Artista em residência em busca da sua memória

A bailarina, coreógrafa e formadora Elizabete Fernandes, natural de Angola e a viver em Cabo Verde, esteve em Portugal, este verão, para frequentar uma residência artística na Companhia Clara Andermatt, no âmbito do programa de mobilidade internacional de artistas do PROCULTURA, apoiado pela Fundação Gulbenkian.
09 set 2022

Nascida em Benguela, Angola, de onde saiu com 10 anos de idade para São Vicente, Cabo Verde, Elizabete Fernandes é bailarina da companhia Raiz di Polon, onde assume também funções de produção, gestão de espetáculos e desenho de iluminação. Aí, dinamiza igualmente um projeto para formar “uma geração melhor” em Cabo Verde, envolvendo mais de 70 crianças, entre os três e os 14 anos, que frequentam aulas de dança gratuitas.

Nos estúdios da Companhia Clara Andermatt, no Bairro Alto, onde acompanhou, no mês de julho, a produção do espetáculo “Pantera”, Elizabete falou da sua experiência de trabalho com a bailarina e coreógrafa portuguesa. “Aprendo muito nas simples conversas que temos, que me dão um incentivo enorme”. A experiência constituiu uma mais valia não só para a consolidação da sua abordagem ao processo criativo – pela necessidade de conciliar trabalho criativo e artístico próprio e trabalho de produção para terceiros – mas também para a diversificação das suas capacidades no âmbito das artes cénicas.

Para Elizabete Fernandes, a residência artística permite uma mudança de contexto que serve não só de inspiração e motivação, como possibilita conhecer outras realidades, outros artistas e projetos, estabelecer contactos, e até assistir a espetáculos. O trabalho em estúdio permite, também, acrescenta, “um foco e uma concentração que não conseguiria em Cabo Verde”.

Na sua companhia, Elizabete Fernandes tem vindo a trabalhar o conceito de memória, um tema sempre presente na sua vida e que poderá, afirma, “tocar outras pessoas”. Saiu de Angola durante a guerra, com o regresso sempre presente, mas até hoje não conseguiu voltar às suas origens. Os sons, os panos africanos e o barro são alguns dos elementos com os quais Elizabete trabalha na peça que prepara, onde existe uma forte ligação a Angola e à sua história, que diz “estar por resolver”. Mas a arte dá-lhe poder: “sempre que estou em processo criativo, estou em terapia”, afirma. 

Terminada a residência artística em Lisboa, Elizabete regressou a Cabo Verde, onde espera ter a sua peça, ainda sem nome, terminada em dezembro, altura em que será apresentada ao público. 

Em outubro deste ano,  a artista participará ainda na 1.ª Mostra de artistas residentes PROCULTURA, um evento que reunirá, no Mindelo, participantes do concurso de mobilidade de artistas que frequentaram residências fora dos seus países, na área da música e artes cénicas.

O concurso de mobilidade de artistas é uma iniciativa PROCULTURA PALOP-TL, uma ação do Programa Indicativo Multianual PALOP – Timor-Leste e União Europeia, financiada pela União Europeia. É também cofinanciada e gerida pelo Camões, I.P. e cofinanciada pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o objetivo de contribuir para a criação de emprego em atividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste.

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