Filantropia, que futuro?

No ano em que se comemora o 150º aniversário de Calouste Sarkis Gulbenkian, a Fundação promoveu uma conferência internacional sobre As Novas Tendências da Filantropia.
Rien van Gendt, conferência Filantropia
30 set 2019

Existem no mundo mais de 260 mil fundações; cerca de 75% foram criadas há menos de 25 anos e 44% nasceram já no século XXI. Com estes números, Isabel Mota, presidente da Fundação Gulbenkian, quis salientar, na abertura da conferência, o movimento de transformação filantrópico de longo alcance que está em curso, com novos protagonistas, novas formas de funcionamento e novos instrumentos financeiros.

O movimento está a ser conduzido por novos leaders, oriundos de um mundo tecnológico e digital que está a transformar as dinâmicas na sociedade, um mundo ao qual a Fundação tem dado atenção, usando a nova agenda R&D como instrumento para alcançar os seus fins. As fundações começam a investir em diferentes lógicas de funcionamento e a depender de novas formas de financiamento; Isabel Mota apontou, nomeadamente, para o investimento de impacto (que alia retorno financeiro e impacto social) como uma oportunidade para discutir um novo modelo de capitalismo. A Fundação está atenta a este movimento e a acompanhá-lo a par e passo.

 

Dar, mas também investir

“Se [Calouste Gulbenkian] estivesse vivo, estaria provavelmente aberto a novas realidades”, começou por dizer Rien van Gendt, o consultor sénior do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian que, garantindo total respeito pelo passado, identificou cinco grandes tendências às quais é necessário dar atenção no futuro:

Tendência nº1
Passar do “dar, simplesmente, para a combinação entre dar e investir”. Embora certas situações impliquem doações, noutras, um empréstimo pode promover o empreendedorismo. O retorno social é importante, diz, mas importa não descurar o retorno financeiro.

Tendência nº2
Deixar de financiar projetos para financiar programas mais amplos, com maior sustentabilidade, procurando garantir que “um bolseiro consegue transformar a organização, ao longo do tempo”.

Tendência nº3
Filantropia baseada na evidência. As fundações estão cada vez mais interessadas na identificação das causas e implicações de um problema e menos nas abordagens com base numa “sofisticada forma de intuição”.

Tendência nº4
Trabalhar em parceria com outras fundações e associados, baseando-se na funcionalidade (e não em crenças ou convicções). Permite agrupar recursos e uma abordagem efetiva e holística dos problemas, garante van Gendt.

Tendência nº5
As fundações não podem estar em toda a parte, lidando com uma panóplia de atividades dispersas e muitas vezes sem conexão. Para serem mais eficientes, devem focar a sua atenção na tradução de ideias para programas.

 

Mas mais importante que estas tendências, alertou van Gendt, é o contexto social, económico e político no qual se desenvolvem e que está em constante mutação. Há, alertou, novas circunstâncias e desafios a ter em consideração: a crise migratória, o crescimento do populismo, os nacionalismos, as desigualdades, o conservadorismo religioso, o dilema segurança versus privacidade e liberdade, a sustentabilidade ambiental, a reconfiguração política.

E continuou: “As fundações não podem nem devem substituir-se aos governos. Temos de ser muito mais explícitos em relação às nossas mais-valias. Temos de reconstruir a confiança e demonstrar que, com o nosso dinheiro privado destinado ao bem público, com o nosso potencial para assumir riscos e a nossa independência, temos um papel distinto a desempenhar e que somos transparentes em relação a isso (…) A legitimidade, na minha opinião, será a questão mais estratégica no futuro. A chave é começarmos a ouvir e a envolver as comunidades que dizemos servir”, concluiu.

Ao longo do dia houve muitas intervenções à volta das novas tendências da filantropia, mas todos concordaram que as instituições filantrópicas estão num momento de viragem. Dawn Austwick, do National Lottery Fund inglês, por exemplo, referindo-se ao Brexit e às suas causas, discordou de que a saída da Grã Bretanha da União Europeia tenha emergido como reação à imigração e ao racismo. “Penso que é mais uma questão de perda de esperança, perda de confiança, sentimentos de exclusão, de [as pessoas] se sentirem descartadas.” Migração, populismo, sustentabilidade… o contexto está em permanente mutação. Há pois que ter olho vivo e saber ouvir (e incluir) aqueles que as fundações servem, para saberem acompanhar e agir perante esta realidade em constante mudança em que vivemos.

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