Investir no restauro marinho e na ação climática
As pradarias marinhas e os sapais são ecossistemas vitais para o sequestro de carbono. A sua proteção e restauro, que está sujeita a fortes pressões decorrentes de atividades humanas, potencia a salvaguarda da natureza, do sistema climático e do bem-estar das pessoas. O desenvolvimento de projetos de conservação e restauro destes ecossistemas de carbono azul é fundamental, para garantir o combate às alterações climáticas, à poluição e ao declínio da biodiversidade.
Durante os últimos dois anos, o projeto Gulbenkian Carbono Azul, liderado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com a ANP|WWF (Associação Natureza Portugal, em associação com a WWF) e o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), procurou mapear e caracterizar os ecossistemas de carbono azul em Portugal continental e promover o investimento na sua conservação e restauro.
A Fundação Gulbenkian e os seus parceiros do projeto vão agora investir num estudo de viabilidade, com o intuito de avaliar o potencial de intervenções de proteção e restauro de ecossistemas de carbono azul no Estuário do Tejo, que corresponde a 16% dos ecossistemas de carbono azul de Portugal continental e é um dos estuários mais ameaçados de Portugal. Por esta razão, as salinas em Alcochete (situadas neste estuário) foram identificadas como uma possível área de intervenção. Previsto decorrer até ao final de 2025, o estudo procura analisar o potencial daquela área, no que toca à captura e à retenção de carbono e à proteção da biodiversidade marinha, bem como identificar benefícios complementares, como aqueles que se podem fazer sentir nas comunidades locais.
Este estudo de viabilidade – o primeiro do género em Portugal – incluirá uma componente de investigação científica inovadora, a avaliação de legislação e de políticas públicas, o envolvimento das partes interessadas e o desenvolvimento de um plano de implementação pormenorizado que siga as melhores orientações e práticas internacionais para um projeto-piloto desta natureza.
Apoiar a conservação dos ecossistemas de carbono azul
Ao longo dos últimos dois anos, a iniciativa Gulbenkian Carbono Azul compilou o conhecimento existente sobre o sequestro de carbono proporcionado pelos ecossistemas marinhos e costeiros em Portugal e desenvolveu um roteiro para projetos que promovam a conservação e restauro destes ecossistemas. Além disso, ao contribuir para a incorporação dos ecossistemas marinhos no novo decreto-lei que estabelece o Mercado Voluntário de Carbono em Portugal, a Fundação Gulbenkian e os seus parceiros estão a promover o interesse nacional na proteção destes ecossistemas, vitais para o cumprimento das metas nacionais de biodiversidade e de clima.
As conclusões desta iniciativa podem beneficiar outras organizações que trabalham na conservação marinha – em Portugal e no estrangeiro – fornecendo orientações para o desenvolvimento de projetos de carbono azul que poderão beneficiar tanto a natureza como as pessoas. Os dados e recomendações da primeira fase do projeto estão disponíveis em três relatórios, disponíveis em português e inglês:
O Gulbenkian Carbono Azul identificou cerca de 11.700 hectares de ecossistemas de carbono azul em Portugal continental – compostos por aproximadamente 10 mil hectares de sapais (86% do total de ecossistemas de carbono azul do país) e 1,7 mil hectares de pradarias de ervas marinhas (14%).
O projeto estudou os dez maiores sistemas estuarino-lagunares da costa de Portugal continental, a saber: a Ria de Aveiro, o Estuário do Mondego, a Lagoa de Óbidos, o Estuário do Tejo, o Estuário do Sado, o Estuário do Mira, a Ria de Alvor, o Estuário do Arade, a Ria Formosa e o Estuário do Guadiana.
O Roteiro fornece orientações detalhadas sobre o desenvolvimento e certificação de projetos de carbono azul e esclarece sobre como será possível promover o investimento na conservação e restauro dos ecossistemas marinhos e costeiros em Portugal. Com o apoio de todos os parceiros, a ANP|WWF liderou a elaboração do roteiro e conduziu a auscultação a entidades públicas e privadas nacionais e internacionais sobre o desenvolvimento de projetos de carbono azul em Portugal.
Os Relatórios Científicos oferecem informação pormenorizada sobre os ecossistemas de carbono azul em Portugal continental, a partir de um estudo realizado pelo CCMAR. O segundo volume do relatório apresenta fichas técnicas para cada um dos dez ecossistemas estudados, incluindo a localização, os tipos de habitats e a área que ocupam, os estatutos de proteção a que estão sujeitos, as estimativas de stocks e taxas de sequestro de carbono, a qualidade ambiental, as principais ameaças e potenciais intervenções de conservação e restauro.
O futuro do capital natural azul
Os habitats costeiros e marinhos em Portugal – à semelhança do que tem acontecido no resto do mundo – têm sofrido perdas significativas devido à agricultura, ao desenvolvimento urbano, turístico e portuário, à aquacultura e à produção de sal.
A proteção dos ecossistemas de carbono azul existentes é a medida de conservação mais eficaz na salvaguarda da capacidade destes ecossistemas atuarem como sumidouros de carbono, uma vez que o restauro dos ecossistemas costeiros e marinhos degradados pode ser muito longo. No entanto, este é um investimento imprescindível para inverter a perda de biodiversidade e contribuir para a mitigação e adaptação às alterações climáticas.
Para evitar o declínio de cada sistema estuarino-lagunar ao longo da costa portuguesa, são recomendadas medidas de proteção específicas, como a designação de novas áreas protegidas ou a regulação de atividades humanas que ameaçam estes ecossistemas.
A Fundação Calouste Gulbenkian reconhece a necessidade de combater a perda de biodiversidade e as alterações climáticas de uma forma integrada, e identifica o restauro de áreas marinhas e costeiras como uma “solução de base natural” de elevado potencial para fazer face aos impactos das alterações climáticas, protegendo simultaneamente as pessoas e salvaguardando a biodiversidade.
Além do novo estudo no Estuário do Tejo, o Programa Sustentabilidade da Fundação Gulbenkian – que promove a ação climática e a defesa do oceano para benefício das pessoas e da natureza – está a partilhar outras aprendizagens resultantes do projeto Gulbenkian Carbono Azul e a promover a conservação do oceano em Portugal e no estrangeiro.