Combater a solidão com uma app
A Ximi nasceu em pouco menos de 30 horas. Estávamos em abril de 2016 e a Fundação Gulbenkian organizava e acolhia o Hack for Good, uma maratona tecnológica em que 36 equipas eram desafiadas a desenvolver, ao longo de dois dias, aplicações para plataformas móveis (apps) e outras soluções informáticas, tendo em mente o envelhecimento ativo da população. Luís Curvelo e Pedro Santos faziam parte de uma dessas equipas. Na base da aplicação que acabariam por desenvolver estava originalmente uma componente ligada à monitorização de dados vitais de saúde dos seus utilizadores, como a tensão arterial e o peso. “Mas depois do feedback que tivemos dos mentores do Hack for Good, logo no arranque da iniciativa, começámos a apostar muito mais na componente da ‘gamificação’ como argumento central”, recorda Luís Curvelo, um dos fundadores da Ximi.
Foi assim que surgiu a aplicação Ximi (o nome deriva da palavra “proximidade”), que pretende combater a solidão e o sedentarismo dos mais velhos, criando dinâmicas de interação e de convívio. Funciona com um conjunto base de utilizadores, com os quais a app interage lançando desafios e desencadeando contacto social entre os utilizadores. Por outro lado, a aplicação tem uma espécie de agenda médica, que pode ajudar na toma dos remédios e nas visitas ao centro de saúde.
“Só precisamos que os utilizadores tenham um canal de acesso, neste caso um smartphone. A partir daí temos de confiar que o interface e a experiência de utilização que oferecemos seja suficientemente simples e ágil para que a aplicação seja usada e para que se comece a gerar aquilo que nós pretendemos, que é, no fundo, tornar as pessoas mais ativas, mais ligadas, em rede e em ecossistema, mitigando a situação de solidão.”
Com lançamento no mercado nacional previsto para junho, a aplicação será gratuita para os utilizadores. O objetivo é que possam acumular pontos que resultem das interações com outros utilizadores para serem trocados por vouchers ou ofertas disponíveis na plataforma através de parcerias, na área da comida saudável, por exemplo. “Embora a solidão seja um problema transversal, que afeta pessoas de todas as idades, estamos atualmente a trabalhar num segmento específico: adultos, ativos, entre os 50 e os 69 anos. Mas temos consciência que poderemos muito rapidamente atingir outros segmentos”, assume o gestor do projeto.
De alpha a beta, até à aceleração
Sobre as razões que levaram a equipa de Luís Curvelo a participar no Hack for Good, o especialista em Marketing e Inovação esclarece: “A magia desta iniciativa é que tinha um tema fechado.
Esperava-se um determinado resultado no final da competição, um produto ou serviço dentro de um segmento específico, e isso é muito interessante.” De resto, a equipa nascida no seio da empresa tecnológica Compta apresentava valências que já estavam experimentadas na área da saúde e do bem-estar.
Depois de verem o seu trabalho validado no Hack for Good (ficaram em 2.º lugar), avançaram para a Web Summit, em novembro, onde entraram como start-up alpha e saíram como beta, “que é um nível acima”, explica Luís Curvelo, traduzindo a linguagem utilizada no empreendedorismo tecnológico. Foram entretanto distinguidos também na Smart City Expo World Congress de Barcelona, e continuaram a fazer contactos, já na perspetiva de terem uma equipa fixa a trabalhar no projeto.
Foi então que surgiu a oportunidade de participarem num dos maiores programas de aceleração na área da saúde da Europa, promovido pela Vertical. É da Finlândia que Luís Curvelo nos fala por telefone, onde irão estar nos quatro meses de duração deste programa para o qual foram selecionados, entre 261 projetos de todo o mundo, apenas 11 finalistas. A partir daqui o projeto ganha outra dimensão e começam a pensar noutros mercados e na internacionalização.
A recomendação de Luís Curvelo para as equipas que participarem no Hack for Good 2017, nos próximos dias 24 e 25 de junho, é que façam o trabalho de casa e levem uma ideia. A próxima edição desta maratona digital será dedicada ao desenvolvimento de soluções tecnológicas que possam melhorar a vida dos refugiados, um tema com grande potencial, na perspetiva de Luís Curvelo. “Podem ser trabalhadas ideias na área da inclusão ou da facilitação de processos”, antecipa. “Se têm uma ideia, o Hack for Good é o sítio certo para a testar. Tem-se acesso a um conjunto de mentores, das áreas da tecnologia, da indústria e do negócio, que podem dar feedback. E as equipas têm de estar permeáveis a este feedback. Porque se estivermos a construir uma coisa para nós próprios, que não toque os destinatários, utilizadores ou clientes, estamos a perder tempo.”
Saber mais