Novo estudo apresenta primeiro mapa da investigação nos PALOP
Com o título “MAPIS – Mapping of Health Sciences Research and Funding in Angola, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique and São Tomé and Príncipe”, o estudo, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian e realizado por Tiago Santos Pereira e Hugo Confraria, apresenta a atividade de investigação nos PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) através da identificação de publicações científicas na área das ciências da saúde em revistas internacionais geralmente reconhecidas (indexadas na Web of Science), entre 2008 e 2020, desenvolvidas por investigadores localizados nestes países.
Ao apresentar o primeiro mapeamento das atividades conduzidas pela comunidade médica e de investigação focada nestes cinco países, o estudo pretende reforçar a visibilidade das iniciativas e capacidades de investigação existentes, destacando a sua contribuição para o progresso social e económico; identificar os principais financiadores e líderes científicos nesta área; e ainda promover um maior olhar sobre as perspetivas futuras de apoio à investigação nos PALOP.
Entre as conclusões apresentadas, os autores verificam que houve “um aumento significativo na produção da investigação em ciências da saúde nestes países, particularmente durante a última década”, com Moçambique a destacar-se no que respeita ao nível de produção de investigação.
Por outro lado, os resultados mostram também que grande parte da investigação em ciências da saúde é realizada em associação com hospitais, em articulação com o setor clínico e tendo em conta as necessidades concretas de saúde das populações locais, o que se traduz nos temas abordados pelos investigadores nos diferentes PALOP. “Em Moçambique, a relevância de doenças como o VIH ou a malária reflete-se nos tópicos mais abordados na investigação local, enquanto que em Angola ou na Guiné-Bissau surgem outros tópicos, tais como os relacionados com a parasitose (em Angola) ou com o sarampo (na Guiné-Bissau)”, pode ler-se no relatório.
Por último, o estudo conclui que os investigadores em ciências da saúde nos PALOP possuem uma vasta rede internacional, em que países como os EUA e a Dinamarca assumem um papel de maior relevância enquanto parceiros e financiadores, nomeadamente em Moçambique e na Guiné-Bissau. Em paralelo, os autores salientam ainda a escassez de colaborações internas entre os diferentes países que partilham a língua portuguesa.
Maria Hermínia Cabral, diretora do Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento, espera “que este estudo seja o ponto de partida de um debate mais profundo que permita explorar sinergias e delinear uma estratégia de promoção da investigação em saúde nos PALOP, permitindo diminuir o gap dentro do continente africano”.
“A FCG tem investido no apoio à liderança local de projetos de investigação por cientistas desses países e quis, ao mapear esta informação, fazer um ponto de situação e passar da dedução à evidência”, refere a diretora. “Depois deste mapeamento conseguiremos perceber alguns dos motivos pelos quais a maioria destes países estão afastados dos circuitos internacionais e, assim, ser mais focados e eficazes.”
No dia 27 de setembro, o seminário “Mapeamento da Investigação em Ciências da Saúde nos PALOP (MAPIS): Um estudo das redes de produção científica e de financiamento entre 2008 e 2020” vai apresentar os resultados do estudo, procurando, através de dois painéis com convidados de diferentes áreas e instituições, refletir em conjunto sobre os desafios futuros e a relevância do processo de financiamento da investigação em ciências da saúde, a nível nacional e internacional.
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