Este trabalho mexe com a organização e com as pessoas. Nem sempre é fácil, mas é necessário e urgente para os beneficiários”.
A Fundação Calouste Gulbenkian concedeu um apoio de emergência, no valor de 80.000€, para ajudar a garantir alimentos a cerca de mil famílias com grávidas e crianças até aos cinco anos e a apoiar a integração escolar das crianças e jovens, nas seis comunidades em que a Helpo desenvolve os seus projetos.